RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Quarta-feira, Abril 24, 2024

Conto dos Natais Passados, Presentes e Talvez Futuros

Nesta quadra natalícia atípica, sob restrições excepcionais, com os movimentos condicionados e limitações às reuniões familiares, faz sentido, talvez mais do que nunca, recordar os Natais passados e imaginar os que estão por vir. E dar valor aos que estão ao nosso lado, e também aos que não estão, por vários motivos. Cada um terá os seus.

Recuando alguns anos, vá, 5 (meia década), à época de estreia de Jorge Jesus no Sporting (entretanto regressado este ano ao rival encarnado), quando também andava pelos lugares cimeiros, na disputa do campeonato, fomos então prendados por alguns insurgentes neo-exigentes, que resolveram publicitar um célebre cartaz na 2.ª circular, onde atacavam a direcção do Sporting, na pessoa do seu Presidente Bruno de Carvalho, com tiradas que hoje se adequam muito mais à realidade do que então (nem competições europeias, quanto mais Champions. Cérebro? Liderança? Poupança? Pelo amor de Deus…), mas que entretanto deixaram cair em desuso.

Cartaz contra Bruno de Carvalho • DR (30 Dezembro 2015)

Depois de ir à Madeira perder com o União local, a 20 de Dezembro de 2015, saindo da primeira posição da tabela classificativa, entenderam os desestabilizadores que tinham o pretexto para atacar a liderança do Clube. Para azar deles, o Sporting retomou logo a seguir ao ano novo, no clássico em Alvalade com o FC Porto, a 2 de Janeiro, a liderança perdida em vésperas de Natal, continuando a lutar até ao fim por um campeonato que abrilhantou mais que qualquer outro com o seu futebol, que valeu o recorde de mais pontos conquistados de sempre no seu historial – e o acesso à Liga dos Campeões.

Não obstante, Jorge Jesus era então não o Pai Natal ou o Menino sagrado que prendava as crianças bem comportadas durante o ano, carismático guru técnico-táctico do futebol, mas um perigoso rebelde, acusado pelo seu ex-clube (e actual) de “roubo de segredos informáticos” (bases de dados e software propriedade do empregador), e de ter começado a preparação da época no Sporting ainda com contrato por terminar.

Voltariam mais tarde, dessa vez escolhendo não o Inverno para se insinuarem, mas a Primavera de 2018 (já preparada), antecâmara de grandes decisões, véspera de resoluções, onde florescem as aspirações e se prepara a colheita dos frutos do trabalho anual, para evitar que eventuais conquistas novamente lhes impossibilitassem a revolução (ou a golpada) tão desejada e ambicionada. O Menino Jesus já não era um dissidente acossado em toda a Main Stream Media portuguesa, e sim um treinador emblemático, que granjeara até o apoio entusiasta de um Grupo próprio entre as hostes leoninas, de elite, com adereços específicos onde pontificava a sigla característica (o já célebre GAJ).

GAJ no Estádio do Jamor a assistir à Final da Taça de Portugal (20 Maio 2018)

Tal como vimos na final da Taça de Portugal, no rescaldo da invasão à Academia Sporting (e do propalado Cashball, notícia “estrondosa” dessa mesma madrugada), onde o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa ponderava não cumprir o protocolo de Estado caso Bruno de Carvalho, o Insano Ditador, estivesse presente na tribuna (foi neste ano de 2020 ilibado de qualquer acusação, entre as quais as de… “terrorismo” e “autoria moral”).

O mundo dá muitas voltas, que o diga Jorge Jesus. Mas regressemos aos Natais, e à escatologia dos Zeitgeists, antes que nos percamos pelo meio dos anos, às voltas nas suas estranhas e contorcidas entranhas, pródigas em convulsões, desestabilizações e revoluções. Um último exemplo retorcido.

Depois dos cartazes, os panfletos. Presidente do Sporting volta a ser alvo de críticas (11 Março 2016)

Voltemos então aos Natais e à União espiritual que lhes é tão característica, e que é também apanágio da actual direcção presidida pelo anterior director clínico, Frederico Varandas. Este ano uma com distanciamento social, para lá do físico. Ao contrário do que possa parecer, não são exactamente a mesma coisa. Veja-se no Sporting, o distanciamento social imposto pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Rogério Alves, qual especialista em medidas coercivas profilácticas para juntas de salvação associativa, que faz tábua rasa das regras internas e reduz à insignificância estatutos e regulamentos, tornando-os sempre relativos à conjuntura de quem os aplica e à sua conjectura. Congelar o associativismo é o grau (abaixo de) 0 do Clube.

O problema não é manter as distâncias mínimas e ajustar os relacionamentos, excepcionalmente e temporariamente. O problema é querer afastar as pessoas, os sócios do Clube indefinidamente. Aumentar cisões sociais. É uma grande, grande diferença. Uma distância tremenda. Uma gigantesca clivagem.

Pode significar a ausência de recordações de um Natal futuro.

Boas Festas. Até para o ano.

Artigos relacionados