RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Quarta-feira, Maio 01, 2024

Barómetro Audaz VI – A Visibilidade e o Medo de a Perder

A audácia é definida no Dicionário Priberam como um “impulso que leva a realizar atos difíceis ou perigosos”, ou um “comportamento ou atitude que contraria hábitos, costumes ou hierarquias”. Sinónimo de coragem, intrepidez e ousadia na primeira definição, e de atrevimento e insolência na segunda.

Ora, se não é um Sporting assim, audaz, que queremos, o que é que andamos aqui a fazer?


Nem sempre a visibilidade que alguém tem, é diretamente proporcional à sua capacidade de intervir por uma causa. Principalmente no mundo atual em que vivemos, a “fama” está à mão de semear de miúdos e graúdos, muitas vezes com base em coisas absolutamente banais – basta um vídeo viral para se ganhar visibilidade.

No entanto, quando a visibilidade de alguém (seja na televisão, nas redes sociais ou na imprensa escrita) tem origem no seu trabalho nesses mesmos meios, num qualquer projeto levado a cabo pela pessoa, ou pelo seu destaque num qualquer posto, é mais natural que se espere que essa pessoa consiga, caso seja do seu interesse, manifestar-se por aquilo em que acredita, ou na defesa de alguma causa (como referido no parágrafo anterior).

Escrevo isto porque acho que vivemos um grande problema relativamente aos Sportinguistas que têm essa dita visibilidade, fora do alcance da maioria dos sócios e adeptos. Não há Leões pela televisão e pelos jornais que sejam capazes de colocar o dedo na ferida, relativamente à gestão danosa que se vive no Sporting Clube de Portugal.

Enojam-me as desculpas para isso que vejo brotar como ervas daninhas num solo malcuidado. Não se podem fazer críticas porque o Sporting vai em primeiro lugar. Não se podem fazer críticas porque isso desestabiliza a equipa. Não se podem fazer críticas porque… não vos convém! Não é mais fácil dizer isso? Nada inibiu certas personagens de salivar enquanto criticavam o anterior Presidente e a sua Direção por motivos muito mais fúteis, em alturas em que o Sporting não só ia em primeiro, como era realmente favorito a conquistar os seus objetivos.

É irritante a dissimulação a que se assiste. Eu, pelo menos, sou aquilo que sou, não me verão a dar cambalhotas consoante me é conveniente, nem com medo de tomar posições porque posso não agradar a alguém. Por exemplo, os textos que escrevo, só os lê quem quer. Quem não quiser, não lê, e quem ler uma vez e não gostar da postura, não lê nunca mais. Agora, claro que isto não é a melhor política se o meu objetivo for agradar ao maior número de pessoas possível, não discriminando quem são os meus “fãs”.

A questão é que eu, enquanto indivíduo, não tenho a tal visibilidade. Sou uma figura irrelevante naquilo que é o Universo Sportinguista, e limito-me a opinar nos canais de que disponho, defendendo aquilo em que sempre acreditei para o Sporting.

Isto leva-me a uma segunda problemática: os poucos Leões que atingem determinada visibilidade nas redes sociais, ou na comunicação social, rapidamente viram a casaca, ou deixam de defender o que defendiam de forma tão veemente. Não é novidade para ninguém que o que não falta por aí são pessoas que são postas de lado por não alinhar com o status quo. Faz-me é confusão que as pessoas prefiram ceder, e falar sobre o que as deixam falar, em vez de se insurgirem contra isso e seguirem o seu caminho de defesa idealista.

Se estou a falar para alguém em particular? Na minha cabeça tenho alguns nomes, mas seria feio da minha parte nomear, num texto escrito sob pseudónimo. Se a carapuça servir a alguém, que esse momento de breve self-awareness sirva para pensar se vale a pena deixar de defender o Sporting dos sócios a que tivemos direito, para alinhar na cantiga para crianças de “Vamos em primeiro lugar – incomodamos muita gente” e outras lengalengas.

O Sporting não incomoda ninguém, enquanto for gerido por quem lá está. Já abordei isto em vários textos, e só acredita que alguém está incomodado com o Sporting, quem tiver começado a ver futebol anteontem.

Quando chegar a altura de pôr o Sporting de lado, e puxar quem se sabe lá para cima, fazem-no com a facilidade com que se sopra uma mosca-varejeira chata, em dia de churrasco. Isto para infelicidade minha, que já tive oportunidade de ver um Sporting que, realmente, incomodava os rivais. Infelizmente, incomodava também muito sportinguista da treta, para os quais é mais importante viver nesta aparência e ilusão, do que sujar as mãos de lama para erguer o Clube ao pedestal que ele merece.

É por estas e por outras, que tenho orgulho em escrever no Rugido Verde que, para o bem ou para o mal, esteve sempre do mesmo lado da barricada. Ergueu-se como uma plataforma de defesa da reposição da verdade no Sporting Clube de Portugal, numa altura em que era quase pecado fazê-lo. Que se insurge contra a Direção incompetente que gere os destinos do Clube. Que não tem medo de apontar o que vai mal na vida financeira do Clube, de apontar a vergonha judicial que foram todos os processos que envolveram o Sporting e a anterior Direção de 2018 para cá.

O que disse em relação a mim, enquanto indivíduo, aplica-se ao Rugido Verde. Quem não gostar, não é obrigado a consumir. Mas os ideais de quem participa não serão nunca moldados pela quantidade de pessoas que não concorda com eles. Aqui não se vira o bico ao prego.

Entendam, de uma vez por todas, que apoiar o Clube não é incompatível com reprovar uma Direção. Larguem a hipocrisia que vos possa fazer crer que alguém que critique a Direção, não quer que o Sporting ganhe. O Sporting está, financeiramente, na miséria. Isso é muito mais relevante que qualquer (muito, muito hipotético) título de futebol. As modalidades vão perdendo força, a estrutura é sustentada em meia-dúzia de criaturas que se preocupam mais em perseguir os sócios, que em apresentar trabalho valoroso.

Defender o Sporting Clube de Portugal não é dizer o que o “povão” gosta de ouvir. Isso é o que os CMs e os Records fazem – falar de futebol, sensacionalizar o que convém, e moldar a opinião pública. O Sporting não é só a equipa sénior de futebol, deixem de fazer disso o único tema da ordem.

Ponham a mão na consciência e defendam o Clube sem medo das represálias. Se não tiverem a tal visibilidade, manifestem-se sem medo nos vossos círculos; se a têm, não se preocupem mais com ela do que com os temas fulcrais da agenda de um Clube que, o mais sorrateiramente possível, caminha para a mediocridade.

Não tenham medo.

Afinal, se ninguém o tiver, como é que eles são capazes de intimidar alguém?

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