RUGIDO VERDE

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Sábado, Abril 20, 2024

A Beleza das SAD’s no Futebol

Eu sei que a linha editorial do Rugido Verde é escrever sobre o Sporting Clube de Portugal e a luta titânica que empreendemos contra o projecto Roquette que tem como objectivo único e final a alienação da SAD leonina a terceiros, a venda do clube.

Mas hoje vou abrir aqui um parêntesis e sair um pouco dessa linha editorial e discorrer um pouco sobre aquilo que são ou foram as SAD’s vendidas e que saíram da esfera dos respectivos clubes/sócios.

Porque acho que é importante demonstrar que esse não é o caminho.

Vitória de Setúbal e Desportivo das Aves, as vítimas mais recentes:

São conhecidos os recentes casos de Desportivo das Aves e Vitória de Setúbal, ou recuando um pouco mais no tempo o mediático caso do Belenenses.

No caso do Vitória de Setúbal a SAD ainda não foi vendida mas está à beira do o ser. O presidente actual, eleito há apenas umas semanas (18/10), colocou em cima da mesa a venda da SAD a uma sociedade gestora de fundos imobiliários chamada FundBox.

Não vou estar aqui a apresentar esta FundBox pois não é esse o objectivo desta narrativa, o caro leitor se quiser pode pesquisar que facilmente encontra informação sobre a mesma, vou apenas dizer que é uma espécie de Apollo em (muito) menor dimensão. Apollo, ring a bell?

Resta aqui dizer que esta opção do presidente actual do Vitória, Paulo Rodrigues, um empresário que em Abril invadiu as instalações da SAD reclamando uma dívida de forma particularmente violenta não tendo recebido em troca a respectiva acusação por terrorismo, tem já um pedido de Assembleia Geral destitutiva por um grupo de sócios que são contra este caminho.

SAD essa que por estes dias está completamente falida não tendo sequer dinheiro para pagar a atletas e funcionários que vivem dias dramáticos a juntar à pandemia de Covid-19. Adivinham-se portanto dias difíceis para o histórico e centenário Vitória de Setúbal que o mais certo é seguir as pisadas do Desportivo das Aves.

Em 2015 o Desportivo das Aves encontrava-se à beira de fechar, dívidas à Segurança Social, às Finanças, a fornecedores. É então que entra em cena uma empresa de capitais chineses chamada Galaxy Believers com sede em Cascais fundada um ano antes e vocacionada para o marketing desportivo. O seu rosto era o Brasileiro Luiz Andrade mas tendo como proprietário o Chinês Wei Zhao (cujo advogado é o nosso bem conhecido Luis Duque).

Wei Zhao, dono da SAD do Aves

Esta empresa compra assim 70% da SAD do Aves sendo que em 2017 adquire mais 20%. São investidos mais de 3 milhões num complexo desportivo na Vila das Aves com financiamento da própria Federação Chinesa de Futebol (algo que nunca se concretizou estando neste momento os terrenos ao abandono).

Em 2018 o Aves consegue a permanência na 1ª liga com muita dificuldade, isto após uma época de enorme investimento mas em que tudo correu mal, passaram pelo clube nessa época três treinadores tendo terminado a mesma José Mota. Foi também o ano em que afortunadamente conseguem vencer a Taça de Portugal beneficiando do atípico final de época do nosso Sporting.

Ainda em 2018 Luiz Andrade abandona o projecto ficando na liderança o verdadeiro dono, o Chinês Wei Zhao. O clube falha a Liga Europa por irregularidades na inscrição para a mesma e o descalabro nunca mais teve fim.

Já neste ano de 2020 certamente que todos se recordam de ler sobre as buscas policiais às instalações da SAD e da residência do seu presidente e ao facto do Aves ter pretendido faltar ao jogo da última jornada da época transacta.

Já para esta época o clube/SAD foi despromovido ao campeonato de Portugal por não cumprir os pressupostos para inscrição nas ligas profissionais. Também a inscrição no campeonato de Portugal falhou não estando clube/SAD a competir actualmente.

Clube de Futebol os Belenenses, a queda de um histórico:

O Clube de Futebol os Belenenses criou a sua SAD em 1999.

Em novembro de 2012 os sócios do clube aprovaram em Assembleia Geral a venda da maioria do capital social da SAD do clube (o proposto a votação comtemplava a venda de 60 a 80%) ao fundo de investimento Codecity Players Investment, liderado por Rui Pedro Soares acabado de sair da Portugal Telecom com uma choruda indeminização nos bolsos (que se bem se recordam esteve envolvido no processo Taguspark suspeito de ter usado dinheiros da empresa, na altura pública, para comprar o apoio de Luis Figo a José Sócrates nas eleições legislativas de 2009).

A proposta de venda foi aprovada com quase 200 votos a favor e apenas 20 contra. Por cerca de 500€ a Codecity de Rui Pedro Soares ficou com quase 52% da SAD dum dos mais emblemáticos clubes lisboetas e até portugueses (primeiro 46% e cerca de um ano depois mais 5% através duma OPA).

Aqui importa referir que foi celebrado um acordo parassocial em que o clube fundador mantinha direitos especiais, como direitos de veto a certas deliberações e direito de recompra unilateral das acções com preço e datas fixadas.

Foi ainda celebrado um protocolo que regulava as relações entre o Clube e a SAD. O Clube mantinha 10% das acções da SAD. Rui Pedro Soares deu inicio às hostilidades contestando este acordo em tribunal, tribunal esse que lhe viria a dar razão em 2017.

Desde então SAD e clube têm andado em guerra constante, com processos em tribunal de parte a parte. O mais mediático é sem dúvida o movido pelo clube para que a SAD não possa usar o símbolo da cruz de cristo e o nome “belenenses”. Em ambos os casos foi dada razão ao clube, a equipa que participa na 1ª divisão tem outro símbolo e outro nome – B SAD.

Rui Pedro Soares com o actual treinador, Petit

Foi dado a conhecer recentemente que esta B SAD tem planos para construir uma sede em Grândola e alterar o seu nome para algo relacionado com “comporta”, isto depois da SAD ter perdido o direito a usufruir das instalações do Restelo em 2018 tendo mudado o seus jogos para o Estádio do Jamor.

O clube, esse, criou uma nova equipa de futebol profissional que disputa as divisões distritais da Associação de Futebol de Lisboa.

Já este ano o clube vendeu os 10% que ainda detinha na SAD ao conhecido advogado Ricardo Sá Fernandes (venda aprovada pelos sócios em AG), ação que motivou forte contestação por parte da Codecity pela voz de Rui Pedro Soares que alega que a venda é ilegal, pelo facto do regime legal das Sociedades Anónimas Desportivas obrigar à participação mínima de 10% por parte dos clubes (fundadores das sociedades).

Um cancro que se espalha:

O caso da B-SAD é talvez o único cuja SAD se mantém independente do clube ainda em alta competição.

Casos idênticos ao do Desportivo das Aves (e provavelmente do Vitória de Setúbal), que despareceram e tiveram de recomeçar do zero são vários. Quem não se lembra por exemplo do Beira Mar, histórico clube de Aveiro que venceu a Taça de Portugal em 1999. A SAD deste foi criada em 2011, em 2013 já estava a ser vendida e em 2014 já estava sob um PER.

Em 2013 a SAD da Olhanense, completamente falida, foi comprada por um investidor Italiano que apesar do investimento não foi capaz de evitar a descida de divisão. Actualmente a Olhanense compete no Campeonato de Portugal.

Enfim, casos destes há muitos, infelizmente, basta pensar que dos estádios construídos para o Euro 2004 quase metade deles não se encontram na 1ª liga, sendo que pelo menos dois estão relacionados com problemas com as SAD’s dos respectivos clubes: Beira Mar e União de Leiria (que em 2014 teve a sua SAD comprada por investidores que se veio a provar terem ligações à máfia russa). E estamos a falar de avultados investimentos pagos com o dinheiro de todos nós.

E porque o problema é global analisemos o caso do Valência:

O Valência é considerado por muitos o 4º grande de Espanha (atrás de Real, Barça e Atlético), é o quinto clube espanhol com mais títulos internos e o quarto com mais títulos externos.

A sua SAD é criada em 1992. Apenas alguns anos depois, em meados dos anos 90, a SAD já enfrentava graves problemas de sustentabilidade financeira. A Fundação Valência CF é fundada em 1995 com o objectivo de ficar com o controlo do futebol da SAD do clube. Ou seja, o clube mal constitui a SAD aliena a mesma a uma entidade fora do controlo dos sócios.

Em 2009 a Fundação Valência, detentora da SAD do Valência Clube de Futebol recebe um generoso empréstimo do banco Bancaixa (aos dias de hoje Bankia) tendo em vista salvar a sociedade completamente afogada em dívidas, sobretudo por intervenção directa do ex presidente Juan Bautista Soler, no cargo entre 2004 e 2008 e devido a um megalómano projecto de construção dum novo estádio e complexo desportivo (lá tal como cá é fácil imaginar a promiscuidade existente entre interesses imobiliários e construção civil, alguém lá, tal como cá, ganhou muito dinheiro com estes negócios que faliram o clube/SAD).

Soler pretendeu, após a sua saída, vender umas dezenas de milhar de acções da SAD ao seu sucessor Vicente Soriano (2008-2009) que pretendia posteriormente vender as mesmas a um grupo investidor de índole duvidosa Uruguaio chamado Dalport. Aqui chegámos ao ponto da Generalitat Valenciana, o nome que se dá ao conjunto de instituições do governo autónomo da região, ter de intervir para que o clube não caísse nas mãos da tal entidade de duvidosa reputação.

No ano de 2009 o banco avança com o empréstimo para salvar o clube mas impõe um conselho de administração liderado por Manuel Llorente (que já tinha estado no clube em vários cargos entre 1995 e 2005). Importa aqui dizer que mais uma vez o governo Valenciano intervém, o empréstimo é aprovado pelo Instituto de Finanças Valenciano.

Em 2013 a Fundação Valência, com natural pressão do governo Valenciano e o Banco Bancaixa (nesta altura já com o nome actual – Bankia, principal credor desejoso de recuperar o seu dinheiro) decidem em Assembleia Geral de Acionistas a venda da SAD, é formada uma comissão para essa venda com elementos de todas as partes interessadas, governo valenciano, fundação e Bankia (os sócios aqui já não eram perdidos nem achados).

Em 2014 o clube é vendido ao magnata de Singapura Peter Lim (70%). Penso que este nome dispensa apresentações e o caro leitor caso pretenda facilmente encontra muita informação sobre o currículo deste senhor e o que ele é e representa no mundo dos negócios.

Este ano de 2020 tem sido pródigo em notícias não muito abonatórias para Peter Lim enquanto dono do Valência, senão vejamos:

  • Em Agosto o Observador publicou uma notícia em que um antigo conselheiro do clube terá apresentado uma queixa contra Peter Lim por corrupção, lavagem de dinheiro e acordos abusivos por parte do acionista maioritário. Jorge Mendes aparece aqui mencionado e processado (ui, quem diria hein? Mundo pequeno este…) por negócios com jogadores ruinosos para o clube com vários clubes, entre eles o Sport Lisboa e Benfica (wait, what? Benfica? Quem diria… querem lá ver a coincidência…).
  • O Jornal Económico presenteia-nos com mais detalhes deste processo, o tal conselheiro – António Sesé – mostra-se devastado com a gestão de Lim que acusa de ter conduzido o clube à perda de quase 100 milhões de euros desde 2013. O mês passado o conselheiro retirou a queixa após um tribunal ter considerado não haverem indícios suficientes para abrir uma investigação. Eu diria que o tribunal em questão deve ser liderado por um qualquer Rogério Alves desta vida…
  • Este defeso o clube, à beira da insolvência, foi obrigado a desbaratar os seus principais activos, o capitão Dani Parejo saiu para o Villareal praticamente a custo zero e o nosso bem conhecido Rodrigo Moreno saiu para o Leeds recém promovido à Primeira Liga Inglesa.
  • Obviamente que tem havido bastantes protestos por parte dos adeptos (agora ia escrever sócios mas, ups…), perante as críticas a filha do senhor Lim reagiu nas redes sociais escrevendo: “Alguns adeptos do Valencia estão a criticar e a falar mal de mim e da minha família. Eles não entendem? O clube é nosso e podemos fazer o que quisermos e ninguém pode dizer nada”. Dói não dói? Pois é, mas esta senhora tem razão…
Peter Lim, a sua filha e as lamentáveis declarações

E o nosso Sporting?

O nosso Sporting continua em pleno PREC. O nosso excelso e digno Rogério Alves ainda não achou por bem responder ao pedido dos sócios para uma, ou até várias, Assembleias Gerais. Os sócios do Sporting não andam a dormir, já perceberam que com esta gente à frente dos destinos do clube o mais certo é acabarmos como o Valência, entregues a um qualquer Peter Lim desta vida.

Em breve a SAD não terá dinheiro para pagar ordenados e sem receitas de bilheteira e com os direitos televisivos todos antecipados como irá ser?

Rogério, Varandas & Companhia que não pensem que são umas vitórias no futebol e um primeiro lugar caído do céu que vão calar a nossa preocupação perante a gestão mais lesiva e danosa que há memória, é compras de 10% de passes de jogadores, é vendas de jogadores por valores inferiores à compra, é flops atrás de flops como Ilori, Borja, Rosier, Eduardo, Dombia, Camacho, Jesé, Bolasie, Sporar, etc.

Assim não há clube que resista, o que vão fazer? Novo empréstimo bancário? Novo empréstimo a um fundo manhoso tipo Apollo? E quando os bancos reclamarem o seu dinheiro? E quando os fundos mafiosos reclamarem o seu dinheiro?

Em primeiro lugar, ou até mesmo em segundo, com o respectivo apuramento para os apetecíveis milhões da Champions, o clube até se torna bem mais apetecível para possíveis investidores. Porque em termos de vendas de passes de jogadores não há ali muito a ganhar, o clube só tem metade ou até menos de praticamente todos os jogadores, as excepções serão obviamente os jogadores da formação. E a esses valores de vendas ainda há que descontar as comissões para o amigo Jorge Mendes e derivados.

Mas a ânsia deles em se livrarem dos sócios é grande, toda a sua animosidade para com os adeptos tem ficado bem patente já desde os tempos de Filipe Soares Franco, que dizia à boca cheia que pretendida um clube sem sócios a intrometerem-se na sua gestão.

Mais recentemente foi Jorge Coelho no evento jet set Sporting com Rumo a defender o fim das Assembleias Gerais no modelo actual – com sócios – sendo substituídas por Assembleias Gerais delegadas.

Henrique Monteiro insurge-se nas suas crónicas na newsletter do Benfica contra os adeptos pouco elegantes e nada educados que frequentam as roulottes, é gente que não é de bem e só vai para os jogos desestabilizar.

Frederico Varandas apelida os adeptos de “escumalha” e manda beijinhos para as bancadas durante as Assembleias Gerais.

Roberto Severo tem o descaramento de vir dizer publicamente que o facto de não poder haver adeptos no estádio tem sido benéfico para a equipa (de futebol).

Roberto Severo, com a máscara colocada incorrectamente

Esta gente não gosta nada de democracia, devem todos ser fãs de Donald Trump, de Vladimir Putin e daquele camarada da Coreia do Norte, o Kim não sei quê. Devem ser daqueles que acham que o povo cheira mal, ainda assim obrigam a malta a descalçar os sapatos à entrada dos jogos, há coisas que não dá mesmo para perceber.

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