RUGIDO VERDE

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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Facções: Vários Géneros de Sportinguistas

Facções, grupos, partidos, tendências, movimentos, claques, podcasts, contas no Twitter, no Facebook, determinadas secções no Estádio de Alvalade, colunas de opinião em jornais chefiados por fulanos com ordens para denegrir e manter ajoelhado o SCP, espaços de comentário em canais de televisão cujas peças sobre futebol são afinadas para empolar este e tramar, claro, o Sporting (o ambicioso, pelo menos, porque o Sporting molengão e indigente – o rival perfeito – tem sempre quem o bajule): de tudo isto há muito no Sporting Clube de Portugal, a instituição mais balcanizada da história do desporto.

Há muito, muito tempo que é esta a realidade que cinge (muitos diriam esborracha) esta instituição fundada há mais de 100 anos, mais precisamente em 1906 (não há algo de mágico nesta data, sentido imediatamente após ler ou pronunciá-la, apesar do bastante que nos penaliza e desilude?).

Dos três grandes do desporto português, o Sporting Clube de Portugal é o único cuja data de fundação comemorada não é uma ficção, uma burla que só aqueles sem dignidade e sem amor-próprio são capazes de consentir. Ora vejamos: o clube presidido pelo mais célebre e mais prezado dos caloteiros portugueses, o tal cujos calotes multimilionários são custeados por quem muitas vezes não sabe como vai pagar as suas contas mensais, não existia em 1904.

Nem o Futebol Clube do Porto, o clube do presidente que construiu uma hegemonia no futebol, nos anos 90, com base em prostitutas e numa colecção de árbitros de profissionalismo pavoroso, em 1893, da mesma forma nenhum historiador afirma que Portugal nasceu em 1096, ano em que o Conde D. Henrique assumiu a governação do Condado Portucalense.

É assim – a abundância de grupos com agendas e lógicas exclusivas, que raramente subordinam a prossecução dos seus propósitos aos interesses do mais importante, o Sporting – desde pelo menos a era João Rocha, cuja presidência os Sportinguistas, dos que conheceram o Sporting dessa época aos que somente conhecem o nome por o terem ouvido bastantes vezes falado nostalgicamente (no meu caso, pelo meu Pai e Avô), hipocritamente recordam com saudade (a verdade, uma que muitos estão em posição de vos contar, é que João Rocha saiu desgastado e deprimido do Sporting, física e psicologamente esgotado, farto até aos cabelos das birras e das hesitações da família Sportinguista: mais um exemplo de um líder corajoso e ferozmente Sportinguista triturado pelas idiossincrasias perniciosas da família leonina).

E há as claques (ou havia). Há os núcleos (um tesouro de Sportinguismo que anseia pela chegada de um presidente que saiba empregá-lo). Há também aquele grupo de amigos que, para afirmar uma autonomia cujo conteúdo os próprios têm dificuldade em esclarecer, se mantém distantes das claques.

Há os que ficam em casa. Há os que nunca visitaram o Pavilhão João Rocha. Os que acham que um Sporting sem modalidades não é uma abominação. Há os Stromp. Os Cinquentenários. Os notáveis. Os brunistas. Os croquetes. Os da terceira via. Os apáticos. Os que só vêem futebol. Os que aplaudem tudo o que se mexe. Os que assobiam tudo o que se mexe. Há, para, como diz o povo, compor o ramalhete, até sócios do Benfica que querem ser presidentes do Sporting (“quando houver eleições”).

Independentemente de tudo isto, podemos, para facilitar a obtenção de um cenário que antecipe o fim desta direcção que tanta simpatia gera nos nossos rivais (é urgente que a oposição a esta direcção convirja; o Sporting não chegará inteiro a 2022), dividir a família leonina em dois grupos, simplificando a análise sem, todavia, a poluir com imprecisões: os Sportinguistas autênticos e os Sportinguistas falsos, ou melhor, os croquetes, os Sportinguistas que o Projecto Roquete (iniciativa amaldiçoada pelo mesmo João Rocha que hoje praticamente todos exaltam…) pariu.

Como distinguir, como traçar entre um e outro uma linha clarificadora? Facílimo: a SAD do Sporting e quem a deve controlar. O tema não é acessório. O momento em que estamos, a direcção que temos, sentencia-o urgente e preocupante. Ele, a forma como o solucionaremos, diz respeito à essência do Sporting Clube de Portugal, à sua natureza (que está nos Estatutos do Sporting, outrora tão importantes, hoje desprezados de modo flagrante). Outra posição sobre a SAD implica aceitar, induzindo-o, o perecimento do Sporting Clube de Portugal.

O exercício de comparar Sportinguismos, infelizmente, melindra muitos (a frase “somos todos Sportinguistas” é tão imbecil quanto perigosa, uma vez que julga irrelevantes as consequências das nossas acções como Sportinguistas, tanto as que ajudam o clube como as que o tramam). Porquê? Não é impossível fazê-lo, muito pelo contrário.

Não temos, nas nossas vidas, melhores amigos e apenas amigos, e depois conhecidos? Temos. Não há glórias, deuses do Sporting Clube de Portugal (Hilário, Damas…), e bons jogadores (André Cruz…)? Não há diferenças entre o Peyroteo e o Liedson? Entre o Inácio e o Boloni? Entre o João Rocha e o Godinho Lopes? A comparação só consterna aqueles que sabem não praticar aquele Sportinguismo que honra os Estatutos do Sporting e aquele tipo de comportamento que é próprio de adepto de um clube fundado para vencer troféus.

O primeiro grupo de Sportinguistas, o dos autênticos, ao qual pertenço de alma e coração, não admite (discutir o assunto é suficiente para o enfurecer) que não seja o associado do Sporting Clube de Portugal o dono de tudo o que envergue o símbolo do Sporting (tudo, do futebol que custa dezenas de milhões à modalidade que custa apenas alguns milhares). O sócio manda. O sócio elege. O sócio destitui. O sócio aprova. O sócio rejeita. Pelo sócio tudo passa, ponto final!

O sócio do Sporting e o Sporting são um. Não é possível divorciá-los. Não há sócio do Sporting sem Sporting, não há Sporting sem sócios do Sporting. Já o segundo tipo de Sportinguista, o Sportinguista traidor, o Sportinguista devorador (metafísica e, de acordo com umas fotografias publicadas no tempo de Godinho Lopes, literalmente) de croquetes, o Sportinguista adulterado, esse Sportinguista aceita, quando não o recomenda como solução para uma crise cujos porquês ele ou desconhece ou não quer mencionar, debater o tópico, está aberto a propostas, endereça convites, regurgita raciocínios toscos, redige textos de opinião carregados de julgamentos vesgos.

A direcção em funções, que na campanha eleitoral foi lisonjeada por todos os apaniguados da doença que José Roquete conseguiu que os sócios entranhassem no SCP, está sobrecarregada deste género de Sportinguistas – inclusive já apareceu no Jornal do Sporting (!!!) um artigo de opinião que dizia que a decisão de vender (leiam prostituir) a SAD cabe aos sócios, algo que é tão disparatado e insultuoso quanto referendar a escravização dos portugueses.

Não, não cabe aos sócios discutir a quem pertence o futebol do Sporting!
A posse do Sporting não é para ser discutida, mas protegida.
A posse do Sporting não é para ser desfigurada, mas conservada.
A posse do Sporting não é para ser debilitada, mas robustecida.
A posse do Sporting não é para ser desconsiderada, mas estimada.
Subjacente ao modo de proceder da direcção em funções, penetrando o seu discurso e determinando as políticas comunicacional e institucional seguidas, está um Sporting como o de Soares Franco, o qual irritou e aborreceu os Sportinguistas com chavões económico-financeiros e encheu o coração Sportinguista com pó.

Há Carlos Barbosa da Cruz (que na sua mais recente representação visual se assemelha a um certo pintor austríaco que se suicidou em Berlim), que há mais de um ano usa o espaço que tem na comunicação social para propagandear o desígnio de um Sporting cujo departamento de futebol é controlado por estranhos (imaginem o Estádio de Alvalade pertencer a alguém que não nos deve explicações!), pontos de vista e argumentos que comentadores benfiquistas têm ecoado desde a intentona de 23 de Junho de 2018 (“o Sporting está muito mal, é preciso vender a SAD para o salvar”).

O sócio do Sporting é, antes de ser dono do clube (uma posição em que, caso contrário não será observada condignamente, as obrigações superam os direitos), o herdeiro dos Sportinguistas que já não estão connosco. É um continuador da coragem, do empenho e do amor revelados no passado por aqueles que já não estão entre nós.

Outros virão, e a esses será outorgado, como outros o fizeram a nós, o seguinte dever: manter vivo e pujante e apto e honesto e autêntico o Sporting Clube de Portugal (cores verde e branco; nome Sporting Clube de Portugal; leão como símbolo; esforço, dedicação, devoção e glória como lema; componente polidesportiva; tão grande como os maiores da Europa como máxima; e o destino da instituição traçado, ou autorizado, por quem é sócio da instituição: estes princípios e atributos não são permutáveis, não estamos autorizados a trespassá-los nem a trocá-los!).

Não basta existir. É necessário fazê-lo de acordo com os pergaminhos do clube, lutando para realizar o sonho dos fundadores, respeitando os estatutos e honrando a memória dos defuntos (a grandeza do Sporting, devemo-la aos nossos pais e avós). O Sporting nasceu para ser grande, mas não nasceu grande. Foi tornado grande – colossal, dono de um museu sem paralelo, clube dos melhores desportistas portugueses de sempre, do andebol ao futsal, do futebol ao hóquei, do ciclismo ao bilhar, o clube dos que para quem vencer e vencer honestamente não são separáveis – pelos nossos antepassados.

Aos do passado temos o dever de dizer: “obrigado por tudo, vou lutar por um Sporting ainda melhor”. Aos do futuro: “deixo-te isto, alcança mais, vence mais!”. Obviamente, naturalmente, vaidosamente: viva o Sporting Clube de Portugal.

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