RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sábado, Maio 04, 2024

Barómetro Audaz II – O Som do Silêncio

A audácia é definida no Dicionário Priberam como um “impulso que leva a realizar atos difíceis ou perigosos”, ou um “comportamento ou atitude que contraria hábitos, costumes ou hierarquias”. Sinónimo de coragem, intrepidez e ousadia na primeira definição, e de atrevimento e insolência na segunda.

Ora, se não é um Sporting assim, audaz, que queremos, o que é que andamos aqui a fazer?


Num mundo que se tornou progressivamente mais ruidoso, escasseiam os momentos de verdadeiro silêncio que o ser humano consegue experienciar. Até no sossego da sua casa, a circulação supersónica de palavras ditas e escritas nos ecrãs onde consome informação, raramente lhe permite passar pelo ritual de introspeção que só se atinge com o sepulcral silêncio do vazio.

Há, no entanto, algumas situações que nos podem fazer implodir num silêncio de tal forma ensurdecedor, que não permite ouvir mais nada à nossa volta. Quando se recebe a pior das notícias, apanhando-nos desprevenidos, e o mundo para durante breves segundos que parecem horas intermináveis. Quando, mesmo rodeados do som arrepiante de vozes que choram e questionam a qualquer divindade o sentido de uma tragédia, o silêncio nos abraça tão apertadamente, que não ouvimos nada.

Foi esse silêncio que experienciaram os entes queridos de Marco Ficini, adepto italiano do Sporting, que foi assassinado por Luís Pina em 2017, nas imediações do Estádio da Luz, quando souberam da tragédia que o destino lhe reservou. Há dias, saiu a sentença a cumprir pelo assassino. Quatro anos. Quatro anos de penitência pelo silenciar de uma vida. Quatro anos que são inferiores aos cinco anos a que alguns participantes no “ataque terrorista” à Academia de Alcochete foram condenados. Quatro anos que, mesmo tendo noção que não há pena que compense uma família pela perda de um dos seus, são quase um insulto à vida que se perdeu.

Marco Ficini

Não conhecia o Marco, não sei se era boa ou má pessoa, nem se seria amigo dele se o conhecesse. Mas tenho muitos amigos, familiares, conhecidos, e ao longo da minha vida colecionei, como toda a gente, algumas inimizades, e a certeza que tenho é que nunca conheci alguém que merecesse perder a vida da forma que o Marco perdeu, vítima de um homicídio bárbaro e cobarde, patrocinado pelo Estado que se criou dentro do Estado português. Sim, porque se houvesse verdadeira intenção de demarcação, não tínhamos sido brindados com: “O que estavam adeptos do Sporting a fazer ao pé da Luz às três da manhã?”

É assustador como se faz sentir tanto silêncio sobre esta situação. Como não há represálias graves para quem mata, mas há para quem (no pior dos casos) agride outra pessoa com um cinto. Como a pirotecnia, ou os insultos e palavrões banais são gravíssimos, mas a alusão, em tom de gozo, à morte do Marco, ou do Rui, são engolidas num tão conveniente silêncio. Um silêncio hipócrita, um silêncio de fazer corar de vergonha quem ainda é humano e tem o mínimo de dignidade, honra e valores num país completamente podre e tomado de assalto por uma instituição que devia envergonhar os seus sócios.

Um silêncio cobarde, de profissionais da comunicação, que não são mais que peões num tabuleiro onde só pode jogar quem estiver disposto a despir-se da espinha dorsal. Que manipulam os mais vulneráveis, não dão espaço ao contraditório e ridicularizam quem se “atreve” a fazer-lhes frente. Que chegam a casa, depois de um dia de trabalho, e têm de cumprimentar a família depois de prestar serviços quase criminosos de defesa do indefensável, e de ataque à integridade e honestidade de quem não abdica da sua coluna vertebral.

Um silêncio ridículo, dos ditos Sportinguistas que, efetivamente, têm palco para abordar falar aos seus, e preferem dar prioridade a transferências de mercados passados e à contínua lavagem de roupa suja, que já endoidece qualquer pessoa com noção da realidade.

O silêncio continua a ecoar na comunicação social relativamente aos crimes praticados por indivíduos relacionados com a instituição que vai mandando no país – do presidente, aos seus jagunços. O medo de ficar de fora da grupeta é maior do que a coragem de dizer as coisas como elas são.

Pois bem, ainda há quem tenha essa coragem. Há quem tenha consciência do perigo que é apontar o dedo e esgrimir argumentos pela verdade numa sociedade corrompida até ao tutano, e mesmo assim o faça. A mudança para o bem nunca foi levada a cabo por homens e mulheres cobardes e vergados por medo, ganância ou indiferença. É quem tem consciência dos riscos e decide, ainda assim, dar os passos em frente, que consegue chegar a algum lado, mobilizando alguns pelo caminho.

Não nos deixemos arrastar para a teia do silêncio, para junto de quem não se incomoda com que gozem com os homicídios de pessoas que, antes de serem Sportinguistas, são seres humanos. Não fiquemos para a História como os cobardes que se deixaram domar pelos subalternos dos verdadeiros chefes de Estado.

Sejamos a pedrada no charco, a árvore que cai no meio da floresta, ou a voz que se insurge no meio da multidão.

P.S.

Ao Marco, que podia ter sido qualquer Sportinguista,

Não foi feita justiça em tua honra. É esta a minha homenagem, que de pouco vale a não ser para te mostrar que há inconformações que ficam para sempre.

Nós somos da raça que nunca se vergará, por cada Leão que cair, outro Leão se levantará.

Descansa em paz.

Marco Ficini - Tarjas em Alvalade

Artigos relacionados

Comments

  1. Teresa Galamba

    Subscrevo inteiramente. É lamentável. Pobre justiça

  2. Leonis Tsavo

    Cada vez tenho mais nojo deste país, dominado pelo nacional lampionismo. Um estado dentro de outro estado, como no Irão, por exemplo. Aqui o EL é comandado pelo ayatolá Escobar.

  3. Leão do Nordeste

    ” Não fiquemos para a História como os cobardes que se deixaram domar pelos subalternos dos verdadeiros chefes de Estado.”

    Há que reerguer o Sporting Clube de Portugal e os seus valores .

    Passemos da palavras aos atos.