RUGIDO VERDE

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Sexta-feira, Abril 26, 2024

VARANDEMIA (ORÇA)MENTAL

Numa altura em que os principais clubes têm realizado Assembleias Gerais para discussão e aprovação dos orçamentos para a próxima época, e em que o F.C.Porto até realizou eleições, o Sporting Clube de Portugal, ou melhor, o Dr. Varandas e o Dr. Rogério Alves, decidiram aproveitar ao máximo as facilidades legislativas para adiarem a Assembleia Geral, a ter lugar numa outra data qualquer que politicamente seja conveniente e dificulte mobilização.

Foram, entretanto, disponibilizadas para consulta as peças que constituem o orçamento do clube para 2020/2021. A consulta do mesmo, num verdadeiro ato varandémico, implica a obrigatoriedade de uma deslocação à Loja Verde, junto ao MultiDesportivo. A varandemia não se ficou por aqui, e após terem expurgado do léxico leonino a discussão e aprovação das contas consolidadas, que mostram um passivo em subida acelerada, é ocultada a informação relevante sobre a execução do orçamento ainda em vigor e que termina em 30/06, sendo que por esta altura era já habitual informação praticamente final das contas. Lembro que um défice nas contas implica destituição imediata, caso o PMAG não desgoste do seguinte Artº dos estatutos:

Com estas táticas, apenas saberemos como correu a execução orçamental da época 2019/2020 quando o senhor malabarista dos estatutos assim o entender.

Sendo prejudicado pela distância, o meu conhecimento sobre o orçamento limita-se ao pouco que alguns Leões amavelmente têm vindo a disponibilizar nas redes sociais. Não foi garantida equidade no acesso, não foi garantida uma forma segura e confortável para consulta, e a propalada revolução digital até hoje invisível foi enfiada na gaveta: nem um email foi enviado, nem uma área própria no website do clube foi criada para o acesso. Com os recursos financeiros, humanos e tecnológicos à disposição, foi uma opção vergonhosa intencionalmente tomada. Não há quem se insurja, como mudam os tempos.

Em consequência, este texto no qual pretendia analisar o Orçamento 2020/2021 será forçosamente curto pois irei limitar a análise a quatro rubricas, que julgo merecerem uma análise e reflexão aprofundada dos Sportinguistas, para que (e se) quando o dono dos estatutos nos resolver chamar para discutir e votar o orçamento, exista uma melhor ideia do caminho que está a ser trilhado.

Quotizações

São a principal fonte de receitas do clube com reflexo imediato na sua sustentabilidade e competitividade. É visível no seguinte mapa o seu crescimento entre 2013 e 2018, fruto de uma enorme campanha de angariação e mobilização dos sócios:

Com a varendemia que varreu o Sporting, a partir de 2018, com 8.9M, existe um declínio nesta rubrica: nas contas de 2018/2019 o valor desceu para 8.65M, nas contas do presente ano, que para já foram ocultadas, há certamente uma queda ainda mais acentuada; as campanhas com descontos significativos, feitas nas ultimas semanas, e a ocultação do estado actual de execução do orçamento ainda em vigor, dizem tanto sobre a queda previsível que até me custa avançar um número, mas acredito que será um valor bem inferior aos 8M e muito longe dos 9M que estavam orçamentados. Um total e absoluto falhanço de quem fez da união e angariação de novos sócios uma bandeira falsa. A promessa era atingir os 200.000 sócios em 2019, não era?

Consta no orçamento para 2020/21 o valor de 8.1M nos rendimentos de quotizações. Numa média simples, facilmente chegamos à conclusão que, face a 2018, há um número significativo de sócios que pura e simplesmente deixaram de pagar as quotas, o qual deverá rondar os 10.000 sócios, ou seja, mais do que os que elegeram o Dr. Varandas.

No entanto o cenário é ainda pior do que o descrito. Sendo que se está a proceder à renumeração dos sócios, que sucede a cada 5 anos, muitos sócios estão a pagar apenas para não perderem o seu número de associado de forma a poderem mudar o rumo do clube, o que inflaciona excepcionalmente o valor desta rubrica orçamentada. Os 10 mil sócios referidos são um número mínimo e que deverá ser substancialmente maior, apenas mitigado pela oportuna recontagem.

Gastos com o pessoal

Contrariando a tendência de descida de praticamente todas as rubricas de gastos, nesta rubrica específica de “gastos com pessoal” assistimos ao inverso: um crescimento acentuado. Foram orçamentados 1.412M, mais 12% face ao orçamento anterior. Se recuarmos a 2018, o aumento deste gasto é já de 40%.

Conforme será visível na imagem seguinte, a grave situação em que nos encontrávamos em 2013 ocasionou uma drástica redução nos gastos em salários pagos aos funcionários e colaboradores. Passámos de uma média anual por colaborador em 2013 na ordem dos 52 mil euros, para 26 mil euros em 2018.

Face ao valor que consta no próximo orçamento, 1.412M, não tendo o número exato de colaboradores mas sabendo que em junho de 2019 eram 40, facilmente se conclui que regressámos aos malfadados tempos de 2013. Em apenas dois anos, a média anual por colaborador já deverá ter subido mais de 10 mil euros e duvido muito que tenha sido proporcional ou equitativa face a várias vozes internas que já expressaram descontentamento. Uma coisa parece certa, regressaram os bons ordenados ao reino do Leão. Nem era necessário saber-se que Manuel Fernandes recebe duplamente (clube e canal privado de televisão), bastando olhar para os números

Comissões

Não pelo impacto material no orçamento, mas exemplificador da política de gestão implementada, não são necessárias palavras pois basta a imagem para ilustrar uma das rubricas favoritas e favorecidas pela incompetência:

Honorários (salários de atletas)

Em sentido inverso aparecem os gastos com os salários dos atletas, os verdadeiros responsáveis e obreiros pela glória conquistada nas pistas e nas quadras. Na teoria e na prática, os atletas já tinham demonstrado dedicação ao aceitar um corte de 30% nos últimos meses da época de 2019/20. Verificamos que o próximo orçamento contempla um corte de cerca 1M de euros (12%) comparativamente à inesquecível e vitoriosa época de 2017/18.

Se com um orçamento de 8.017M em 2017/18 as conquistas foram inúmeras e memoráveis, não será com uma redução na próxima época para 7.090M que os nossos ainda valiosos atletas deixarão de lutar pela vitória em todas as competições. Exigimos, isso sim, que esses 7M sejam objeto de uma gestão mais criteriosa (não esqueço que o valor gasto num Jesé daria pagar o salário de Ruesga durante 15 anos) e se assim for, certamente que os atletas das nossas modalidades não deixarão os seus créditos por mãos alheias e estaremos mais próximos da gloriosa época de 2017/2018 traduzida nesta bela imagem:

Este artigo contou com a colaboração de Siberianwyvern – fica um agradecimento ao precioso contributo.

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