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Sábado, Abril 27, 2024

Sporting Humilhado

Um artigo do jornalista italiano Pippo Russo na última edição do Guerin Sportivo.

Tradução de cortesia, não oficial, por Shir Sabzy

Mais uma nobre equipa do futebol europeu que é colocada baixo as garras de Mendes, o grande titereiro (marionetista) do futebol mundial. Os estranhos casos de Rui Patrício e Daniel Podence, contratados pelo Wolverhampton.

O dia 15 de Maio de 2018 foi o dia mais negro da história do Sporting Clube de Portugal. Uma Terça-Feira, dois dias depois da conclusão da Liga que para os leões foi selada com uma derrota por 2-1 no campo do Marítimo, que esfumou o objectivo de uma presença na Liga dos Campeões. E na mesma hora, a sociedade leonina enfrenta também a tempestade do escândalo Cashball, um caso de presumível corrupção no andebol, envolvendo André Geraldes um jovem dirigente muito próximo do presidente Bruno de Carvalho.

Mas como uma desgraça nunca vem só, acontece também o caso inaudito da invasão da academia por um grupo de energúmenos encapuçados. Os jogadores e o treinador Jorge Jesus acabaram agredidos, e no seguimento deste episódio, muitos decidem proceder à rescisão unilateral dos seus contratos. Vários (como o capitão Bruno Fernandes) voltaram pelos seus próprios pés. Restando o facto de que o ataque a Alcochete ter assinalado o início de uma longa crise, da qual o clube verde e branco ainda não se libertou. Sobretudo, desde esse dia, 15 de Maio (de 2018) o clube de Alvalade voltou a cair na rede de influência do super-agente Jorge Mendes, um dos grandes titereiros do futebol mundial.

Do inamovível Bruno de Carvalho ao inconsistente Varandas. Os dias emergentes, e que culminaram com o raide a Alcochete, chegaram nas últimas semanas do mandato de Bruno de Carvalho. Pouco depois viu-se removido da presidência numa assembleia extraordinária de sócios, da qual [mais tarde após as eleições de Outubro] resultou eleito Frederico Varandas, um médico militar que está há vários anos à frente do departamento médico sportinguista. Desde logo, uma dos primeiros e mais visíveis resultados da mudança de liderança foi a retoma da relação, por parte do Sporting, com Jorge Mendes. Sob a presidência de Bruno de Carvalho, o patrão da Gestifute foi mantido bem distante da actividade leonina. Em sentido inverso, depois da ascensão de Frederico Varandas, o super-agente regressou a Alvalade com direito a todas as honras. Tudo isto a despeito do facto que Mendes sempre teve uma relação com tratamento preferencial pelo outro grande clube da capital. Ao Doutor Varandas nada disto causa celeuma. Rapidamente a Gestifute entra na casa dos Leões. Mendes toma em mãos o dossier dos jogadores que rescindiram os contratos por suposta justa causa e gere-o à sua vontade. As consequências para o caso em mãos do Sporting são lamentáveis. Sejam quais forem os resultados das negociações (acordo ou ruptura definitiva), Jorge Mendes recebe sempre a sua recompensa. Dois exemplos, retirados do ‘manual de transferências para idiotas’ do Jorge Mendes, são os casos de Podence e Patrício. Os clubes que os contrataram após as rescisões chegaram a acordos com o Sporting para evitarem males maiores. Por Podence, que é um cliente da Gestifute, os gregos do Olympiacos do Pireu desembolsaram 7 milhões de euros, e Jorge Mendes encaixou 10% pelo incómodo.

Ainda mais controverso foi o caso de Rui Patrício. Mais um caso que ficou com a chancela de Jorge Mendes, isto após ter estado sob o cuidado da Proeleven de Carlos Gonçalves durante algum tempo. Depois do fim do relacionamento com o clube de Alvalade, o guarda-redes da Selecção Nacional iniciou um noivado com o Wolverhampton. Que não é mais do que um clube que tem tido a sua equipa construída por Jorge Mendes, juntamente com o sócio-amigo (na Start – a holding que controla a Gestifute) Guo Guangchang, o patrão do conglomerado de empresas Fosun, proprietário do Wolves. Sporting e  Wolverhampton fecharam um acordo na base de 18 milhões de euros, mas aquando da leitura do Relatório e Contas semestral de 2018 do clube verde e branco, sucede que nos seus cofres apenas entraram 12 milhões de euros. Os outros 6 milhões são pagos em forma de comissão a terceiros em posse dos direitos económicos do futebolista (tratando-se do fundo Quality Fund Ireland – do qual Mendes é, por coincidência, consultor) e a um bizarro acordo de “desenvolvimento da marca” no exterior. O custo deste protocolo cifra-se em 2 milhões de euros. Para concluir a zombaria, fica o facto de Podence ter trocado em Janeiro de 2020 o Olympiacos (sociedade muito próxima de Mendes e de outros super-agentes que controlam o mercado global de futebol) pelo Wolverhampton, por 20 milhões de euros. Para os gregos isto significa uma mais-valia exagerada. Quanto a uma eventual comissão da Gestifute, saberemos assim que o documento oficial for revelado. 

Pagar (e com juros) para ter um treinador. A subjugação do Sporting Clube de Portugal continua e chega aos píncaros no último mês de fevereiro. A sociedade de Alvalade contrata o quarto treinador de uma época desastrosa. A escolha recai sobre Rúben Amorim, treinador do Sporting Clube de Braga. Nada de estranho quanto ao modo, pois é normal em Portugal que um dos três grandes contrate treinadores de uma outra equipa com o campeonato a decorrer. O problema é que o Sporting de Braga não é uma sociedade qualquer. É praticamente uma criatura de Jorge Mendes, e depois há ainda um outro aspeto: Amorim pôde liberta-se do seu contrato atual mediante o pagamento de uma clausula rescisória de 10 milhões de euros. E se o facto de pagar 10 milhões para contratar um treinador é bizarro, o caso torna-se muito mais perigoso quando se atenta ao estado calamitoso das finanças sportinguistas. Tendo isto em conta, o que decide fazer a sociedade dirigida pelo doutor Varandas? Incrivelmente, decide pagar. Ou melhor, compromete-se a fazê-lo assinando um acordo humilhante. Ao Sporting clube de Portugal calha até pagar o IVA, passando a despesa de 10 a 12,3 milhões de euros. Mais ainda, no seu comunicado à CMVM o Sporting de Braga esclarece os termos de pagamento: duas tranches de 5 milhões de euros, a primeira a liquidar antes do dia 6 de Marco, e a segunda antes do dia 5 de setembro. E como se não bastasse já [a humilhação] [o comunicado] especifica que a segunda tranche inclui a caricata parcela de juros na ordem dos 6% (155 mil euros), e que o IVA deve ser pago antes do dia 30 de Marco. Resultado: o Sporting acaba por falhar os prazos de pagamento de 6 e 30 de Março, ganhando o rotulo de mau pagador. Que lástima, doutor Varandas!

Pippo Russo @Pippoevai ( https://twitter.com/Pippoevai )
Junho de 2020, Guerin Sportivo

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