RUGIDO VERDE

Ai ai… Isto de uma pessoa trabalhar por turnos tem destas coisas. Acordar às três da manhã e ficar desperto como se tivesse acabado de ter uma bela noite de sono é uma delas.

Há muitos anos que não consigo dormir um sono de beleza de oito horas seguidas, o que por si só acaba por também me retirar qualquer motivação para um jogging matinal que me deixe preparado e retemperado para um dia de grande actividade. Enfim, faz-se o que se pode com aquilo que se tem.

Neste preciso momento estou aqui a escrever, porque não consigo dormir e, de repente, lembro-me de alguém que a esta hora estará a dormir o seu sono dos justos pelo menos durante as oito horinhas da ordem. Esse alguém, que provavelmente já se aperceberam quem é, é nada mais nada menos que o presidente do clube de que eu gosto desde sempre.

Como já não vou para novo, trata-se então de uma paixão com alguns anos a mais que o dito presidente tem de vida. Durante este tempo, tenho assistido à passagem de um número já considerável de pessoas que ocuparam o cargo que este digníssimo consócio ocupa neste momento. Todos eles terão deixado marca durante a sua passagem e, provavelmente, todos de maneira diferente.

Neste momento, quero considerar que o passado é pretérito e não andar muito para trás na análise que quero fazer e que se relaciona sobretudo com a entrevista que nossa senhoria protagonizou a noite passada num canal de televisão nacional. Vamos lá então.

Ao fim de trinta segundos de entrevista, ficámos a saber que somos considerados um clube de malucos, com o beneplácito do digníssimo presidente, por alguns(s) treinador(es) por ele contactados nesta altura e o mesmo já se teria passado em Novembro do ano passado.

Pronto, ficámos a saber que, tal como Silas, vai começar a trabalhar sabendo que não foi uma das primeiras dez escolhas, nem sequer corresponde ao perfil de treinador que se procurava.

Além disso, ficámos também a saber que o digníssimo presidente em Novembro não sentiu Keizer coisa nenhuma, sentiu outra coisa qualquer, mas como isto é um clube de malucos alguém lhe disse para trazer o holandês, porque não havia arte para trazer mais ninguém.

Queria em relação a esta questão do treinador dizer que a pessoa que o antecedeu no comando dos destinos do clube, apesar de encontrar o mesmo com um PER em cima da mesa, conseguiu sempre contratar grandes treinadores e, mesmo no fim, com o clube em estado de sítio deixou lá um treinador que vinha da liga italiana e para lá voltou e ao que parece com bons resultados. Como o conseguiu? Não sei, provavelmente nessa altura ainda não estavam lá os malucos.

Brindou-nos, também, com uma pérola daquelas grandes em relação à situação financeira da SAD. Diz, então o senhor, que encontrou uma herança muito pesada, que tinha 225 milhões de dívidas para pagar inclusivamente impostos em atraso.

Confesso que fiquei confuso. Tinha ideia que os relatórios dos exercícios anteriores tinham sido positivos quatro em cinco anos. Já depois de tomar posse, este executivo tinha confirmado que não havia buraco nenhum nas contas. Das duas uma, ou os relatórios anteriores eram falsos e estes senhores ocultaram isso aos sócios ou revelam incompetência e incapacidade para gerir o clube e vêm agora com a história da herança pesada atirar areia para os olhos dos sócios, que nesta fase da entrevista já deixaram de ser malucos para passarem a ser burros.

Temos como exemplo da incapacidade destes senhores na área financeira, o facto de pela primeira vez um empréstimo obrigacionista não ter sido subscrito na totalidade, a dispensa de vários jogadores a custo zero e a venda de alguns dos maiores activos do clube por um valor ridículo em relação ao seu valor de mercado. Quanto à herança, era realmente pesada.

Só o contrato com a NOS eram 515 milhões que ,ao que parece, os senhores já se serviram de grande parte para tapar as suas incapacidades.

Na parte do futebol e das finanças já sabemos que está a correr mal, mas a culpa é da herança. Quanto às modalidades, disse o senhor que foi uma época brilhante, conquistámos seis títulos europeus. Aí já não teve nada a ver com a herança. Talvez o facto de termos passado de campeões nacionais em todas para campeões em nenhuma, já tenha a ver com a tal herança.

De resto, a entrevista não passou de uma amálgama de boçalidades e situações e citações embaraçosas que até a medíocre entrevistadora fez passar pelo ridículo de ter de se rir na cara do digníssimo.

Fique, no entanto, o senhor sabendo que apesar de malucos, nível de sócio no qual provavelmente me encontro, não seremos todos burros, esses serão aqueles que o ajudaram a estar onde está. Saiba, também, que nós, os malucos, sabemos quem é, ao que veio e a coberto de quem. Saiba, também que, enquanto houver um destes malucos, o senhor e quem lhe encomendou tamanha empreitada não terão descanso. A justiça há -de ser feita e os senhores sairão pela porta por onde entraram, que é a dos fundos. É a porta por onde entram à socapa de forma furtiva os usurpadores.

Não quero maçar mais. Como terá reparado não quis explorar a veia cómica da sua entrevista. No entanto, houve uma parte que um amigo me chamou à atenção e se ajusta perfeitamente aquilo eu acho do seu projecto. Foi quando levou o copo vazio à boca e engoliu em seco. O seu projecto é “um copo cheio de nada”.