O rei vai nu
O rei vai nu. Mesmo nu em pelota. Nem sequer uma folha de alecrim lhe tapa as elusivas partes pudendas!
Varandas é esse rei pelado, que desfila penosamente nos ombros dos poucos que ainda o apoiam. Despido de competência, liderança, carisma e capacidade de gestão, este rei a prazo agita-se no seu trono virtual, onde imagina conquistas jamais alcançadas e resultados que só existem na sua cabeça. No imaginário de Varandas, ele é o maior.
O rei desnudado acredita que os súbditos o seguem fielmente. Tem arautos que o louvam permanentemente por todo o reino. Exultam, glorificam-no! Mesmo quando o rei perde batalhas a culpa de todos as adversidades é sempre do monarca anterior, vilão da pior espécie! Os membros da sua pequena corte deliciam-se com o seu discurso astucioso e dromedário. Admiram a sua coragem de bravo soldado que, directamente da caserna, os inspirou para combates impiedosos.
Mas a populaça agita-se! As contas não batem certo. Os resultados não aparecem. Os discursos não convencem. A estratégia desmorona-se! Os arautos hesitam, mas continuam a tentar defender o indefensável. O rei não presta e esconde-lo torna-se tarefa cada vez mais difícil. Apoiantes de outrora começam a afiar as facas e a gentalha, de forquilhas na mão, ameaça trespassar o rabiosque depilado e fugitivo do rei, na sua fuga desesperada para a frente.
Entretanto, o cardeal das sombras, Alves de seu nome, inicia contactos para a substituição do monarca desgraçado.
Reflecte o cardeal: “Será que desta vez conseguimos impingir uma versão mais populista do rei Rissol?” “Com doses industriais de Laranjas, talvez seja possivel”. “Talvez um rei monástico, da ordem Beneditina, seja mais capaz, mais agregador….”. Os sultões de reinos distantes sorriem e agradecem ao ardiloso cardeal. Em breve, uma parte do reino será deles e o cardeal será pomposamente recompensado!
Por fim, do alto do seu trono emprestado (com opção de compra), o Rei Varandas clama aos sete ventos:
Escutai, seus ingratos!
Este pobre rei desnudado
Não achais que mereço
Um aumento de ordenado?
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Mas que belo artigo!
Após o Funeral da Verdade levámos com o Desfile do Rei Indecoroso pelas ruas da amargura da cidade, que de tão vaidoso e pomposo é alvo de gozo na realidade, indo nu, sem pêlos no cu e sentindo-se imune numa armadura, à vontade.
O Cardeal Sombrio é muito mais frio e manhoso, habituou-se a ser vil e insidioso, enquanto o príncipe trata o adepto como leproso, ele concebe o seu ardil e um encantamento poderoso, dissimulado como é e deveras perigoso, manipulador exímio de qualquer alvoroço, criador do declínio e de recados um moço, o fino exemplar da gente de bem que fala grosso, aquele que nos vem salvar mas é o maior mentiroso.
O desfile era cadenciado e cerimonioso, o Cardeal malvado tornava-o mais tenebroso, e o discurso real ilusório e insultuoso.
A plateia de crédulos seguia o séquito guloso, alguns em busca das migalhas que caíam do bolso, outros encavalitados ou esticados pelo pescoço, outros ainda maravilhados e a caírem ao poço, a maioria como cães esfaimados correndo atrás dum osso.
Era a corte dos bacocos do costume vicioso, que fizeram ouvidos moucos tornando-se ocos no miolo, praticavam irresponsáveis lesivos actos de dolo, sem intenção porque imputáveis só ao outro que era tolo.
Varandas, por favor demite-te. Volta Bruno de Carvalho.
E nú acabará o reino. Parabéns!
Excelente fábula onde não falta nenhuma verdade.
Parabéns aos escritor.
As verdades todas ditas em forma de fábula. Não soubéssemos nós o que se passa no nosso Reino e podíamos simplesmente achar piada. Assim vamos rindo porque o texto nos leva a isso e choramos por dentro porque sabemos que não é ficção.
Parabéns ao autor.
O carissimo Graf nunca desilude ao dar ao leitor uma boa gargalhada. Só mesmo rindo é que podemos encarar este clube.