RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Terça-feira, Abril 23, 2024

Afinal em que ficamos?

Desde Agosto de 2018 que o novo discurso oficial do clube teve como objetivo uma descontinuidade, uma ruptura, um rompimento com tudo o que foi feito anteriormente.

Para isto, além de alterações estruturais, procedeu-se, também, ao saneamento de todo e qualquer elemento nos mais variados departamentos que estivesse, de algum modo, conotado com a anterior direcção.

Podíamos dar imensos exemplos. O de Carlos Xavier foi muito falado recentemente pela sua dispensa sem qualquer justificação.

Poder-se-ia aplaudir ou criticar esta decisão de alterar tudo. Como foram eleitos através de sufrágio, seria uma opção tomada legitimamente.

Contudo, esse corte com o passado parte mais de uma conveniência estratégica do que propriamente por desacordo com o rumo anteriormente traçado. Prova-o alguns discursos contraditórios ao longo do ainda curto mandato.

Frederico Varandas, o próprio Presidente, foi o primeiro “desalinhado” por incrível que pareça. Ainda não tinha sido empossado e algumas das suas primeiras palavras enquanto candidato fariam corar alguns dos contorcionistas mais renomados.

“A eles (Anterior Conselho Diretivo) devemos a obra, títulos dos mais importantes a nível nacional e internacional e alguns dos momentos mais espetaculares do sporting. Reclamo-me herdeiro desse património. Não sou um candidato do não a Bruno de Carvalho.” 26 de Junho de 2018 na apresentação da candidatura.

Foto: Nuno Fox/Lusa

O autodenominado “herdeiro” de Bruno de Carvalho não tardaria a guinar o discurso. Entre 2018 e 2019, já foram inúmeros os momentos directos ou indirectos em que revelou algum rancor e em determinados momentos algum temperamento colérico e descontrolado.

A Assembleia Geral de 27 de Junho foi um desses exemplos, em que respondeu a alguns “apoiantes” da gestão de Bruno de Carvalho de forma especialmente agressiva, contribuindo para um ambiente tenso na sala.

Hoje já nada foi bem feito, não houve obra, não houve títulos, não houve património.

Afinal em que ficamos Frederico?

A des(união) do discurso oficial afetou também o braço direito de Varandas, Francisco Salgado Zenha, o homem “forte” das finanças do Sporting.

Nas finanças ainda estamos para ver, mas decididamente “forte” não é o adjectivo mais indicado para caracterizar a coerência no discurso.

Em Novembro de 2018, cinco meses depois de tomar posse, deu uma entrevista à estação de televisão TVI, em tom conciliador e confiante com o trabalho realizado pelo seu antecessor, Carlos Vieira.

“Não vi nenhum buraco nem anormalidade desde que cheguei, a nível contabilístico. Publicámos os resultados trimestrais auditados para mostrar confiança. Houve coisas bem feitas antes do ponto de vista financeiro.”

Dizia ainda mais à frente que “a situação financeira de agora (à data da entrevista) é muito melhor do que há uns anos”. Entrevista de Salgado Zenha à TVI em 15 de Novembro de 2018.

A confiança e o optimismo de Zenha rapidamente mudaram de tom, não porque tenham descoberto um “buraco” entretanto, mas porventura porque se sentiu acossado devido às inúmeras criticas feitas no primeiro semestre de gestão dos novos Órgãos Sociais.

Em Fevereiro de 2019, numa conferência de imprensa promovida pelo Conselho Directivo, Salgado Zenha surgia completamente transfigurado.

 Foto: Paulo Calado

Entre algumas tiradas hostis sobressaem frases como “A gestão de 2018 foi completamente irresponsável” (metade do ano não foi feita pelo atual CD?) ou “herdámos uma divida a fornecedores de 40 milhões de euros” (quando em Novembro passado não se mostrava preocupado com isso).

Quem não se sente, não é filho de boa gente, diz o povo. Mas o problema de Zenha não tem a ver com sentimentos, tem a ver mais com coluna vertebral.

Afinal em que que ficamos Salgado Zenha?

Nesta semana, tivemos mais um membro da administração numa atuação circense digna de uma das melhores apresentações de um Cirque du Soleil.

Falo-vos de Miguel Cal, vogal do Conselho de Administração da SAD do Sporting. Miguel Cal era, diria eu, um nome relativamente desconhecido até, no início de Agosto de 2018, ter surgido um documento assinado por si e pelo sócio Ricardo Farinha, a fazerem uma “reflexão sobre a gestão do clube e da SAD”.

Neste documento “sem quaisquer intenções eleitoralistas” (foi para rir certo?), analisa-se de forma bastante negativa a gestão de vários sectores do clube e da SAD, nomeadamente a política de contratações, a formação, a aproximação aos sócios ou o relacionamento do clube com as claques.

No fundo, faziam passar a ideia de um clube falido na parte económica, na parte humana e na interacção com os seus adeptos.

Miguel Cal voltou, ao longo destes meses, a mandar mais algumas “bicadas”. No entanto, numa entrevista dada esta semana à Sporting TV, o discurso mudou quase integralmente.

Foto: Pedro Simões Ferreira

Durante 2 minutos, o elemento responsável pelo pelouro estratégico, de marketing e operacional, faz rasgados elogios ao trabalho anteriormente feito. Destaco uma das frases.

“O legado do mandato [anterior] é muito positivo. Há um legado que foi reconhecido e é valorizado por todos os Sportinguistas, sem excepção, e que tem que ver com a mobilização dos sócios, com a presença dos sócios na vida do clube, com o fortalecimento desportivo quer no futebol, quer nas modalidades, com a construção de um pavilhão que é a casa onde essas modalidades se praticam e onde se vive muito Sportinguismo.” Entrevista à Sporting TV no dia 11 de Julho de 2019.

Confuso certo? Afinal em que ficamos Miguel Cal?

O Conselho Directivo do Sporting promove um discurso oficial, mais agressivo e que tenta “descolar” ao máximo da gestão anterior. Alguns dos elementos mais militantes nesta agressividade serão Miguel Afonso e Rahim Ahamad, o tal que insultou um sócio depois de uma intervenção.

Outros membros, no entanto, não conseguem cumprir de forma rigorosa esta apologia ao ódio e à censura. Sabem que foi deixada obra, foi deixado orgulho, foram deixados instrumentos financeiros muito diferentes dos existentes há 10 anos.

O que ficou evidenciado é que Miguel Cal guardou esta opinião durante 1 ano e aproveitou a pós-expulsão, para finalmente dizer o que pensa.

Zenha, por sua vez, teve que adaptar o seu discurso inicial às circunstâncias políticas por uma questão de sobrevivência.

Não são livres de dizer o que realmente pensam. Estão presos a uma cartilha Estalinista que, no limite, tentará apagar da memória dos Sportinguistas o quão bom foi vivermos o Sporting de 2013 a 2018.

Duvido que consigam. A verdade vem sempre ao de cima e a história fará a sua justiça.

Schmeichel

Nota do editor: Este texto foi submetido por um dos nossos leitores

Artigos relacionados

Comments

  1. HULK VERDE

    Boa exposição das contradições dos vários elementos citados, que revelam as discrepâncias distópicas propagandeadas e aproveitados por quem dirige actualmente o Sporting.
    A comunicação do Clube é cada vez mais cara mas também mais fraca, revelando muitas incongruências com o seu conteúdo (já nem falo da forma que chega a ser confrangedora para não dizer insultuosa, e que muitas vezes tem correspondência com o conteúdo, seja por distorção do mesmo, por efabulação dos factos ou adulteração da verdade).
    Com o poder que tem actualmente na estratégia da direcção, esta não tem uma linha de rumo, antes procura factóides e efemérides para as transformar num produto de consumo quotidiano, procurando assim auto-realizar-se, de uma forma muito mais populista, comercial e propagandística do que alguma vez foi.
    Procuram o efémero, destacam o relativo, auto-elogiam-se constantemente, e omitem os problemas, sejam eles imediatos ou de médio-longo prazo, revestindo-os com veludo. Quando dizem algo, é muitas vezes ou para “vender” ou para desviar as atenções do que “não vende” tão bem.
    Daí considerar que o peso excessivo da equipa de comunicação contratada tem uma influência determinante e nociva em todos os elementos mencionados (e muitos outros), porque ela própria vive ao sabor do vento e da espuma dos dias, e da manipulação em proveito de um “produto” (a imagem, a forma, a cartilha) que querem divulgar, não tem consistência própria porque não assenta essencialmente em valores aceitáveis e correctos, equilibrados, verdadeiros.
    No fundo eles dizem o que tiverem de dizer, de forma mais ou menos sentida, e isso só pode ser explicado (dizer uma coisa e o seu contrário quando é conveniente), por oportunismo, o que acaba por revelar desonestidade intelectual – tudo porque a LPM o dita (ou quem diz à LPM o que deve ditar).
    Mas na escola primária, quando a/o docente dita para as crianças escreverem e aferir os seus conhecimentos ortográficos, gramáticos e a caligrafia, não o faz insultando os miúdos – isso é pura e simplesmente demencial, tão demencial como a actual comunicação do Novo Sporting, que além disso reescreve a História à medida das necessidades, mesmo que mais tarde, noutro ditado, tenha que alterar a anterior versão porque a dada altura é mais útil, por um motivo pessoal qualquer.
    Para terminar, só faltou referir o Sampaio (e o seu Silêncio), mas esse raramente diz alguma coisa digna de registo (talvez tenha melhor noção da situação, tal como a referi, talvez esteja comprometido e ao mesmo tempo não se queira comprometer com tão volátil, incerta e contraditória comunicação nem ser mais um dos seus intérpretes).
    Venham mais rugidos!