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Sexta-feira, Março 29, 2024

Neste dia… em 1987 – Alvalade pintado de esperança

Sporting (4-1) Rio Ave 1987/88

Por Neves de Sousa

Não foi espectacular, tampouco roçou o brilhantismo, mas, para início de trabalho, já deu uma certa alegria aos sportinguistas o embate com vila-condenses, tradicionalmente adversários sempre difíceis em Alvalade, mas que, desta vez (e por força de se apresentarem muito depauperados), não deram a exacta medida da valia que podem conferir a um campeonato onde ganharam justo direito de presença. E, se o Sporting fez questão de ensaiar um novo «team», voluntariamente abdicando de Vítor Damas, Fernando Mendes, Carlos Xavier, Virgílio e do holandês Houtman, mantendo em plano reservista e também sem qualquer apelo para o trabalho activo Morato, Litos e Vital, o Rio Ave foi obrigado, por força das circunstâncias, a não poder colocar no pano verde cinco dos brasileiros do seu lote (Dema, Pimenta, Lourival, Jairo e Edson) por não estar ainda entregue na Federação o respectivo «passe internacional» e outro profeta (de seu nome Isaías) que foi contratado no Clube de Remo do Pará e ainda não abordou às nossas praias, provavelmente por vir em jangada ou a remos.

Em cima da esquerda para a direita: Venâncio, Duílio, Oceano, Vitor Santos, João Luiz e Rui Correia. Em baixo pela mesma ordem: Marlon, Sealy, Cascavel, Mário e Silvinho.

Assim, apenas dispondo de três suplentes (o guarda-redes Maravalhas, Paulinho e José Augusto), o também brasileiro Mário Juliatto, que está à frente do futebol vila-condense, entendeu que, não possuindo cão, teria de entrar na caça com os seus gatos e instruiu O «onze» formando-o dentro de um espírito: alívio rápido de bola, especialmente quando a esferinha rondasse os postos da casinha de Figueiredo e, lá à frente, dois únicos atiradores (Carlos Manuel e Álvaro) episodicamente acompanhados por Hernâni a tentarem desfeitear o jovem Rui Correia: só que o moço de S. João da Madeira (conterrâneo de Litos e Vermelhinho) não teve qualquer necessidade de esforço para ficar impoluto, mesmo dando desconto àquela bolinha que deixou escapar (no período final), mas que a sua cobertura rapidamente atirou para bem longe.

Portanto, está feito o carácter do espectáculo: pressão contínua dos «leões», qualquer dos «teams» encaminhando avançadas exclusivamente pelo flanco esquerdo (Silvinho esteve, novamente, em alto plano) e, no centro do furacão, Mário (afirmando-se como «patrão» da Alameda das Linhas de Torres) e Oceano (que já domina razoavelmente o esférico e até se permite ao luxo de algumas fintas bem sucedidas, no que prova o bom esforço que tem sido chefiado por Burkinshaw e Fernando Mendes), impondo-se a toda a concorrência, aqui e além vendo sobressair a classe (indubitável) do britânico Sealy e, muito especialmente, a beleza de lances em que Paulinho Cascavel (mesmo sem bola à disposição) patenteavam talento que o tornou menino querido das nossas plateias. Pena que o mocetão tenha, um dia destes, de oferecer um almoço a alguns colegas para, em troca, estes também lhe darem algumas bolas jogáveis e bem ao seu gosto de pronto fuzilador de redes.

Paulinho Cascavel marca de grande penalidade.

Perante «fórmulas um», os vila-condenses limitaram-se a, o mais desportivamente que era possível (excepção feita a Chico Zé e Marinho, que tudo fizeram para mais cedo tomarem banho) resistir à pressão dos donos do palco, que apenas fraquejavam quando o couro batia à porta do desastrado João Luís ou perto de uma dupla central que não oferece a mesma confiança que pode entender-se na reunião de Venâncio com Morato. Por outro lado, também Vítor Santos dá à sugestão de ser mais eficaz a meio campo (esquerdo) que no posto mais recuado, ficando ainda sem se entender a troca de Mário por Mário Jorge, a menos que fosse um prémio de aniversário para o rapaz de Ponta Delgada que completa hoje 26 anos de existência e é um firme e bem consistente valor do nosso futebol, desde que utilizado no flanco canhoto e nunca derivando quase permanentemente para a zona central, onde a sua carência de pé direito o coloca em situação de desigualdade com outros artistas de valia semelhante.

Ora bem: obtido um golo no sábio aproveitamento do 5.º «livre» autorizado pela incorrecção de Chico Zé (toque de Mário a que Marlon entrou como relâmpago), o Sporting deixou correr o marfim e, mesmo quando João Luís cometeu nítida grande penalidade que o Rio Ave aproveitou (como se calcula, pensando numa surpresa no «placard») apenas bastou meros de uma dezena de minutos para surgir nova vantagem no marcador e, daí para a frente, tudo se limitar a espreitar o rato, não o “deixando sair da toca. Um «show» que valeria pelo óptimo labor de Mário e Oceano, Silvinho e Sealy, Marlon e Paulinho Cascavel, ainda com oportunidade para se ver que o menino Cadete merece mais testes e Mário Jorge (queiram ou não) tem legitimidade entre os maiorais, desde que colocado em funções que possa desempenhar a seu contento.

Hernâni, Jaime Graça, Paulo César, Carlos Manuel e Figueiredo foram os vila-condenses que mereceram mais aplausos, no tal jogo de abertura de longa maratona, em que Ezequiel Feijão foi demasiado contemporizador para alguns artistas que pareciam mais desejosos de acertar nas canetas do parceiro de outro emblema que na caprichosa esferinha que muitos não sabem tratar com amor. Um caso que pode durar eternidades a resolver, se nos lembrarmos de alguns rapazes equipados de futebolistas, que vestem muito bem, mas a quem o balão atrapalha até dizer acabou-se.

Um problema que, para certa gente, será insolúvel, mesmo nas calendas gregas: ou ao fim de terríveis 38 exames.

In Diário de Lisboa

Resumo do jogo

Perante 40 mil espectadores, com arbitragem do setubalense Ezequiel Feijão (que esteve demasiado contemporizador no capítulo disciplinar, especialmente ao consentir que o constantemente faltoso Chico Zé permanecesse em campo) e funcionando como fiscais de linha Hélio Pereira e Neto Afonso, alinharam:

Sporting: Rui Correia; João Luís, Duílio, Venâncio e Vítor Santos; Oceano; Sealy, Mário (Mário Jorge aos 67 minutos) e Marlon (Cadete, 80); Paulinho Cascavel e Silvinho.

Rio Ave: Figueiredo; Chico Zé, Antero, Nando, Marinho José Augusto, 71) e Paulo César; Jaime Graça (Paulinho na 2.ª parte), Hernâni e Bragança; Carlos Manuel e Álvaro.

Cartão amarelo para Marinho.

Golos por Marlon (28 minutos), Paulo César (50, de grande penalidade), Cascavel (13), Seally (32) e Cascavel (86, de grande penalidade).

Data: 23/08/1987
Local: Estádio de Alvalade
Evento: Sporting (4-1) Rio Ave 1987/88 - 1ª Jornada

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