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Sábado, Abril 20, 2024

Neste dia… entrevista de Rui Correia em 1987: «Damas é o meu ídolo»

O Sporting tem um substituto para o consagrado Vítor Damas.

Chama-se Rui Correia, tem 19 anos e desde os 15 que representa os «leões». Chamado à primeira equipa, realizou exibições que rapidamente o tornaram na «coqueluche» dos associados. Com a mesma garra com que defende os pontapés dos avançados contrários, afirma convicto:

«Apostei no Futebol. Quero ser titular do Sporting»

Rui Correia é a grande revelação sportinguista deste início de época. Com apenas 19 anos, foi chamado a ocupar O lugar do consagrado Vítor Damas, na baliza dos verde-brancos. No sangue tem a garra dos grandes campeões, no corpo a agilidade dos melhores guarda-redes. Sabe que esta pode ser a sua grande hipótese de triunfar no futebol profissional, e diz: «Treinei um ano sem nunca ter defendido as redes do Sporting. Agora, surgiu esta possibilidade, e penso que me saí bem. Daqui por diante vou continuar a trabalhar e esperar que surjam mais chances, pois o meu grande sonho era ser titular do Sporting.

O PERCURSO

Começou a praticar futebol quando tinha 10 anos, em S. João da Madeira, tendo jogado duas épocas nos infantis, onde foi companheiro de Litos, agora seu colega no Sporting. Subiu pelos escalões normais e, aquando de um jogo de juvenis, entre a Sanjoanense e o Paivense, foi contactado para vir para Lisboa:

«No final desse jogo, tinha eu 15 anos, o senhor Osvaldo Silva contactou comigo e falou na hipótese de vir treinar, duas semanas à experiência, a Alvalade. Cheguei ao Sporting e tive oportunidade de disputar um torneio em França, onde joguei pela primeira vez com a camisola do clube, frente ao Paris Saint-Germain.»

Continuando:

«Os restantes jogos correram-me bem, fui considerado o melhor guarda-redes do torneio, e fiquei em Lisboa, na equipa dos juniores. No ano seguinte fui titular a época toda e no meu segundo ano tive uma apendicite que me impediu de jogar a fase final desse ano. Ainda estava em recuperação quando assinei um contrato como profissional do Sporting. Foi no início da época passada e tinha 18 anos.»

O PESO DA CAMISOLA

Sem complexos de espécie alguma, e embora discuta com ele a titularidade das balizas verde-brancas, diz-nos que «O Damas sempre foi o meu ídolo, desde miúdo. Mais que a camisola do Sporting, pesa a dele». Mas a sua irreverência, a garra e vontade de vencer não o deixaram numa posição comodista, antes pelo contrário: «Vou trabalhar e esperar mais oportunidades. Se surgirem, estarei lá para defender, pois em primeiro lugar quero chegar à titularidade no Sporting».

Perfeitamente adaptado ao ritmo do grande clube, confessa-nos que nunca se pôs a hipótese de rodar noutro, embora se assim o desejassem, não teria qualquer problema.

Como ele próprio diz: «O importante é estar no Sporting. Há muitos jogadores que vão rodar para outros clubes e nunca mais voltam. É, talvez, uma questão de sorte, mas para atingir o meu sonho, não há nada como já cá estar.»

Nesta época de 87/88, os leões necessitam de fazer as pazes com a sua massa associativa e dar-lhes as alegrias que fogem há cinco anos. Quando lhe perguntámos o recado que daria a estes sócios bastante «pacientes», O jovem guarda-redes respondeu-nos:

«Todos os anos o Sporting faz grandes aquisições, e os resultados não aparecem. Este ano manteve o mesmo plantel, e apenas se reforçou com o Paulinho Cascavel. Já nos conhecemos, temos uma equipa jovem, cheia de força, e vamos tentar ganhar tudo. Eu sei que se os jogos correrem mal, a massa associativa vai cair-nos em cima, mas eles fazem o papel deles e nós o nosso. Isso é que é importante».

FORA DOS RELVADOS

Fora dos relvados, Rui Correia é uma pessoa tímida, fechada em si, de convicções fortes, mas do género de viver para dentro as alegrias e as amarguras que a vida lhe oferece. Vive em função do seu futebol, mas também gosta de hóquei, basquetebol, ténis e muito especialmente surf. Tenta ter uma vida regrada, afirma-se como pessoa bastante caseira, e diz nunca se deitar depois das 11 horas da noite.

«O meu quotidiano limita-se a treinar ou estar em casa. Vejo televisão, Ouço música e, de vez em quando, vou a um cinema. Gosto de filmes de acção, ao jeito do Stallone. Sou também muito rigoroso com as minhas horas de refeição, e embora não faça dieta especial, tento comer apenas cozidos e grelhados, antes dos jogos.»

Vivendo bastante tempo no Centro de Estágio do Sporting, ocupa há um mês a casa onde o Zinho vivia, ali na Quinta do Lambert. «É completamente diferente estar em nossa casa. No Centro, as empregadas acordavam-nos às oito, e tínhamos pouca privacidade. Assim, é bastante melhor.»

Enquanto falamos, a sua companheira Cláudia vai lavando a loiça. Morena, de sorriso envergonhado, mostra bem o orgulho que tem no Rui. Uma leve troca de olhar e a confissão do jovem sportinguista: «Se este ano me correr bem, casamos, talvez no próximo. No Natal.»

Data: 03/09/1987
Local: Revista Foot
Evento: Entrevista

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Comments

  1. Rei Leão

    Cada memória publicada neste site é uma relíquia para quem se interessa pela história do clube e daqueles que o representaram.
    Parabéns e obrigado pelo trabalho.

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