Neste dia… em 1960: Octavio de Sá – Um guarda-redes sensacional
O PRIMEIRO TREINO
Foi no Estádio Pina Manique. Só então conheceu o treinador, que era Picabea. Os «internacionais» tinham sido dispensados e só Carlos Gomes compareceu, talvez para ver em acção o seu novo rival.
Albano pôs-se a chutar à baliza. Parece impossível como um jogador tão pequeno lançava remates tão grandes. Ele disse que era só para aquecer, mas, a menos que estivesse cheio de frio, desatou a rematar em todas as posições e feitios.
Cheio de vontade, Octávio atirava-se a todas as bolas. Tinha de mostrar a todos – treinador, jogadores e a algum dirigente que pudesse estar a observá-lo – que não era nenhum «anjinho»…
Acabou o treino absolutamente derreado e todo esfolado, mas satisfeito consigo próprio.
AUSPICIOSA ESTREIA CONTRA O BENFICA
E Octávio passou a treinar-se regularmente. Acabou o «defeso» e começou o campeonato nacional. Logo na jornada inaugural – o jogo nocturno com a Académica, Carlos Gomes foi expulso.
Dada esta circunstância fortuita, Octávio de Sá teve uma estreia no Sporting absolutamente rara, quiçá única, pelo menos desde há uns tempos para cá. Realizou o primeiro jogo no Sporting justamente no encontro de maior responsabilidade: um Benfica-Sporting !
Octávio portou-se brilhantemente. Uma estreia auspiciosa em todo o sentido. O resultado da partida foi um empate (1-1) e o golo sofrido foi num «penalty», marcado por José Águas.
Realizou mais dois jogos – um contra o Valência e outro na inauguração do Estádio do Restelo. Aí deu-se um golpe de azar. Numa jogada fortuita, ao lançar-se aos pés de «Matateu», quebrou um dedo, o que o forçou à ficar inactivo durante algum tempo.
Octávio passou a alinhar regularmente na reserva. A sombra de Carlos Gomes era muito grande… Mas para o seu novo treinador, Enrique Fernandez, não era tão grande como isso.
Corria o Campeonato Nacional de 1957/58 – aquele em que o Sporting reconquistou o título. Estava-se nas magníficas cabinas do Estádio do Restelo e os jogadores começavam a equipar-se. Carlos Gomes pendurou o casaco mas Fernandez disse secamente que jogaria Octávio de Sá. Este estava bem longe de tal coisa, mas passado o momento de surpresa, equipou-se e jogou – bem, como sempre costumava fazer, sempre que era chamado os primeiro «team».
Nesse campeonato, Octávio ainda participou em mais três jogos, portando-se sempre à altura do bom nome dos guarda-redes «leoninos».
INTERNACIONAL MILITAR E NAS «PROMESSAS»
No cumprimento do serviço militar, Octávio de Sá, como não podia deixar de ser, foi aproveitado como jogador de futebol. Deu-se a grata circunstância da selecção militar participar numa digressão às nossas Províncias Ultramarinas, o que permitiu a Octávio e a outros camaradas ultramarinas rever a querida terra natal.
Na metrópole, Octávio de Sá foi internacional contra a selecção militar da Inglaterra, num jogo nocturno realizado no Estádio Alvalade e que forneceu mais uma vitória brilhante à nossa selecção das Forças Armadas. O resultado foi 3-1 e uma vez mais Octávio satisfez a confiança daqueles que nele confiavam.
NOVAS PERSPECTIVAS COM A SAÍDA DE CARLOS GOMES
Ao cabo de dois anos de permanência na metrópole, o Sporting e Octávio de Sá renovaram o contrato por mais um biénio, então em melhores condições para o clube. Simultaneamente, a saída de Carlos Gomes para Espanha veio dar novas perspectivas à carreira de Octávio.
O moçambicano correspondeu inteiramente, Foi quase totalista do «Nacional».
OCTAVIO DE SÁ respondeu a sorrir:
USA BRILHANTINA NO CABELO? – Não, porque já sou brilhante por, natureza.
PREFERE ANDAR EM CABELO OU USAR CHAPÉU OU BONÉ? – Em cabelo, enquanto não for careca.
COSTUMA USAR ÓCULOS ESCUROS? – Não, são bonitos demais para andarem escondidos.
USA CHAPÉU DE CHUVA? – Não posso com tal coisa.
QUAL A MARCA DE CIGARROS DE QUE MAIS GOSTA? – «Kent».
QUAL O GÉNERO DE MÚSICA PREFERIDA? – Toda
QUAL O DISCO QUE MAIS APRECIA? – «Come Softly to me», com Marino Marini.
GOSTA DE FADO? – Sim, sobretudo em casas típicas.
QUAL A CANTADEIRA QUE MAIS ADMIRA? – Amália.
QUAL O GÉNERO DE ESPECTÁCULOS QUE MAIS APRECIA? – Acima de tudo desportivo, depois cinema.
QUAL O FILME DE QUE MAIS GOSTOU? – «Páginas da vida».
O ACTOR QUE MAIS ADMIRA? – Montgomery Clift.
E A ACTRIZ? – Eleonora Drago Rossi.
QUAL O CÓMICO QUE MAIS O FAZ RIR? – Danny Kaye.
QUAL O GÉNERO DE LEITURA PREFERIDA? – Romances policiais.
AUTOR PREDILECTO? – Mickey Spillane.
QUAL O PRATO QUE MAIS LHE AGRADA? – Galinha de fricassé.
E A BEBIDA – Whisky com «ginger ale».
PREFERE FAZER A BARBA EM CASA OU NO BARBEIRO E COMO? –
Em casa, com «gillete».
QUAL O TOM PREFERIDO NAS GRAVATAS? – Azul.
A COR PREFERIDA PARA OS FATOS? – Azul e castanho.
E PARA AS CAMISAS? – Brancas ou «beige.
PREFERE USAR CINTO OU SUSPENSÓRIOS? – Acho que os suspensórios são para quando não chegar o cinto…
PREFERE PASSEAR DE MANHA, À TARDE, OU À NOITE? – Depende do passeio e da companhia.
PREFERE LOIRAS, RUIVAS OU MORENAS? – Todas, «cocktail».
QUAL O GÉNERO DE LOCOMOÇÃO QUE MAIS LHE AGRADA? – Avião a jacto.
QUAL A CIDADE QUE MAIS ADMIRA? – Hong Kong.
QUAIS OS TRÊS DESPORTOS QUE MAIS ADMIRA COMO ESPECTADOR? – Atletismo, natação e hipismo.
E COMO PRATICANTE? – Basquetebol, futebol e atletismo.
QUAL O FUTEBOLISTA QUE MAIS APRECIA? – Garrincha.
QUAL O ADVERSÁRIO QUE MAIS GOSTA DE DEFRONTAR? – O Benfica, apesar de tudo… QUAL FOI O MOMENTO MAIS ALTO DA SUA CARREIRA? – Creio que não cheguei ainda ao alto e que há ainda algo para subir…
Fonte: Ídolos do Desporto
Data: 17/06/1960
Local: Ídolos do Desporto
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