RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Quinta-feira, Março 28, 2024

Neste dia… em 1982 – Sporting goleia na Amoreira por (0-3) e faz a festa de campeão

Antes de baixar o pano para o campeonato soltar o último suspiro, já é rei no futebol português: o Sporting, mesmo que não averbe mais qualquer ponto, já é dono e senhor do trono. Ontem, no Estoril, Manuel Fernandes e Jordão estiveram irmanados na conquista do trio de golos que fez o resultado: depois, foram os abraços, as lágrimas, a festa imensa que meteu já champanhe mas será incomensuravelmente maior quando os comandados por Allison, no domingo próximo, entrarem em Alvalade para a ovação maior de 60 mil amigos. Enquanto os «leões» já repousam, como guerreiros satisfeitos com a caça, a hora negra bate à porta do União de Leiria e desse decantado Belenenses que, pela 1.º vez na sua história, perde o poiso entre os maiorais para derimir meças na subalternidade, pelo menos durante a época próxima.

Sporting: parabéns, grande campeão!

Por Neves de Sousa

Nada a contrariar: o Sporting é campeão. Foi o melhor «onze» no torneio, o ataque mais produtivo, o símbolo que menos desaires conheceu, embora passando por vicissitudes e, sobretudo, várias vezes tendo contra si ventos estranhos e inesperados: a tudo resistiu, mesmo quando em casa própria sabe-se lá o rebuliço que saltitava. O último teste, feito durante uma sofrida semana de «consta, não consta», desembocou no Estoril: e os «leões», sem por um pequeno segundo se atemorizarem com o facto dos «canarinhos» estarem invencíveis no seu reduto. Tal como nos tempos heroicos daquele «team» que valia Valongos, Bravos, Albertos e Rauls Silvas e que, como recordava Fialho Gouveia, já há 40 anos baqueava sempre que chegava do Lumiar a embaixada: a história repetiu-se.

Ontem, perante a moldura mais densa que já se viu no «António Coimbra da Mota», o leão rugiu como indesmentível rei de toda esta selva que é o futebol português. Aproveitando um falhanço de Manuel Abrantes (que soltou para a frente uma bola chutada por Oliveira) surgiu Manuel Fernandes a rasgar a virgindade do véu da noiva. Andava, então, perdido pela extrema direita. O esquerdino Diamantino, sem que mais ninguém (excepto o jovem técnico Ruas) atinasse na utilidade da estratégia. Aliás (e por estarmos com a mão na massa) aqui se solicita ao moço que quer enveredar pela dura carreira de treinador que não copie modelos errados, adopte um estilo menos teatral: ontem, com o jogo, chegou a andar dentro do palco como se estivesse em pelada de solteiros-casados, gesticulando como que a procurar acirrar os animais de uma plateia que estava totalmente rendida à arte das visitas.

Bem: quando veio o intervalo, já Rosa Santos perdoara (ou não viu com olhos de legislador) uma grande penalidade signé-Paris e restava em aberto a hipótese do Estoril galopar, inclusive provocar um dissabor a vinte mil que tinham bandeira e gorro, emblema e coração presos aos verdinhos. Porém, com a argúcia feita de velho macaco, eis que Meszaros aproveita sabiamente o vento: pontapeia a bola com tal força que ela só vai afrouxar a 80 metros de distância, entre um José António hesitante, um Manuel Abrantes perturbado e um Jordão de cabecinha atenta. Foi o 2-0, acabavam os sustos para as visitas, começava o Estoril a debruçar-se apenas para a sua guerrilha, que volta tá para domingo. Meszaros tinha ficado como o mais eficiente dianteiro sportinguista.

Só que o Sporting ainda fez o 3-0: impecável livre cobrado por Oliveira, cabeça a compasso de Manuel Fernandes, jogada trabalhada e bem fixada em treinos laboratoriais. Depois, foi o soltar de gargantas, as pernas que corriam na tentativa de um pedaço de camisola. Todavia, avisados e precavidos, Os «leões» correram a cem à hora para o balneário e guardaram a concessão de «souvenirs» e a solta de pombos, os foguetes e a charanga, para as 16 de domingo, perante o parceiro de Vila do Conde.

Jogo extremamente correcto, este em que Rosa Santos puxou por cinco vezes do «icterícia» somente por questões menores. Bela réplica estorilista, com Ernesto, Vieirinha, Hélio, Manaca e Pedro furos acima da vulgaridade. No Sporting, seria injustiça destacar quem quer que seja: em Manuel Fernandes (um «capitão» de dimensão extra) como no presidente João Rocha, do técnico Allison ao simples roupeiro, desde o prestigioso Manuel Marques ao secretário Armando Biscoito, do eterno suplente ao mais humilde adepto desse símbolo em época de ouro, a hora é de beber champanhe e estreitar peito com peito. Só um homem, no lavar dos cestos, parecia triste e fora do ambiente de euforia absoluta: Jaime Lopes. O jovem dirigente do Departamento de Futebol do Sporting, estava sem papas na língua, soltando o seu desabafo: Tive vampiros em meu redor, quiseram destruir o meu trabalho: deixo-lhes agora a porta livre.

É isto, amigos: na hora da juventude, nem sempre a era dos velhos restelianos cede passagem à guarda que pede passagem, ganha títulos, conquista amizades e está ali para as curvas, mesmo que muito sinuosas. Mas esqueça isso: festa é festa.

Arbitragem que poderia ter sido excelente mas perdoou uma grande penalidade estorilista (falta de Paris sobre Jordão) do juiz bejense Rosa Santos, que estava acompanhado por Francisco Lobo e Joaquim Rosa.

Estoril: Manuel Abrantes; José António; Vieira, Paris, Hélio e Leo (Pedro, 60); Ernesto, Manaca e Jerónimo; Diamantino (Melo, 70) e José Abrantes.

Sporting: Meszaros (Fidalgo, 85); Ademar, Bastos, Eurico e Mário Jorge: Lito, Marinho e Virgílio; Manuel Fernandes, Oliveira (Alberto, 71) e Jordão.

Golos: Manuel Fernandes (17 e 70) & Jordão (47).

Cartão amarelo para Manaca, Diamantino, Melo, Jordão e Ademar.

Fonte: Diário de Lisboa

Data: 09/05/1982
Local: Estádio António Coimbra da Mota
Evento: Estoril (0-3) Sporting, CN - 28ª Jornada

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