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Sexta-feira, Maio 03, 2024

Neste dia… em 1976, Sporting vence na Amoreira com um golo solitário de Marinho

Torres: esse indomável “patife”

Por Neves de Sousa

No esplendor de um belíssimo espectáculo de aplicação, força, alegria, virilidade e educação, ofuscante na hora e meia de pequeno temporal, os «leões» arrancaram novo sucesso: mas a figura primordial do «show» foi um jovem de 38 anos, José Torres de seu nome que, qual indomável patife, dominou todas as rédeas do Estoril, e, atacando como defendendo como orientando foi o expoente maior na tarde de chumbo.

Triunfou o Sporting: a avalancha de ataques que saíram dos pés de Da Costa, Inácio, Baltasar e, muito especialmente, do remoçado e esfuziante Fraguito, esbarraram numa trindade (João Carlos, Amílcar, Carlos Pereira) que só uma vez seria desfeiteada, no remate de viés saído do pé direito de Marinho, em jogada que relampejou (siderando) Rui Paulino e suas hostes.

Mas, para além dessa construção de continuas progressões atá ao reduto extremo, à guarda de um guarda-redes ontem demasiado inseguro (lama e bola escorregadia, dizem alguma coisa) para resistir aos golpes que (subliminarmente) podiam ter sido fatais para as cores lisboetas, não foram Fernando Martins e Clésio e Eurico viverem de costas viradas para a sorte.

Porém, o grande estilo foi todo de Torres. O avozinho da moçada. Qualquer coisa de inesquecível, esse exemplo puro de entusiasmo para brincar com a bola: e, quando se poderia colocar em paralelo com outros casos de longevidade (desde Grazina a Mathews) eis que o velho «Magriço» ganha idêntico galarim, neste futebol moderno, que é feito de pulmão e raça, pernas e inteligência. Só por ele o Estoril merecia um empate dirão os apaniguados do emblema de Medeiros. Mas, como explicar (então) os 18 «cantos» quase em sequência, que assolaram as redes de Paulino? É isso: de um lado, um «team» cheio de personalidades. Do outro, alheio da sorte, um bloco de trabalhadores devotados. O golpe da fortuna tocou, como vai sendo habitual, ao que galopa com os bolsos a deitar por fora. E o Sporting, amigos, este Sporting 76, é o mais flagrante caso de auto confiança e velocidade nas asas. Corta, retalha, calcina, cilindra, derruba, destrói, corrompe: tudo em alternantes ate o contrário mais valente cair por terra. E ninguém lhe podia bater o pé com mais genica que um Estoril ainda a sonhar com entrada europeia, no ano mais bonito da sua história.

Há que mencionar a discreta e segura arbitragem (Lopes Martins, de Lisboa), magnífica em todos os recortes. É necessário falar de como toda a cortina de Conhé esteve bem (Da Costa, Laranjeira, Inácio e Mendes, assim por ordem). De como Fraguito volta à batuta e Baltasar prossegue milhas à distância de um Valter em recuperação. De como Marinho parece Fénix, Keita é uma seta venenosa e Manuel Fernandes trabalha com os pés como muito bom doutorado faz com a cabecinha. Depois, fale-se do modo espectacular como o quarteto Fernando-João Carlos-Amilcar-Pereira só uma vez não evitou a lágrima ao canto do olho. Como, lá para diante, Cepeda está pesado e confuso; Clésio galga erva como sopa, Móia trouxe tórax, Eurico dispara com fulgurância e Óscar vive em momentânea penumbra. Como é necessário aproveitar Manuel Fernandes e reparar bem em Fernando Martins, que está alia pedir passagem.

Mas, de chapéu na mão, aqui estou. Rendido. Aplaudindo, saindo da insensibilidade que é forçoso tomar conta de quem está (por dever de ofício) fora dos nervos da luta. Enquanto se deslumbra com a forca motriz do Sporting, fica-se à espera de nova façanha de José Torres, um modelo de como se pratica Desporto, seja (ou não) em troca do ganha-pão.

Fonte: Diário de Lisboa

Sob a arbitragem de Lopes Martins (Lisboa), o Sporting alinhou com:

Conhé; Inácio; João Laranjeira (Capitão), José Mendes, Da Costa; Valter Costa, Fraguito e Baltasar; Marinho, Salif Keita e Manuel Fernandes.

Golo: Marinho (36′) (Sporting)

Data: 19/12/1976
Local: Estádio António Coimbra da Mota (Estoril)
Evento: Estoril (0-1) Sporting, CN - 11ª Jornada

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