RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Abril 26, 2024

Neste dia… em 1964 – Golo de Osvaldo Silva apura Sporting para a Final da Taça das Taças

Um Sporting, poderoso e irresistível bateu o ultra-defensivo Lyon ficando apurado com brilho para a final

O DOMÍNIO TERRITORIAL DO CLUBE «LEONINO» FOI IMPRESSIONANTE

por FERMIN S. DIAZ (Especial para o «Diário de Lisboa»)

MADRID – O Sporting Clube de Portugal venceu o Olympique de Lyon, por 1-0, no jogo de desempate das meias-finais da Taça dos Vencedores das Taças e defrontará o MTK de Budapeste, em Bruxelas, no próximo dia 13, na final.

O golo que valeu a vitória foi marcado por Osvaldo Silva, aos 20 minutos da segunda parte, num remate, à meia volta, que colheu de surpresa o guarda-redes e os defesas contrários. A bola viera-lhe de Morais, que a recolhera, tocada por Aubour, que não pudera de outro modo defender um bom remate de Geo.

A bola de saída pertenceu ao Lyon, mas foi o Sporting que desde logo se apoderou do comando do jogo, repetindo-se exactamente o que já nos dois jogos anteriores se verificara. O Lyon começou a agir sobre a defesa, ensaiando contra-ataques a que faltou, porém, profundidade, em grande parte devido ao sentido de antecipação e à boa colocação dos portugueses no terreno.

A maior parte das operações desenvolveu-se a meio do terreno, mas foi ao Sporting que coube o maior quinhão das avançadas. E prova dessa maior insistência na busca do caminho das redes estão os cinco «cantos» que os lisboetas forçaram, ao passo que os seus defensores não foram obrigados a ceder um só.

Na maior parte dos casos, quem cedia os «cantos» era Aubour, o guarda-redes gaulês, que teve intervenções frequentes, blocando e desviando numerosos remates dos avançados portugueses.

Com o início da segunda parte, os franceses melhoraram, embora sem conseguirem melhor sorte nas suas jogadas. Aos 22 minutos, Di Nallo teve um remate perigoso, que Carvalho defendeu com segurança. Novamente, aos 55 minutos, Carvalho voltou a estar em acção.

E surgiu, então, o golo do Sporting, que Osvaldo Silva marcou. Desse momento em diante, o jogo endureceu, cabendo as culpas aos jogadores franceses, que passaram a actuar com grande violência, tanto defesas como avançados.

Foi aos 77 minutos que se deu o incidente mais grave: Dumas, numa avançada, carregou violentamente Carvalho, com maldade, fazendo-o estatelar-se no solo. O guardião português respondeu e foi a vez de Di Nallo cair. O árbitro, que seguira o lance, expulsou Dumas, ficando os franceses, nos últimos 13 minutos, só com dez homens em campo. Desse momento em diante podia considerar-se resolvido o desafio. Com falta de um elemento, o Olympique, que jamais fora uma grande equipa, desceu nitidamente. E o Sporting ainda tentou aproveitar-se da sua superioridade numérica, carregando sobre o campo do adversário, em busca de novo tento.

Não se alterou o marcador, porém, e o jogo terminou com o resultado de 1-0. Assim, em três jogos, as duas equipas marcaram, ao todo, três golos, já que os dois anteriores haviam terminado com empates, 0-0 e 1-1.

Disputou-se o encontro no grande Estádio Metropolitano, do Atlético de Madrid, que leva mais de 75 000 espectadores. A assistência, porém, foi reduzida – uma dezena de milhar, aproximadamente, com grande percentagem de portugueses – uns residentes na Espanha, outros vindos de Portugal.

Antes do encontro houve grupos de portugueses em grandes manifestações, gerando-se um clima de tensão. Eram muitas as bandeiras portuguesas e os galhardetes e estandartes do Sporting.

O relvado estava em perfeitas condições, não havia vento, e a temperatura rondava os vinte graus.

Arbitrou o encontro o espanhol Gonzalez Echevarria, que teve o principal defeito de não exercer maior autoridade quando o jogo começou a endurecer. Mesmo que na primeira parte tivesse cortado algumas jogadas, para mostrar que não deixaria praticar jogo duro, não ficaria o seu trabalho ofuscado por isso. E no segundo tempo, em especial depois da marcação do golo dos sportinguistas, era seu dever tomar conta das rédeas e não deixar que a turma francesa entrasse pelo caminho da brutalidade – com o que, afinal, ninguém ganhou, acabando por ser prejudicada a própria equipa lionesa.

Tácticamente as equipas equivaleram-se. Ambas adoptaram a variante defensiva do 4X2X4, com uma formação aproximada do 4X3X3. No Sporting, a cortina era constituída por Pedro Gomes, Alexandre Baptista, Hilário e José Carlos. Havia, depois, a linha média, com Pérides, Mendes e Geo (ou Osvaldo Silva). Finalmente, à frente, Osvaldo (ou Geo), Mascarenhas e Morais.

Os franceses, pelo seu lado, adoptaram formação semelhante. O seu mais famoso elemento, Combin, teve como encarregado de o marcar o português José Carlos. Quando entrava na parte final dos lances, era Alexandre Baptista que dobrava José Carlos. O sistema mostrou-se a tal ponto valioso que Combin não conseguiu aplicar um só dos seus perigosos remates.

Os avançados mais em evidencia, na turma portuguesa, foram os dois interiores, Geo e Osvaldo, cuja perfeição técnica pesou definitivamente no confronto com os seus opositores directos. O elemento menos dotado do ataque foi Mascarenhas, sem poder físico para lutar com os defesas franceses, todos eles atléticos e duros. Morais trabalhou bem junto à linha lateral, embora repetisse muito o mesmo padrão de jogada. Quando se internou, em permuta com Mascarenhas ou com Geo, mostrou menos qualidades. A linha básico do conjunto sportinguista foi a do meio do terreno. Mendes e Geo formaram o melhor par de catapultas, numa tarefa constante e profícua de lançamento dos seus homens para a frente.

Da defesa bastará apontar o resultado do seu trabalho. O Lyon ficou em branco. Nas poucas vezes em que os atacantes franceses conseguiram passá-la, Carvalho mostrou que é um bom guarda-redes e teve especialmente duas defesas, no princípio da segunda parte, que deram a toda a equipa a certeza de que estava em forma. O mais regular foi Hilário, o mais espectacular Alexandre Baptista.

As equipas alinharam:

SPORTING – Carvalho; Pedro Gomes e Hilário; F. Mendes, A. Baptista e José Carlos; Pérides, Osvaldo Silva, Mascarenhas, Géo e Morais.

OLYMPIC – Aubour; Djorkaeff e Mignot; Glimziski, Polak e Degeorges; Dumas, Di Nallo, Combin, Hachti e Rambert.

Risos e lágrimas no vestiário dos portugueses

MADRID – Na cabina do Sporting, depois do encontro, havia grande emoção, com risos, lágrimas e abraços. Entusiasmo, numa palavra.

Francisco Reboredo, o treinador do Sporting, declarou:

– O jogo foi difícil, porque os franceses, mesmo a jogar mal, são extremamente perigosos. Não desejo sublinhar qualquer fase especial do encontro nem qualquer dos nossos jogadores. Bastará dizer que toda a equipa cumpriu e que sinto grande satisfação com o resultado que obtivemos. Para já, conseguimos chegar à final do torneio. E conseguir, entre tantas equipas de valor que houve na prova, chegar à final de Bruxelas já dá nome e glória ao Sporting.

Apreciando a equipa francesa, Reboredo disse:

– Os jogadores que mais me impressionaram foram Rambert, que me parece o jogador de melhor formação técnica de todo o conjunto, e Combin, que é um jogador nato, um fora de série.

Finalmente, uma comparação:

– Dos três encontros, o mais difícil foi o que disputámos em Lyon. Foi nesse, realmente, que os jogadores do Sporting mais dificuldades tiveram. Mas foi também aquele, dos três, em que a equipa portuguesa jogou melhor.

Osvaldo Silva explica o golo

Osvaldo Silva mostrava-se satisfeitíssimo, por ter marcado o golo da vitória. E contou:

– Na altura em que me preparei para receber a bola, por um segundo ou dois, tive a impressão de que os defesas iam cair sobre mim e evitar o remate. Mal a bola me chegou aos pés, porém, fiquei com a certeza do que ia acontecer. Estava muito perto da baliza e não poderia falhar…

OS FRANCESES, reconhecem mérito na vitória «leonina»

Lucien Jasseron, treinador do Lyon, pouco disse mas não se furtou ao choque:

– O resultado pode considerar-se normal, entre duas equipas que já demonstraram ter valor semelhante. Desta vez, os portugueses mostraram-se mais rápidos e os nossos marcadores de golos falharam. O resultado só poderia ser favorável ao Sporting.

Combin, o «artilheiro» com que se contava, disse apenas:

– Não tive oportunidade de rematar em boas condições. Quanto ao resto, os portugueses jogaram melhor do que nós.

Fonte: Diário de Lisboa

Data: 05/05/1964
Local: Estádio Metropolitano (Madrid)
Evento: Sporting (1-0) Olympique Lyonnais, 1/2 finais Taça das Taças

Artigos relacionados

Comments

Leave a Reply

XHTML: You can use these tags: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>