RUGIDO VERDE

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Domingo, Maio 05, 2024

Neste dia… em 1959 – Sporting goleia V. Setúbal por 8-0

Seminário aponta o 7-0.

Num desafio de futebol há sempre três espécies de «torcedores»: os que viram o jogo, os que o escutaram através da rádio e os que se limitaram a saber, ao fim do dia, o resultado…

Para os últimos, os mais: alheios ao que se passou em Alvalade, o 8-0 do marcador não diz tudo. Apenas, revelam que uma das equipas se mostrou capaz de boa produção em frente das balizas, enquanto que a outra foi ineficaz ao máximo.

Em boa verdade, o Sporting não foi de tal maneira brilhante que os oito a zero representassem o justo prémio de uma actuação cheia de mérito. Nada disso, o resultado traduz-se, apenas, como prémio da única equipa que esteve no terreno com capacidade para atacar – e que nos últimos vinte minutos soube valer-se da terrível arma (que a equipa possui, mas que raras vezes aparece…) de atirar bem à baliza!

O Vitória de Setúbal foi opositor demasiado frágil para um Sporting em Alvalade. Limitou-se a destruir – e só raras vezes, muito raras, deu mostras das suas possibilidades de jogar ao ataque.

Pode apontar-se, como único mérito dos visitantes, o terem resistido tanto tempo a perder, apenas, por 1-0… Essa resistência, porém, resultou mais da pobre conduta do adversário do que, propriamente, do labor defensivo dos sadinos.

Até ao momento em que o resultado começou a tomar expressão de nitidez, o Sporting exibiu-se discretamente. Insistiu muito pelo lado esquerdo e esqueceu-se demasiado da extrema direita, o que prejudicou o trabalho de toda a equipa, com o pensamento, talvez, em Seminário.

Há um pouco de exagero na crença e descrença do publico chamado a julgar o valor de Seminário. Ele nem é «fenómeno» nem desilusão. É, antes, um bom jogador. Principalmente um bom jogador de equipa – o que é já uma grande virtude.

A exagerada publicidade, que se fez, antes de tempo, à sua volta, é-lhe prejudicial no início da sua carreira em Portugal. Uns – demasiado crentes – mesmo quando Seminário remata a bola por cima da barra, como Morais, Hugo ou qualquer outro mortal, batem, palmas e acham bem, Outros – injustificadamente pessimistas – parecem dispostos em só acreditar no Peruano, quando ele não falhar um único passe, um único remate e contribuir, em todos os desafios, para a vitória do seu clube.

Das equipas da Província que vimos ultimamente – a do Vitória de Setúbal foi a que menos nos convenceu. Talvez uma exibição infeliz, que não pode servir de exemplo para se avaliar o real valor da turma. Mas, ontem, foi assim mesmo: os Setubalenses não convenceram!

Não é de estranhar que tivessem actuado sobre a defesa – talvez, até, por imposição da força do adversário – mas… impunha-se mais nos contra-ataques.

A defesa aguentou-se bem enquanto o ataque do Sporting não jogou. Logo, porém, que o quarteto dianteiro «leonino» começou a carrilar… os golos apareceram – com impressionante facilidade.

Mourinho (por socar, em vez de agarrar a bola) só teve culpas no segundo tento.

Decerto que o Sporting apresentou, ontem, a melhor formação de que dispõe neste momento. Isso não contribuiu, porém, para uma exibição de conjunto de grande mérito. Só depois dos 2-0 o ataque «leonino» desencadeou uma série de avançadas muito bem delineadas – e, então, veio ao de cima a categoria do triunvirato Faustino-Fernando-Seminário. Os três que estiveram na base da vitória,

Boa arbitragem de Abel da Costa. Só o nervosismo de alguns espectadores, perturbados pela demora da irritante escassez de um golo de vantagem no marcador, pode ter sido a «razão» de tantos protestos antes do intervalo. Quando as bolas começaram a aparecer em série nas balizas de Mourinho, os protestos acabaram.

Por HENRIQUE PARREIRÃO no Diário de Lisboa

Ficha do jogo:

Estádio: José Alvalade

Árbitro: Abel da Costa (Porto)

Sporting: Octávio de Sá; Mário Lino, António Morato, David Júlio e Hilário; Fernando Mendes (cap.) e Pérides; Hugo, Faustino Pinto, Fernando Puglia e Seminário.

Treinador: Fernando Vaz

V. Setúbal: Mourinho; Soares, Manuel Joaquim, Sidney, Vaz, Alfredo, Jacinto, Bira, João Mendonça, Casaca e Virgílio.

Treinador: Janos Tatrai

Golos: Faustino Pinto (13′, 53′, 80′); Fernando Puglia (58′), Seminário (82′, 83′ e 87′) e Hugo (88′) (Sporting)

Data: 01/11/1959
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (8-0) V. Setúbal, CN - 7ª Jornada

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