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Sexta-feira, Dezembro 05, 2025

Campeão da liberdade na melhor época de sempre

A 9 de Junho de 1974, o Sporting, primeiro campeão em liberdade, fez a “dobradinha” ao vencer no Jamor a Taça de Portugal frente ao “eterno” rival Benfica, por 2-1, após prolongamento e finalizava uma época com grande brilhantismo.

Equipa que jogou a final da Taça, em cima, da esquerda para a direita: Vagner, Alhinho, Nélson Fernandes, Baltasar, Bastos e Dinis. Em baixo, pela mesma ordem: Manaca, Marinho, Damas, Paulo Rocha e Dé.

O Jornal Diário de Lisboa, classificava assim o jogo: “a queda facial do poderoso clube da águia, perante os operários de João Rocha” e “a suprema humildade com que o Sporting ripostou à arrogância dos «encarnados»”.

Foi um jogo com características próprias, ainda com o 25 de Abril muito fresco na memória, toda a gente ávida de liberdade, as crianças divertindo-se sobre a relva num dia inesquecível para milhares, a multidão a extravasar-se de alegria até aos limites do rectângulo de jogo, chegando mesmo a invadi-lo sempre que havia um golo e tudo com direito a transmissão pela TV, coisa rara na altura.

Este jogo marcou também o fim do corte de relações entre os rivais lisboetas (que vinham de um período de desencontro de esforços e arremessos de guerrilha), por influência de Spínola e Palma Carlos

No Sporting, o destaque individual foi para Chico Faria (esteve em todas), e Damas que contabilizou excelentes defesas. Do lado do Benfica, Eusébio esteve apagado e o mais inconformado foi Jordão.

Nené, isolado por Jordão, abriu o marcador aos (32’), a partir daí o Benfica tentou segurar o jogo, mas não impediu o empate de cabeça de Chico Faria, a passe de Dinis, mesmo ao cair do pano (89’), levando o jogo para prolongamento e ao êxtase os adeptos leoninos que não evitaram um “banho de multidão”. No prolongamento, Marinho faria o golo da vitória aos (107’) após assistência de Chico Faria. Três remates fatais na baliza norte.

Fechava-se assim, com chave de ouro, a época de 1973/74, a de maior sucesso na história do Futebol do Sporting. Campeão nacional, vencedor da Taça e semi-finalista da Taça das Taças, o Sporting orientado por Mário Lino e com Hector Yazalde no seu máximo esplendor, obteve os títulos prometidos pelo seu novo Presidente, João Rocha, eleito em 7 de Setembro de 1973, mais cedo do que o próprio esperava.

Festa do título na última jornada no Barreiro.

No campeonato foram 23 vitórias, 3 empates e 4 derrotas, 96 golos marcados (46 dos quais por Yazalde, coroado máximo goleador da Europa), 21 sofridos e 49 pontos, mais dois do que o rival da Luz. Alhinho e Nélson Fernandes somaram todos os minutos no Campeonato, seguidos de Damas que apenas falhou um jogo.

Na Taça das Taças, o Sporting fez uma carreira brilhante, eliminando respectivamente, Cardiff City, Sunderland e Zurich, vencedores das Taças do País de Gales, Inglaterra e Suiça, e apenas sucumbiu nas meias-finais aos pés do Magdeburgo, da então República Democrática Alemã e surpreendente vencedor da prova.

O jogo da primeira mão, em Alvalade, terminou 1-1 e não contou com o goleador Yazalde ausente por lesão. Nesse jogo o Sporting desperdiçou inúmeras oportunidades e Dinis falhou ainda uma grande penalidade. Marcaram Manaca, pelo Sporting, e Sparwasser, pelo Magdeburgo, o qual, no Verão desse mesmo ano, causaria uma das maiores surpresas do mundial ao marcar o golo que derrotou a RFA. No jogo da segunda mão na Alemanha Oriental, sem poder contar com Dinis e Yazalde, os dois por lesão, o Sporting perdeu por 2-1, apesar de ter disposto de algumas boas oportunidades para obter um resultado diferente. A 12 minutos do fim, Marinho reduziu e devolveu a esperança, mas Tomé nos últimos minutos foi traído por um ressalto da bola na relva e falhou à boca da baliza, o golo tão ansiado que daria a passagem à final.

Equipa retida no aeroporto na RDA.

O jogo de Magdeburgo passaria à história também pela data em que foi disputado: 24 de Abril de 1974. A equipa do Sporting saiu de Portugal sob o Estado Novo, mas voltaria a casa já depois da Revolução. Com todos os voos para Lisboa cancelados, o regresso a Portugal tornou-se uma pequena odisseia, com a equipa a voar até Madrid e depois a tomar o autocarro para Badajoz onde, depois de esperar uma noite porque a fronteira estava fechada, voltou enfim a pisar o solo nacional.

Golo de Yazalde no 3-0 da última jornada, no Barreiro.

A época de 1973/74 foi uma época especial, recheada de grandes acontecimentos para o emblema verde e branco, incluindo esse dia de fins de Abril em que, sem o saberem, jogadores e dirigentes deixaram eternamente para trás um Portugal ditatorial, regressando depois a um país em mudança e onde tudo parecia possível.

Nas competições caseiras, o Sporting venceu tudo o que havia para vencer e foi a equipa que mais lutou, equipa que mais deslumbrou e a equipa que mais golos marcou. Num país renascido, nascia a lenda dos Campeões da Liberdade e nascia também, a lenda “Chirola”, marcador de cinquenta golos em jogos oficiais, 46 no Campeonato e 4 na Taça das Taças. Curiosamente, Yazalde não jogou um único minuto na Taça de Portugal

Data: 09/06/1974
Local: Estádio Nacional - Lisboa
Evento: Final da Taça de Portugal

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Comments

  1. Paulo Sales

    Recordo com saudades essa equipa, extremos diabólicos, Yasalde que exemplo, Damas elástico, Fraguito genial, Baltazar guerreiro, uma excelente equipa com futebol de ataque.
    Lembro-me dos duelos com o eterno rival no campeonato, perdemos ambos os jogos e ambos fui ver, o rival tinha uma excelente equipa recheada de grandes jogadores, o que ainda valorizou mais o campeonato.
    Na final e sem Yasalde, lembro-me tao bem de ver o jogo na televisão a preto e branco, como se dizia.
    Épica época, na meia final em Alvalade, ouvi o relato no Alentejo, novamente sem Yasalde, falhamos um penalty e um autogolo deu o empate aos alemães, acho que foram as primeiras lágrimas vertidas pelo Clube.
    Excelente tópico, parabéns pelo vosso espaço, que seja uma referência na Verdade do nosso Clube, é o que desejo nestes dias onde tudo nada parece Ser…

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