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Sexta-feira, Março 29, 2024

Bruno de Carvalho: “Disse a Godinho Lopes que ele teria o mandato mais curto da história do Sporting”

FOTO: ENRIC VIVES-RUBIO

Bruno de Carvalho, ex-candidato à presidência do Sporting, está certo de terem existido irregularidades nas eleições do passado dia 26 e acusa o presidente da mesa da assembleia geral de parcialidade e de ter faltado à verdade. O empresário garante que irá até às últimas consequências para repetir o acto eleitoral. Se falhar, voltará às urnas dentro de três anos.

PÚBLICO – Como fundamentou a providência cautelar interposta para impugnar as eleições?

BRUNO DE CARVALHO – Com as inconformidades que foram cometidas e que já referi muitas vezes. Houve quase três mil votos inexplicáveis. Os números de votantes e o sistema informático não batem certo. As explicações podem ser várias, mas até agora não ouvi nenhuma coerente. Há milhares de denúncias na Internet. Depois, há outros aspectos estranhos em todo o processo. Por exemplo, por que é que o presidente da assembleia geral, Lino de Castro, mentiu ao dizer que ninguém lhe pediu uma recontagem dos votos? Acabou, mais tarde, por admitir que o meu delegado lhe pediu uma recontagem, mas recusou alegando questões de cansaço e segurança. Se calhar, até por questões de segurança, teria sido mais seguro ter adiado o anúncio dos resultados para o dia seguinte, depois de uma recontagem, com todos os candidatos a explicarem a situação. Mas ele tinha pressa em anunciar a vitória de Godinho Lopes.

A assembleia- geral eleitoral não estava bem organizada?
Quando avançámos com esta candidatura, pedimos para ser feito um regulamento eleitoral, mas Lino de Castro recusou e este não existia. Teria sido evitado tudo o que aconteceu, mas eu sei por que não o quiseram fazer. Para que os sócios com 18 anos, muitos deles com os mesmos anos de sócio, não pudessem votar, assim como os sócios correspondentes, que, segundo os estatutos, podem votar, mas apenas se existir um regulamento eleitoral. Estes dois grupos seriam maioritariamente meus apoiantes. Pedimos também para estar representado um delegado de cada candidatura em cada mesa de voto, mas também foi negado por falta de espaço. Pedimos ainda para ser chamada uma entidade independente para regular as eleições, sem sucesso.

Vai até às últimas consequências neste processo?
Acho que não será necessário, porque os sócios do Sporting, mais rapidamente do que se pensa, vão tomar o assunto em mãos. Não estou a avançar com uma providência cautelar por ter ganho ou perdido, mas sim pelo Sporting, que ganhou uma mentira. Confio totalmente que serão feitas novas eleições rapidamente, seja por via judicial ou através de uma assembleia geral, que já sei ser a vontade de muitos sócios. E, neste último caso, esta direcção cai logo.

E novas eleições não serão nocivas para o próprio Sporting?
Não creio que seja mais nocivo do que aquilo que se está a passar. Neste momento, somos conhecidos como um clube de vigaristas, de afinações, de medíocres, onde o presidente não é eleito legitimamente. Depois, esta providência terá relevância apenas em termos de órgãos sociais do Sporting e não da SAD [Sociedade Anónima Desportiva, que gere o futebol], que pode funcionar naturalmente. Só no fim da impugnação é que os dirigentes que foram cooptados por esta direcção para a administração da SAD teriam obrigatoriamente de sair. Para que a SAD tivesse paz, só consideraria necessário que Godinho Lopes apresentasse a demissão desta sociedade, mantendo-se lá Luís Duque. Poderíamos, então, arranjar soluções de consenso, entre todos, para que o Sporting não fosse prejudicado. Garanto que, neste cenário, não porei em perigo a preparação da próxima época.

Como viveu a noite eleitoral?
Para além de ter recebido várias ameaças de morte via SMS, caso vencesse as eleições, tive duas reuniões esclarecedoras. Primeiro, perto das 3h ou 4h, Lino de Castro convocou os quatro candidatos presentes (Pedro Baltazar não esteve em Alvalade) para sugerir que, após o apuramento dos resultados, fôssemos todos ao palco instalado no exterior, independentemente do vencedor, para dar uma ideia de unidade. Todos concordámos. Mais tarde, perto das 6h, com Godinho Lopes muito convicto de que tinha perdido, voltámos a reunir todos, desta vez num elevador, que Lino de Castro ia mantendo em movimento para cima e para baixo. É uma vergonha para o Sporting, mas estivemos reunidos num elevador com um segurança, até Dias Ferreira ter exigido que parássemos num andar. Lino de Castro tinha muita pressa por questões de segurança, segundo disse. Antes de anunciar os resultados eleitorais, o presidente da assembleia geral voltou a perguntar se iríamos estar todos presentes no palco. Para espanto geral, Godinho Lopes recusou desta vez, dizendo que “isto não é um circo” e que só deveria ir o presidente. Ainda não sabia que tinha ganho e Lino de Castro viu-se forçado a dizer ali mesmo quem vencera. Espanto geral. E face ao que Godinho Lopes tinha dito instantes antes, recusámos-nos todos a acompanhá-lo ao palco [os protestos dos sócios presentes no local onde fora instalado o palco, na maioria apoiantes de Bruno de Carvalho, impediriam a cerimónia].

Considera que Godinho Lopes não deveria ter tomado posse nestas circunstâncias?
Claro que não, por uma questão de coerência, verdade e democracia. Independentemente do que dizem os estatutos, acho que nas circunstâncias particulares deste acto eleitoral ninguém deveria ter tomado posse naquela noite. Disse ao eng.º Godinho Lopes que ele iria ter o mandato mais curto da história do Sporting, caso não tivesse alguma consciência e não se demitisse, marcando novas eleições rapidamente. E estas teriam de decorrer de acordo com um regulamento eleitoral aprovado.

Não poderá estar a hipotecar a sua posição para o futuro?
Tenho a certeza que, se me estivesse agora a resguardar, daqui a três anos candidatava-me e ganhava. Se calhar, teria mais possibilidades de vencer do que agora, com novas eleições. Mas o problema é que o futuro do Sporting será em breve um presente envenenado. Com a estratégia de gestão de continuar a endividar o clube junto da banca, daqui a pouco tempo a única solução passará por abrir a maioria do capital da SAD aos privados. E, nessa altura, o presidente do clube será uma figura decorativa, uma “Rainha de Inglaterra”.

Então, caso não se realizem novas eleições agora, não será candidato dentro de três anos?
Acredito sinceramente que vão realizar-se novas eleições e a actual direcção não vai aguentar mais tempo. Se não houver, e como tudo começou como uma mentira, vou estar em cima de tudo e de todos a denunciar tudo aquilo que sei. Enquanto não permitirem umas eleições legítimas e transparentes, podem ter a certeza absoluta que escolheram a pior pessoa para enganar e manipular. E, se não se repetirem novas eleições, serei garantidamente candidato daqui a três anos. Mas, nessa altura, já haverá pouco do Sporting.

Fonte: publico.pt

Data: 03/04/2011
Local: publico.pt

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