Voltámos para Vencer
Finalmente campeões. Este título deve ser dedicado a todos os que, atingindo a maioridade festejaram o seu primeiro título de campeões (aconteceu a alguns dos nossos jogadores), não só pela injusta e dolorosa espera, mas para que nunca mais se sujeite uma nova geração de Sportinguistas a esta via sacra. A opção faz sentido por serem adeptos que se fizeram leões apesar de não saberem o que é ser campeão no futebol. É muito mais fácil, durante período em que esculpimos a nossa personalidade, aderir ao clube da moda ou ao mais ganhador.
Felizmente, esta realidade só se verifica no que ao futebol diz respeito, porque no resto a realidade do clube compara bem com os melhores do mundo. As modalidades têm preenchido esse vazio, mas não vale a pena escamotear que o futebol é a modalidade mais mediática e mais imediata de todas as modalidades. Quem poderia imaginar que, com a mesma direção e a mesma equipa técnica, na parte final da época, chegaríamos no final da época 2019/20 batendo o anterior recorde de ausência de título de campeão, e com o maior número de derrotas numa só época, para, na época seguinte, fazer exatamente o contrário e bater o recorde de vitórias, sendo campeão invicto…
Bem diz o povo que “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe”. Acho os festejos perfeitamente legítimos, como acho que é devida à direção e a todo o departamento de futebol uma palavra de reconhecimento e agradecimento por parte de toda a nação sportinguista. Já ganharam a imortalidade, e fazem parte “daqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”. A maior parte do mérito deve ser dado aos jogadores, e em particular ao treinador, que, não sendo sportinguista de coração, foi-o na ação: cordato, competitivo, corajoso, leal, paciente e com enorme sentido de ética desportiva, que tanto nos diferencia no desporto nacional, e faz justiça ao nosso lema: Esforço, Dedicação, Devoção e Glória.
O que importa agora, terminados os festejos, é tudo fazer para criar condições para que estes anos de ausência de títulos, não voltem a ser a regra. É impensável voltar a esperar tanto tempo por um titulo de campeão nacional no futebol. Não podemos ganhar sempre, mas também não podemos ganhar tão pouco: em 46 anos apenas 5 campeonatos. Este registo não faz justiça à grandeza do clube.
É verdade que muitas vezes por erros e incapacidade própria, mas também porque fomos impedidos pelo sistema, utilizando a velha designação de um presidente campeão, Dias da Cunha. Durante décadas passaram pelo Sporting vários tipos de projetos e de presidentes, vários atletas, e todos eles acrescentaram algo ao clube, todos eles fizerem o que melhor sabiam e podiam em prol do clube. Não é justo, sendo até redutor, achar que bons são os que foram campeões e maus e incompetentes aqueles que o não foram.
No que toca aos atletas é ainda mais evidente a injustiça desse raciocínio: será que Figo ou Cristiano Ronaldo, entre tantos outros, são piores que os campeões de hoje? Claro que não. Devíamos ter tido mais campeonatos, mas o que neste momento importa é que crescemos com os erros, e que nos fortalecemos nas dificuldades. Todos os momentos foram importantes para este sucesso. Importa agora proteger este sucesso.
Um clube que é tão grande como os maiores da europa deve festejar todas as conquistas, mas como algo natural como consequência lógica da sua grandeza. É urgente normalizar as vitórias no futebol, a exemplo do que já acontece em várias modalidades. O Sporting não se esgota num título de campeão, mas jamais esquecerei este campeonato: ele representa o longo caminho que ainda temos que percorrer, como instituição relevante em Portugal e no Mundo. Um clube de todos e para todos, onde o sportinguismo de cada um é medido pela dedicação, devoção e amor ao clube, e não por uma qualquer condição de nascença ou social. Um clube o mais eclético possível, uma grande casa onde cabem todos os sócios.
Que a este título se sigam outros, que sejamos todos capazes de respeitar cada um dos sócios e adeptos, independentemente da forma como sentem o clube. A grandeza do clube também se mede na forma como dá espaço e berço a toda a diversidade de adeptos, e essa é uma marca distintiva do Sporting desde a sua origem. Lembro aqui o piquenique organizado por José Holtreman Roquete (José de Alvalade), no decorrer do qual se gerou uma grande discussão acerca dos destinos do clube, na sequência do qual se marcou uma assembleia geral de grande burburinho e polémica; José Gavazzo pede a demissão, José Alvalade segue-o e profere a celebre frase: “vou ter com o meu avô e ele me dará dinheiro para eu fazer outro Clube”.
Foi assim em 1906, ano em que se fundou um Clube Universal e uma das maiores potências desportivas do mundo. A época foi bem definida pelo nosso treinador: “onde vai um vão todos”. Mas cada um vai como quer. E o que importa é que somos todos campeões.
Saudações Leoninas
Hélder Amaral