RUGIDO VERDE

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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Regresso à Fuga Para a Frente

Como estão, tudo em forma? O “Jovem Jovane” parece que sim, que não pára de fazer golos com o pé direito, mas infelizmente o “Velho Mathieu” não. O acaso da lesão enquanto treinava determinou o (nada) precoce ocaso do seu trajecto como futebolista profissional, e não mais poderá fazer golos, nomeadamente a bater livres de pé esquerdo.

Tudo é relativo, e se ainda no rescaldo do jogo com o Paços de Ferreira em Alvalade o treinador principal, Rúben Amorim – ou melhor, o adjunto que custou a módica quantia de 14 milhões (incluindo cláusulas, taxas e juros de mora), tornando-se provavelmente no mais caro de sempre, porque treinador principal tem sido o Emanuel Ferro, é pelo menos isso que consta na ficha de jogo – resolveu desvalorizar o percurso do central esquerdino francês, dizendo que não interessava se um jogador vinha do Barcelona, ou doutro sítio qualquer, desta vez teve que valorizar todo o seu percurso, engrandecido enquanto representou o Sporting Clube de Portugal.

Sim, é verdade, devido a um infortúnio daqueles, teve de ser mais um na homenagem de retirada do craque gaulês, já depois de o ter lançado frente ao Tondela, onde não bateu o livre mas desfeiteou o guarda-redes Cláudio Ramos, adversários na barreira e não só, e até muito relatador em directo, só de pensarem que iria ser ele a executar, não percebendo que ia deixar o tal Jovane, em grande forma, converter o livre directo em golo.

Esse momento tem um lado simbólico, e realça a experiência de um jogador que sabe que por vezes não é preciso tocar na bola para permitir o sucesso da equipa, quando existe confiança no valor dos companheiros de equipa, mesmo que ainda em afirmação e crescimento. Tanto assim é que Jovane foi o primeiro a referi-lo, ao comentar o golo que apontou: “Tive a sorte de bater, o Mathieu deixou para mim. E espero fazer mais golos. Eu faço o meu trabalho e os golos vêm com o tempo.” Quando jogadores têm (o) mesmo brio profissional, quem ganha é a equipa, não interessa qual deles brilha ou converte. Foi o que se passou.

Figura 1 – Festejos do golo de Jovane apontado de livre directo na recepção ao Tondela (18.06.2020) [Miguel A. Lopes / Lusa]

Estas coisas são como são, e o Sporting continua para lá dos jogadores, até dos que nunca rescindiram contrato com o Clube, mas não podem dar mais, porque não lhes é possível, contra sua vontade. Esses são jogadores sempre prontos para representar o Clube e honrá-lo, e mesmo quando não o puderem fazer, serão reconhecidos enquanto os mais capazes que o representaram.

Quando falamos do passado relativamente recente, neste caso, estamos também a falar do passado e do futuro. Nenhuma equipa ganha em perder jogadores campeões veteranos, mas pode ter ainda assim sucesso se seguir o seu exemplo e mantiver a sua marca, a sua memória.

O futebol é um jogo de 11 contra 11, e todos os jogadores em campo somados são 22. Esse é um número especial, ainda para mais quando é o número da camisola de um jogador marcante como Jérémy Mathieu.

Mas como são onze jogadores em cada equipa, todos são importantes. E cada vez mais importantes se têm tornado os mais jovens jogadores que integraram a equipa mais recentemente, vindos da formação verde-e-branca. Recentemente, parecem ter ainda mais espaço e preponderância, por vários factores.

Não pretendo analisar as causas disso, nem antever consequências. Aproveito para realçar o valor de futebolistas como o guarda-redes Maximiano, Nuno Mendes, Eduardo Quaresma, entre outros. E de Jovane ou Wendel, jogadores que foram contratados num tempo anterior ao desta direcção, e que revelam ser motores de bom rendimento que desempenham uma função fundamental na equipa principal, alguma progressão futebolística.

Numa fase da vida do Sporting em que tudo é incerto, eles alimentam alguma esperança e proporcionam alguma sustentação à equipa, mantendo a flutuação do Sporting, mesmo quando quem vai ao leme é incapaz de prover uma Direcção estável e sagaz.

Se porventura a tripulação passar necessidades para que os passageiros se possam banquetear, eventualmente enfraquecerá a ponto de não poder desempenhar o seu propósito, que é guiar a nau a bom porto.

Veja-se como, apesar da Covid-19 e todos os constrangimentos causados, enquanto se andou a colocar funcionários em layoff (os jogadores receberão integralmente quando o campeonato terminar, ainda que por fases, conforme ficou acordado), a vontade de poder contar com uma equipa B superou toda e qualquer restrição orçamental, toda e qualquer precaução, como se fosse primordial, como se a sua existência fosse essencial, e como se a sua importância no “projecto desportivo” da actual Direcção fosse fundamental. A tal ponto que o seu regresso foi antecipado uma época.

https://www.abola.pt/nnh/2020-05-07/equipa-b-pode-avancar-ja-na-proxima-epoca/843398

Agora deixo a pergunta, em tempo de cortes e “vacas magras”, alguém ponderou a viabilidade da equipa B? O que vai ganhar o Sporting com a sua reactivação? O que acrescentou esta componente quando esteve activa? Por algum motivo o melhor dirigente do Sporting das últimas décadas (principalmente a nível de gestão) decidiu o seu término, e ele até se empenhou bastante nela, com diversas contratações, antes de cair a pique e ser despromovida, acabando por ser encerrada.

Estará prevista e orçamentada como se nada se tivesse passado? A SAD irá aumentar ainda mais os gastos com salários de jogadores, equipas técnicas e comissões de transferências para poder manter uma equipa B que não tem como objectivo ser a melhor onde compete? Então e a herança pesada, as limitações? Os recursos alocados à equipa B não farão mais falta à competitividade da equipa A, de tanto que se fala no distanciamento para os rivais? Não é a equipa A que precisa de ser campeã? De conseguir entrar na Liga dos Campeões e ter acesso a receitas fulcrais, que representam boa parte do orçamento anual e permitirão alavancar uma equipa de futebol mais forte e competente?

Figura 2 – Capa do Record (cabeçalho) [28.06.2020]

Uma contratação como Mathieu, por exemplo é de equipa B? Não, como é óbvio, pois existe uma diferença substancial. Um jogador de equipa A tem um perfil distinto, na maioria das vezes qualidade futebolística superior e maior capacidade, mais desenvolvida, estando pronto para entrar na equipa e competir (ou assim deveria ser), e não apenas potencial para poder, mais cedo ou mais tarde, jogar na equipa principal.

Não me parece que todos transitem para a equipa A, pois se assim fosse, Varandas e companhia, ou quem vier a sucedê-los na Direcção, deixariam de contratar jogadores para a equipa principal, ficando esta provida e sustentada na totalidade pela formação e a equipa secundária.

Será a contratar jogadores de equipa B que o projecto desportivo será melhorado e as legítimas aspirações e ambições do Sporting ficarão mais próximas, ao alcance?

Deixo essas perguntas para vocês, leitores, sabendo que com uma equipa B, serão no mínimo mais 22 jogadores, e muitas mais confusões, distracções e “d(issab)ores de crescimento”.

P.S.: E a gala, pá!? “Qual é a pressa? Certamente lá mais para a frente…”

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