RUGIDO VERDE

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Sábado, Abril 27, 2024

As Pontes Queimadas do Rio Sporting

Começo por recordar que num dos meus escritos publicados neste site, e a propósito do que já se adivinhava vir a ser o resultado do julgamento da invasão à Academia de Alcochete, terminei referindo que há muitas mãos sujas no ‘processo global’ de expulsão de Bruno de Carvalho de sócio do Sporting, sendo inevitável que tal decisão seja revertida e aquele reinvestido nos seus direitos de sócio – sob pena de, a assim não ser, a ‘guerra’ em que neste momento muitos dizem estar o Sporting mergulhado ser uma brincadeira perto do que estará para vir.

Confirmada que está a esperada decisão de total absolvição (que, ao contrário do spin incessante, nem sequer é motivada ‘por dúvidas’, mas sim por absoluta e completa falta de qualquer fundamento material ou ‘moral’), aquela apreciação parece–me uma ainda maior evidência.

E não estou sequer a falar apenas na imposição de uma tal reversão da expulsão de sócio na perspectiva da reposição de um mínimo de ‘justiça’ ao homem e ao sócio – o que, faço notar bem, além de ser o mais importante, já não seria nada pouco! –, por uma decisão que, se é verdade que deve envergonhar todo o universo leonino, tenham paciência mas deve envergonhar muito mais alguns dentro desse universo. E é assim porque, e por muito que os ‘negacionistas’ da influência da acusação a BdC no processo de Alcochete na sua expulsão de sócio se esforcem por o negar, essa influência é absolutamente evidente e foi determinante.

A verdade é que, e no que toca ao futuro do Clube, mesmo independentemente desta decisão, mas agora ainda mais fortemente por via dela (porque é só mais uma demonstração de que se calhar a “meia dúzia de malucos ruidosos” não eram assim tão “malucos”), nada do que vier a ser proposto como solução para esse futuro jamais poderá deixar de ter em conta todo o processo que trouxe o clube até aqui.

E ninguém que tenha qualquer proposta para o futuro do clube vai conseguir ser encarado com suficiente credibilidade se não tornar parte integrante e essencial dessa proposta uma valente fatia dedicada a gerir e enfrentar tudo o que se passou no Sporting desde Maio de 2018.

O que implica desde logo, e parece–me isto uma condição absolutamente essencial, a pré–aceitação de uma reintegração de BdC nos seus plenos direitos de sócio – e digo “pré” porque é para já, não como mera promessa “à la varandas”.

Mas isto é só o princípio. Porque implica mais do que isso.

Quem quer que ache ter uma qualquer proposta para o futuro do clube, tem também de saber que vai ter de lidar com uma verdadeira e difícil gestão de “pontes queimadas”, e, por isso, sem retorno.

Basta atentar no que tem sucedido com a sugestão de possíveis putativos candidatos a futuras eleições no clube – qualquer indício de ligação a qualquer aspecto mais ‘sensível’ ou controverso de todo o processo de vida do Clube ao longo destes dois anos, é suficiente para imediatamente queimar a credibilidade da eventual e embrionária proposta, que fica condenada à nascença.

E eu não estou a dizer que isto é censurável. Eu próprio, admito, tenho uma extensa lista de nomes que, a surgirem ligados a alguma futura lista candidata a gerir o Clube, imediata e liminarmente aniquilarão qualquer possibilidade de eu sequer ponderar sufragar a mesma, independentemente dos outros nomes todos que a integrem.

Talvez não devesse ser assim? Admito que talvez não. Mas neste momento, e depois de tudo o que se passou nestes dois anos, da inacreditável má fé com que os actuais dirigentes do clube geriram as emoções dos sócios e adeptos, e, por isso, do estado a que chegámos no clube, não há ninguém com capacidade (nem moral) para pedir que assim não seja.

É inevitável que praticamente todos os sócios, mormente os mais militantes, tenham neste momento várias “linhas vermelhas” (perdoem–me a referência à cor, mas é a que a expressão usa) que vão escrutinar à lupa de cada vez que se indicie sequer que alguém possa vir a avançar com uma proposta para o futuro do Clube. Sejam ex–candidatos que emudeceram, sejam comentadores ou figurinhas similares especialistas nas artes da conivência ou do contorcionismo intelectual, ainda que agora surjam na pele de anjinhos, sejam (para mim a categoria mais repugnante) artistas da inserção do cutelo nas costas, sejam amigos ou compinchas de qualquer daqueles – seja quem seja, pelo que quer que tenha sido, e quando quer que haja acontecido, a lista de motivos e “linhas” é quase interminável.

E é exactamente com esta inevitabilidade que os putativos “proponentes de projectos” tem de saber que têm de lidar. Todos têm de ter consciência de partida de que ao longo deste terrível período da história do Sporting, houve muitas “pontes queimadas” por muita gente e por via de muitas circunstâncias, e a inabilidade em identificá–las e geri–las preventivamente é o primeiro passo para o fracasso de qualquer projecto.

É que, para eu ser sportinguista, basta-me existir; para ser sócio, basta-me ter consciência; mas para sufragar qualquer solução de futuro para o Sporting é essencial sentir confiança.

Ora, mais do que nunca, só posso ter confiança em qualquer futuro que me seja proposto sob a forma de projecto, se à partida me fora garantida a confiança no comportamento dos projectistas no passado.

E este é, provavelmente, o mais espectacular desafio de qualquer putativo projectista : mais do que fazer as pessoas acreditarem no seu projecto para o futuro, conseguir que sintam confiança em face do seu passado e daqueles de que se rodear.

É que será muito difícil (impossível?) haver alguém neste momento no universo sportinguista que não tenha ‘passado’.

E ninguém pense que me vai convencer a não o escrutinar ao milímetro. Se para ganhar esse direito não tivessem chegado os mais de 30 anos de sócio anteriores, teriam sobejado seguramente estes dois últimos.

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Comments

  1. … hummmm… é isso… fritou a pipoca… a culpa foi dele… estava em burnout…
     
    Já ter dignidade e humildade para constatar e reconhecer que TUDO foi feito para o arrancarem de lá fosse como fosse tá quieto… é sempre mais fácil ignorar os factos e sacudir a água do capote…

  2. Henrique Morais

    Continuo a afirmar que sem nunca ter ligado BC ao ataque a Alcochete ele foi o grande responsável pela sua destituição. Não votei a sua destituição mas é minha convicção que o seu comportamento e o seu estado emocional levou a maioria dos associados que sempre o apoiarem a retira-lhe a sua confiança. Uma coisa eu estou de acordo com o autor. Se estivesse à frente dos destinos do Sporting já teria feito uma Assembleia Geral para a reintegração de sócio de BC. Os associados iriam-se pronunciar para ver se acabava de uma vez por todas com esta divisão que só visa a destruição do Sporting. Mas não tenha ilusões! BC foi o grande responsável por tudo o que aconteceu em relação à sua destituição! Tanta vez me interrogo o porquê quando tinha a massa associativa do seu lado. Mas os erros foram tantos que não aguentou a pressão e acabou por cair.
     
    Sócio nº 5973