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Sexta-feira, Dezembro 05, 2025

Os herdeiros de Alcovid

Agora que os eventos da Invasão à Academia Sporting, ocorridos em meados de Maio de 2018, foram julgados em 1.ª Instância, vale a pena fazer uma retrospecção ao que se passou então na sociedade portuguesa, a nível institucional; no Sporting Clube de Portugal (SCP); ao tratamento dado pela Comunicação Social (CS), e também uma comparação com a actual realidade.

O destaque dado a este caso, para além da intenção objectiva de manchar a reputação do Presidente do Sporting, incriminando-o e depondo-o, foi anómalo desde o início (câmaras da CMTV, junto ao portão de acesso à Academia, apontadas para a linha de horizonte, onde surgem os invasores que vinham a caminho, registados ao longe). Serviu também como manobra de distracção de inúmeros outros eventos, alguns muito semelhantes, que nunca foram investigados nem tiveram um milionésimo do empolamento, como o ataque ao centro de estágios do Vitória Sport Clube, ocorrido semanas antes, e outros ainda mais graves, de devastação ou prejuízo público muito maior, incluindo vidas humanas, e que aparentemente nunca deixaram heranças difíceis de acartar aos sucessores predestinados, nem motivaram tribunais populares, perseguições mediáticas ou assassinatos políticos ou de carácter.

Quando o director clínico à data, Frederico Varandas, se demitiu depois do desfecho da Taça de Portugal (a equipa esteve à sua guarda nessa última semana), o ónus da sua demissão (para além do da derrota) ficou implicitamente, primeiro, e explicitamente, depois, graças ao alarde e ao coro acusatório que se instalou nos painéis e colunas de opinião, atribuído ao Presidente Bruno de Carvalho.

O próprio Marcelo Rebelo de Sousa, em vésperas da Final da Taça de Portugal, deu o mote, quando se insinuou a possibilidade de não estar presente, quebrando o habitual protocolo enquanto Presidente da República (PR), se tivesse que compartilhar a tribuna do Estádio Nacional (“Jamor”) com Bruno de Carvalho, legítimo presidente eleito do SCP – como se indicasse e simultaneamente evitasse uma aproximação ao “olho do furacão”.

Uma vez que Bruno de Carvalho, legítimo Presidente do SCP, evitou o constrangimento do PR não estando presente na representação institucional do Clube, foi precisamente o “polivalente” Jaime Marta Soares (JMS) que o substituiu. Dois anos antes, a 20 de Maio de 2016, liderando uma comitiva da Liga dos Bombeiros deslocou-se ao Palácio de Belém, para uma recepção do PR. Como sabemos, o “desdobramento” de certas figuras, que acumulam vários cargos, alguns de alta responsabilidade pública e cívica, e têm “relações privilegiadas” em teias que se cruzam, é um dos fenómenos mais comuns da institucionalidade iluminada portuguesa. Coincidências, em “regime especial de acumulação de funções” e sem qualquer mácula ou “incompatibilidade”. Sempre os mesmos, aconteça o que acontecer. Sempre na maior. Sempre a apagar fogos e a construir pontes. Sempre a bombar. Sem cansaço, desgaste ou sobrecargas herdadas. Sérios e imaculados. Infalíveis. Gente de bem, da mais alta estirpe diplomática e institucional. Como Ferro Rodrigues.

Figura 1 – Recepção no Palácio de Belém à comitiva da Liga dos Bombeiros, a 20 de Maio de 2016 (https://www.bombeiros.pt/noticias/marcelo-rebelo-sousa-recebe-liga-bombeiros-no-palacio-belem.html/)

Quatro anos volvidos, voltaram a reunir-se, juntamente com o Primeiro-Ministro António Costa e o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando de Medina, na sede da Liga dos Bombeiros, que JMS continua a presidir.

Figura 2 – Visita à sede da Liga dos Bombeiros Portugueses em Lisboa, a 30 de Maio de 2020 (http://www.presidencia.pt/?idc=10&idi=177631)

Aproveito, após estas rituais e inequívocas demonstrações de “magistratura de influência” (termos com uma mística muito própria no seio do “politicamente correcto” português), para referir que nesse ano de 2018 o Algarve voltou a ser consumido pelas chamas, 15 anos depois, e Portugal voltou a ter a maior área ardida da Europa. Felizmente não houve vítimas mortais, ao contrário do que aconteceu um ano antes, com os trágicos incêndios em Junho e Outubro de 2017, na zona Centro – Norte do país. E os responsáveis?

É que a Invasão da Academia do Sporting pode ter servido para iludir muita gente e desviar muitas atenções, funcionando também como manobra de distracção e arranjando um bode expiatório do regime, mas não apaga a responsabilidade das mais altas figuras do Estado em muitas anomalias que aconteceram antes e depois (as armas roubadas ao paiol de Tancos, por exemplo, entre muitos outros, a Operação Lex, e também no futebol, com o E-Toupeira, o Mala Ciao, os e-Mails e os Vouchers, ou o recente Fora de Jogo).

Frederico Varandas, o bom rebelde, saiu como herói de uma qualquer causa, opositor à direcção, e logo após anunciou-se como candidato às eleições, quando Bruno de Carvalho tinha sido legitimamente eleito em Março de 2017 (um ano e dois meses antes) com cerca de 90% dos votos. Depois, a rábula da demissão apregoada em todos os canais, mas alegadamente não concretizada pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral, o mesmo JMS, com os seus fiéis escudeiros Eduarda Proença de Carvalho e Diogo Orvalho, e também quase todo o Conselho Fiscal e Disciplinar, com a pressão sufocante sobre os elementos do Conselho Directivo para se demitirem também.

Não deixa de ser curiosa alguma convulsão interna nos Órgãos Sociais (OS) do Sporting e na sua estrutura do futebol nas semanas anteriores à leitura do acórdão, principalmente da direcção, onde se concretizaram várias saídas. Algum tempo depois de Miguel Cal sair por alegados motivos pessoais, e da sua substituição por André Bernardo, oficializaram-se as saídas de Bernardo Simões, Filipe Osório de Castro e Rahim Ahamad. O director técnico da Academia Miguel Quaresma também se demitiu, e há rumores que Raul José, responsável pelo Scouting e Prospecção, segue o mesmo caminho.

Por comparação com o que aconteceu dois anos atrás, verifica-se agora que já não há um responsável, um culpado, pelas demissões nos quadros da SAD e do corpo técnico (ou clínico) do futebol. Quando muito, a culpa é do Corona Vírus, da vida profissional dos demissionários, ou em último caso remonta-se à “herança pesada”. O “legado de Alcochete” e do presidente que foi destituído na sua sequência (e mais tarde expurgado), feito que um pseudo-Torquemada do Tribunal do Santo Ofício, evocando o senso de justiça da Santa Inquisição, faz questão de gabar amiúde, coadjuvado por sua cheerleader.

Houve inclusivamente uma alteração da mensagem, com uma “edição especial do Jornal Sporting”, transformado em prospecto de propaganda, a afirmar em plena capa a “Visão Estratégica para o Futuro”, quando desde a ascensão ao poder destes OS nada mais se fez que requentamento recorrente ao passado, muitas vezes distorcido e mal-intencionado, mentiroso, para arranjar desculpas.

Para além das manobras internas com o objectivo de expurgar Bruno de Carvalho e os seus indefectíveis, onde valeu todo o tipo de propaganda usando os órgãos de CS do Sporting (Jornal e TV, entretanto “saneados”), além do apoio na restante CS, é bom lembrar o depoimento em Tribunal de Frederico Varandas, que pretendeu culpabilizar o seu antecessor, num 2.º mandato que foi interrompido também com a sua acção. E que prometeu que não seria expulso, em mais uma promessa vã de campanha eleitoral…

Mudanças no funcionamento interno do Sporting houve bastantes, e temos o agente Jorge Mendes, grande aliado de Luís Filipe Vieira mais do que nunca a influenciar e a orquestrar as decisões da Sporting SAD no que respeita a transferências de activos (jogadores e… treinadores), ao contrário do que sucedia com a direcção destituída. Essas heranças contabilísticas e a sua pesagem deixarei para outros as realizarem, com a percepção de que existe muita contabilidade criativa nos relatórios recentemente publicados.

Figura 3 – Vieira e Varandas na tribuna, no Algarve (Supertaça), com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da Federação, Fernando Gomes (foto: Filipe Farinha)

Vamos culpar Frederico Varandas (ou Rogério Alves, ou Baltazar Pinto) pela pandemia de Covid-19 que tantos problemas e demissões causou? Não, claro que não. Nem vamos dizer que a culpa é de Marcelo Rebelo de Sousa ou António Costa, nem do bombeiro Marta Soares.

Quanto à Invasão da Academia, o Tribunal já deixou explícito que Bruno de Carvalho também não teve qualquer responsabilidade. Ao contrário do que alguns zarolhos e vesgos, de ouvidos moucos, andaram a apregoar durante dois anos, no seu julgamento em praça pública que coincidiu com o processo interno de destituição de Presidente e expulsão de associado, e as cobardes perseguições e assassinatos de carácter, assentes em distorções, mentiras e campanhas de difamação.

Texto por: HULK VERDE

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