RUGIDO VERDE

Como todos sabemos, a vida do nosso clube tem sido tudo menos fácil nos últimos anos.

Depois de uma gestão, em forma de dinastia, que durou quase vinte anos, entre promessas de grandes projectos, cooptaçoes, sucessões praticamente dinásticas, eleições sem oposição e outras vicissitudes, chegámos a um ponto de quase não retorno.

Foi nessa altura que apareceu alguém que, depois de uma primeira tentativa frustrada e ainda hoje encoberta por um fumo que talvez fosse de papel queimado, conseguiu então, à segunda tentativa, convencer a maioria dos sócios, e dos votos, de que seria ele o homem que daria a volta ao clube que estava então num estado de animação suspensa. Não estava morto porque continuava a ter uma grande massa adepta que ainda não tinha desistido dele, e não estava vivo porque estava com um PER em cima da mesa e prestes a entregar a sua independência a bancos e outras instituições financeiras.

Durante os cinco anos seguintes, esse homem e a sua equipa conseguiram revitalizar o clube, voltar a dar-lhe credibilidade perante as instituições, voltar a intimidar os adversários e, principalmente, conseguiram voltar a mobilizar a família Sportinguista e fazer a sua massa adepta acreditar que era possível reestruturar o clube financeiramente e ao mesmo tempo jogar para ganhar em todos os jogos, competições e modalidades.

Todos sabemos como acabou esta fase da vida do clube. Os incómodos que causou aos poderes instituídos na nossa sociedade fizeram com que fosse perseguido, ele bem foi avisando os sócios do clube para que ficassem do lado dele senão o trabalho que estava a ser feito seria inglório.

E foi aqui que talvez tenha residido o seu principal erro estratégico, não se terá apercebido de que o perigo estava mesmo dentro do clube, naquela faixa de associados que consegue mover influências nos mais variados sectores da sociedade. Foram precisamente esses que montaram a estratégia para o derrubar e todos nós sabemos como, é uma matéria com a qual não vale a pena perder tempo agora.

Conseguiram assim voltar a apoderar-se do clube da forma que sabemos. O que não conseguiram fazer foi mais uma vez mostrar competências para desempenhar tal função. Mais uma vez, como sempre aconteceu ao longo dos tempos, a incompetência veio ao de cima, e bem mais depressa que alguém pudesse sequer imaginar.

Essa incompetência atroz trouxe, então, o clube para um estado de sítio de que não há memória. Nunca, em quase 114 anos de existência, o clube passou por um nível de contestação por parte dos sócios a quem o dirige como aquele que se regista actualmente. Apesar do autismo e prepotência de quem foi eleito para defender os direitos dos sócios, eu, pessoalmente, acredito que esta direcção está a curto prazo. Acredito que vão sair antes do final do mandato para bem do Sporting.

Chegados aqui, entraremos outra vez numa fase em que vão aparecer vários salvadores da pátria, como é hábito sempre que entramos em período eleitoral.

Irão de certeza aparecer candidatos que, mais vírgula, menos ponto, aspiram ir para lá fazer o mesmo que estes têm feito. São, para mim, uma preocupação, conhecendo os sócios do Sporting como conheço.

No entanto, e por estranho que pareça, não são esses a minha maior preocupação. A minha maior preocupação continua a ser, de entre aqueles que têm sido “oposição” a este estado de coisas, quem terá capacidade para chamar a si a força e a crença dos sócios do Sporting. Nestas alturas costumam aparecer muitos candidatos cuja intenção é mesmo só aparecer.

É hora de, dentro do grupo de sócios que não se revê naquilo que se passa actualmente no Sporting, aparecer uma candidatura que seja aglutinadora, que consiga de novo voltar a mobilizar a força popular do clube e que faça acreditar que nos vai levar pelo caminho certo. Para que isso aconteça é preciso que, chegada a altura, haja a humildade de muita gente reconhecer que essa candidatura é a melhor, e que o melhor que há a fazer é apoiar e não deixar dividir, sob pena de não sairmos deste marasmo.

Isto, para mim, torna-se uma preocupação a partir do momento em que vejo pessoas que lutam pelo mesmo ideal dividirem-se por questões menores. Eu não sou ninguém no mundo do Sporting, nem tão pouco tenho a pretensão de ser senhor da razão. É apenas uma convicção minha. Divididos não vamos lá. Acreditem.

Obrigado a todos os que tiveram paciência para ler até aqui. Bem hajam.

Viva o Sporting!