RUGIDO VERDE

Uns dias antes desta entrevista ter conhecido a luz do dia, já Frederico Varandas tinha saído da toca para se insurgir com a arbitragem de Jorge Sousa em Braga.

Não tirando razão aos protestos, não deixa de ser ridículo sair da toca num jogo em que fomos justamente derrotados e o adversário superior, tendo inclusivamente tido mais posse de bola (52%).

Varandas solicitou que Jorge Sousa não fosse mais considerando para jogos do Sporting, pedido prontamente negado pela Liga de Clubes. A realidade é que ninguém nos liga nenhuma nem contamos para nada, estas esporádicas aparições de Frederico Varandas não ajudam a alterar este estado de coisas.

Passo então agora à entrevista.

Bruno Fernandes e a tesouraria

Varandas começa a sua entrevista, como se costuma dizer, directo ao assunto: precisava de 115 milhões para sobreviver. Portanto precisava de vender Bruno Fernandes. Contava com isso. Mas não conseguiu. Contudo, contando com todos os outros jogadores vendidos (acordos com Gelson, William ou Patrício, vendas de Dost, Raphinha ou Thierry) esse valor já tinha sido atingido.

Mas ainda assim continuava a precisar de vender Bruno Fernandes. Para onde terá ido o dinheiro de todas aquelas vendas que somado ultrapassa os 100 milhões? E se a isto juntarmos o empréstimo obrigacionista mais o empréstimo da Apollo o que faz o montante obtido ultrapassar os 200 milhões?

Realmente dar uma entrevista a um jornal onde não há contraditório nem perguntas incómodas é fácil, pode-se debitar a cartilha à vontade e o leitor acredita sem se questionar.

Curiosamente, Varandas reconhece que em 2013 Bruno de Carvalho recebeu o clube numa situação igual ou pior. Mas na opinião de Varandas nessa altura foi possível recorrer à formação para colmatar a falta de qualidade do plantel. Mas agora não é. Não é porquê? Não há formação? Não há sub 23? Porque se desperdiçaram valores como Matheus Pereira, Domingos Duarte ou Félix Correia? Porque não se inscreveu Pedro Mendes? Porque não se promoveram à equipa A nomes como Matheus Nunes, Rodrigo Fernandes, Eduardo Quaresma ou Joelson?

A certa altura o jornalista questiona o scouting do Sporting, nomeadamente Hugo Viana e Raul José. Segundo Varandas ambos são muito bons e estão a trabalhar muito bem, depois não há é dinheiro, há essa condicionante.

Mais de 200 milhões, lembram-se? Mas vieram jogadores como Rosier ou Camacho, onde se investiram mais de 10 milhões. Ambos flops. E Jesé Rodriguez, o artista motivacional de serviço. Que custou mais dois milhões. Mas está tudo bem com Hugo Viana e Raul José.

Sobre Bruno Fernandes Varandas gaba-se do capitão ter saído como devia, sem o rótulo de maçã podre, deixando títulos e dinheiro a sério.

O dinheiro a sério deve ser uma piada, porque se considerarmos o que vai para o seu clube anterior, para o seu empresário, para Jorge Mendes, para os direitos de formação e finalmente para a banca, provavelmente nem metade entra nos cofres do clube. Mas saiu sem rótulo de maçã podre. É certo que rescindiu unilateralmente com o clube e, quando voltou, fê-lo com uma cláusula de rescisão de 35 milhões de euros, que ao ser recusada fazia entrar cinco milhões nos bolsos do empresário. No entanto uma jóia de pessoa ainda assim.

Cristiano Ronaldo

Frederico Varandas acha que Cristiano Ronaldo sofre muito com o (mau momento do) clube. Acha também que esse sofrimento vale títulos para os sócios do Sporting. Pessoalmente, devo confessar que não me sinto titulado com esse sofrimento que Cristiano Ronaldo nutre pelo Sporting. Deve ser pelo facto de não ser sócio.

Equipa B

É talvez a única passagem desta entrevista com a qual concordo. Não devia ter acabado e faz sentido regressar. Vamos ver agora se acontece e em que moldes.

Treinadores

Varandas considera a hipótese de ter sido injusto o despedimento de Marcel Keizer. A equipa não jogava à bola, as exibições eram deprimentes mas o despedimento se calhar foi injusto.

À pergunta sobre se acreditava em Leonel Pontes, Varandas responde com uma série de elogios a Bruno Lage, treinador do Benfica.

É amigo de Jorge Jesus e Leonardo Jardim e o futuro de Silas é incerto. Ou seja, aqui Frederico Varandas nada disse. Plagiando alguém, uma mão cheia de nada.

Banca

Segundo Varandas, o Sporting deve, à data de hoje, 118 milhões mais cerca de 40 das VMOC’s. Diz que as dívidas a fornecedores diminuíram embora o último relatório de contas desminta isso.

Varandas confirma, nesta entrevista, que as VMOC’s ainda não foram (re)compradas e promete novidades neste aspecto (mais uma vez) até ao final da presente época. Confirmou também os 65 milhões emprestados pelo fundo Apollo.

Acha que as resoluções das rescisões foram boas em todos os casos. Mais uma vez discordo totalmente. Sobretudo com as resoluções para Rui Patrício e Daniel Podence, dois jogadores assumidamente pertença do carrossel Mendes e que muito pouco, ou nenhum, retorno trouxeram aos cofres do clube.

Abre as portas ao regresso de Adrien Silva ao clube, mesmo depois de todas as birras que este fez para se ir embora de cá. Garante ainda o regresso de João Palhinha do empréstimo ao Sporting de Braga.

A questão da venda da SAD

As VMOC’s ainda não foram compradas, Frederico Varandas já anda a prometer fazê-lo desde que foi eleito, aliás, ainda em campanha já o prometia fazer. Contudo, um ano e meio depois, continua tudo na mesma, ou seja, as VMOC’s na posse da banca podendo ser compradas por qualquer entidade externa que o deseje.

Questionado se é contra ou a favor da venda da SAD, Varandas foge à pergunta. Diz que se os sócios souberem tomar conta do clube, a SAD deve continuar no clube. Mas se os sócios não souberem tomar conta do clube, então se calhar José Maria Ricciardi tem razão e o melhor é alienar (a SAD).

Considerando que elegeram para presidente Frederico Varandas, eu diria que os sócios do Sporting definitivamente não sabem tomar conta do clube.

Assembleia Geral Destitutiva

Frederico Varandas confirma os rumores já instalados de pretender implementar o i-voting, mesmo que isso não esteja previsto nos estatutos. Parece que o cumprir dos estatutos não está definitivamente nos planos desta estrutura directiva.

Atenção, não sou contra esta ideia, muito pelo contrário. É muito importante que os sócios de todos os pontos do país que não se possam deslocar a Lisboa para as Assembleias Gerais tenham a possibilidade de votar. Contudo podem fazê-lo presencialmente nos núcleos, não me parece que uma plataforma electrónica, certamente controlada pelo clube, seja a melhor solução.

A reação de Varandas à pergunta “e se Rogério Alves convocar a AG?” é categórica: “Nem vou pôr esse cenário, isso não ocupa nem 1% da minha cabeça”. Varandas sabe bem que o amigo Rogério irá segurá-lo ao máximo das suas forças. O processo de destruição do clube está em marcha e só vai parar com a alienação da SAD.

Tem o descaramento de, nesta entrevista, dizer que os célebres beijinhos que mandou para as bancadas do Pavilhão João Rocha numa das últimas Assembleias Gerais foram um gesto de carinho para toda a gente.

Claques

Sobre esta temática, falarei no meu próximo texto. É um assunto que está na ordem do dia, muita tinta tem feito correr e por isso merece uma reflexão própria.

Frederico Varandas reconhece que, até hoje, o Sporting nunca foi unido e que não é em 17 meses que o vai conseguir. Eu arrisco dizer que seguindo este caminho nem em 17 anos…

Herança

Frederico Varandas admite como positiva a luta de Bruno de Carvalho pelo reconhecimento dos 22 títulos de campeão nacional. Reconhece várias coisas como positivas por parte do seu antecessor. À pergunta “como reage à proposta de Bruno de Carvalho de liderar a SAD” Varandas pergunta ao jornalista se pretende uma resposta como presidente do clube ou como médico. Deselegante no mínimo esta resposta. Tal como a consideração seguinte: “tudo o que possa ter sido feito de bom, que foi, eu vivi, foi estragado dez vezes mais”.

Opiniões. Cada um tem direito à sua e devemos respeitar. Eu, pessoalmente, tenho a opinião que Frederico Varandas é dez vezes pior presidente que Bruno de Carvalho foi. Opiniões, fazer o quê?

Arbitragens e e-toupeira

Frederico Varandas reconhece que o Sporting não é respeitado pelas arbitragens e não é tratado de igual forma face aos seus rivais. Segundo Varandas nunca seriam marcados três penaltis na luz ou no dragão como foram marcados recentemente em Alvalade (Rio Ave).

Concordo. E o que tem feito o excelentíssimo senhor doutor quanto a isso? Já contou tudo o que sabe sobre a época 2015/2016?

Numa fase terminal desta entrevista Frederico Varandas mostra-se banzado com a exclusão da Benfica SAD do processo e-toupeira. Não entende. Então porque não recorreu da decisão?

Resumindo: esta entrevista soou um bocado a espernear do morto. Uma série de chavões e frases feitas e nenhuma resposta concreta aos reais problemas do clube e legítimas aspirações da massa adepta.

Nenhum arrependimento, nenhum pedido de desculpas, nenhum reconhecimento do mau caminho seguido e más opções contínuas.

Parte-se do princípio, portanto, que é para continuar tudo na mesma. Adivinham-se tempos de muita contestação e de uma cada vez maior pressão no sentido da demissão destes órgãos sociais. Resta saber quanto tempo vai Frederico Varandas resistir e sobretudo saber durante quanto mais tempo vai Rogério Alves segurá-lo.