RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Quarta-feira, Maio 08, 2024

Saudade

Tenho vindo a perceber que há várias formas de sentir saudade. É um sentimento que nos acompanha ao longo da vida, comum a todos nós, mas não surge sempre da mesma forma.

É estranha a saudade que sinto agora, saudade de um amor que se fragmentou, daqueles amores que nunca vai desaparecer completamente e que nem a morte consegue matar. Uma saudade que sei que muitos mais Leões e Leoas sentem, embora eu só consiga sentir a minha.

Eu sabia que sentia essa saudade, a saudade do Sporting Clube de Portugal a que me habituei durante a presidência de Bruno de Carvalho. Ela estava aqui, desde que a anterior Direção foi escorraçada do Clube que lutou para (e conseguiu) reerguer, e não era só pelo facto de essa mesma Direção ter saído – foi pelo facto de, com ela, terem saído os valores que tinham sido incutidos novamente no Sporting.

Do dia para a noite, sentiu-se a diferença de paradigma e eu, apesar de imediato opositor da corja que tomou conta do meu Clube, tentei que esta nova vigência não sucedesse em esbater o meu amor e relação de longa data com o Sporting.

Durante a época 2018/2019 estreei-me no Pavilhão João Rocha. Nunca se tinha proporcionado a minha ida ao Pavilhão, que via pela televisão semanalmente. Esse dia marcou o início de uma transição da minha pessoa, enquanto adepto. Nessa época ainda fui ao Futebol umas quantas vezes, mas a paixão pelo Pavilhão e o desencanto com o Futebol, a sua envolvência e as diferenças notórias para a massa adepta que habita o Pavilhão, fizeram com que na presente época já tenha ido mais de uma dezena de vezes ver as nossas Modalidades e zero vezes ver o Futebol.

Atualmente, sou capaz de fazer a travessia do Tejo para ir ver um jogo de Hóquei em Patins com equipas do fundo da tabela e dá-me náuseas pensar em ir ao Futebol apoiar certas personagens – rescisores à cabeça.

Mas e então, a saudade, que dá título ao texto? Ora, essa saudade do tal Sporting ambicioso, voraz e popular, que já afirmei ser constante e imediata, surgiu-me num momento de epifania, no passado sábado.

Quando marco presença no nosso Pavilhão, sento-me sempre nas filas de baixo, e chego (quase sempre) cedo, para ver o aquecimento e as bancadas a encher. Isto quer dizer que raramente tenho uma visão ampla das bancadas. No jogo de Andebol contra o benfica, subi as escadas da minha bancada para ir ao lixo e, ao descer, dei por mim paralisado.

Contemplei o panorama, bancadas compostas de verde e branco, o ruído ensurdecedor do cântico “Sporting até morrer…” e algo que não via ao vivo há bastante tempo: o Directivo tinha conseguido entrar com uma faixa com o seu nome, coisa que no ambiente ditatorial que se vive atualmente deixou de ser comum.

É inexplicável o quão cheio e vazio me deixou esta visão. Cheio de orgulho por fazer parte de tão bonito ambiente e vazio por ter percebido a falta que me faz, e as saudades que tenho, de ir ao Estádio José Alvalade. As saudades que tenho do bruá dos cânticos das nossas claques, entoados por quase 50 mil pessoas, em jogos importantes, jogos de decisões. As saudades que tenho de sentir o mesmo pelo Futebol que sinto pelas Modalidades. É fácil dizer que para matar as saudades me basta comprar um bilhete, mas não consigo ver as coisas dessa maneira, porque, simplesmente, as coisas agora são diferentes.

Haverá, com certeza, muita gente a pensar da mesma forma que eu. Não hão-de ser obra do acaso as assistências fraquíssimas no nosso Estádio. Já não há a mesma empatia com a secção e, se isso me deixa triste por ter saudades de tempos em que havia, por outro lado deixa-me feliz, por me fazer perceber que há mais Sportinguistas como eu que não compactuam com personagens que se aproveitaram do Clube num momento de fragilidade.

Fica o desabafo e mantêm-se as saudades de tempos não assim tão distantes. De entrar pela porta do setor do Estádio e me arrepiar com o ruído, de vibrar com o Leão e rugir com milhares como eu… De sonhar tão alto como o céu, pois havia liderança que o permitia.

Fica também o medo de que a incompetência, desinteresse e falta de tudo aquilo em que eu acredito que esta Direção demonstra, faça acontecer às Modalidades aquilo que fez ao Futebol, e a minha vida fique marcada por uma saudade eterna de alguns dos momentos mais felizes da minha vida.

Resta-nos lutar até ao fim pelo Sporting. Para que as melhores memórias da minha vida, possam um dia ser recriadas pelos Leões do futuro. Para que o Sporting Clube de Portugal se erga novamente como a força desportiva que travou lutas tão importantes como as travadas entre 2013 e 2018.

“Sporting, tu és a minha vida. Eu sem ti não sei viver…”

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Comments

  1. Neca Pinto

    Meu caro, que belo texto e que forma sublime de expressar um sentimento que é de muitos e nos quais eu me incluo.
    Um abraço.

  2. Henrique Morais

    Bruno de Carvalho suicidou-se com Presidente do Sporting por erros cometidos por ele próprio. Bruno de Carvalho é passado e devemos estar com o Sporting e apoiar quem está na Presidência do Clube para que possamos sair da cepa torta.

    1. Undertaker

      Outra vez arroz? Das duas uma ou é troll ou realmente não percebe patavina do que está à frente do seu nariz! Apoiar um presidente incompetente é ajudar o Sporting a sair da cepa torta? Agora é que já li de tudo!

    2. Rei Leão

      Isso já é pão de ontem. Gosto mais de pão do dia.

    3. GreenMarquis

      Ele suicidou-se mas tu não… infelizmente.
      Mas olha, ainda estás muito a tempo e não guardes para amanhâ o que podes fazer hoje.

  3. Manuel Antonio de Carvalho

    Caro Associado
    Esse seu sentimento é também o de milhares e milhares de associados que se afastaram,onde me incluo.Tenho saudades de ir a Alvalade ao “nosso Estádio” onde sempre acompanhado, íamos com hora e meia de antecedência, e era ver a entrarem famílias inteiras, crianças e toda a sorte de gente vestida com a camisola do Sporting.Só isso era outro espectáculo.Nem sempre as exibições da nossa equipa eram as melhores mas todo aquele ambiente que rodeava os noventa minutos valiam todas as más prestações da nossa equipa principal.O lema para a época de 2017/2018 se todos se lembrarem era o de “Compromisso e Atitude”.Esta mensagem foi mal aceite por a grande maioria dos nossos jogadores profissionais mas aceite pelos restantes atletas das nossas modalidades . Tivesse o Dr Bruno de Carvalho feito o que prometeu após o jogo Sporting-Belenenses, (ultimo jogo da época realizado num Domingo de Manhã perante cerca de cinquenta mil expectadores )de ele próprio liderar o futebol profissional e retirar a Jorge Jesus os poderes que este ainda detinha, estaríamos hoje mais competitivos mais entusiasmados e mais felizes.
    Antigo sócio 116992.0

    1. Henrique Morais

      Amigo Manuel António de Carvalho é uma realidade aquilo que disse mas de quem foi a culpa dos erros cometidos por BC. Não me refiro ao ataque a Alcochete pois isso cabe à justiça averiguar. Ainda hoje me interrogo como foi possívelBC que tinha a maioria da massa associativa do seu lado cometer erros grosseiros pondo em causa a continuação como Presidente do Sporting. A culpa foi só dele.