RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Abril 26, 2024

A ditadura da ignorância

Honestamente, por estes dias, parece difícil descortinar clube no mundo com mais potencial e simultaneamente menos cultura de exigência e sentido de responsabilidade do que este Sporting. Ainda com a época longe de estar sequer a meio, praticamente todas as competições disputadas pela principal modalidade do clube estão, ou perdidas, ou grandemente comprometidas, no entanto, tal não parece ser motivo bastante para manifestações de descontentamento.

A Taça de Portugal, da qual somos os actuais detentores, foi a primeira a sair do rol de preocupações leoninas. Fruto de uma displicente apresentação em Alverca (não cabe neste texto a distribuição de culpas), saímos vergados da segunda maior competição nacional por um clube do Campeonato de Portugal. Sem retirar qualquer mérito ao adversário, porque o teve e há que reconhecê-lo, é inaceitável a forma como uma equipa altamente profissionalizada foi assim eliminada, e nem a tradicional e sempre conveniente desculpa das contingências do jogo serve para o caso, como bem atestam os respectivos e indesejáveis recordes obtidos.

Tal não fora suficiente, a mesma direcção que se finge de morta relativamente aos maiores escândalos do futebol, tais como o famoso e-toupeira, apenas para citar um, decide apresentar uma queixa ridícula e humilhante para os pergaminhos do clube. Ou seja, não basta a humilhação em campo, fora dele também fazemos questão de ser o bobo da corte.

Na menos importante, mas não totalmente desprezável, Taça da Liga pode-se dizer que temos pé e meio fora da competição. Resta esperar por um qualquer fantástico alinhamento astral…

Por fim, e no que a competições nacionais diz respeito, seguimos neste momento a sete pontos do primeiro lugar, sendo que ainda não fizemos as tradicionais difíceis deslocações, nem jogámos com os restantes candidatos ao título. Isto assumindo que o somos.

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Perante este cenário pouco animador da modalidade-rainha, aquela que movimenta milhares de pessoas e milhões de euros, o que faz o conselho directivo? Abre guerra às claques. E como o faz? Recorrendo a métodos absolutamente condenáveis e que fariam corar de vergonha muitos simpatizantes das mais bizarras ditaduras.  A rábula do sistema sonoro aos berros para calar o descontentamento é só mais uma. E há quem que afirme que o dito sistema não é usado apenas no final dos jogos, o que a ser verdade é ainda mais vergonhoso. Mas não inédito, sublinhe-se…

Mais inquietante ainda, é ver (ou ouvir) a opinião completamente tolhida e desprovida de razão do sócio comum, assente em parangonas sensacionalistas da imprensa e moldada pela narrativa que comentadores de agendas bem visíveis emitem, tudo isto ainda ornamentado com uma proverbial superioridade moral do desportivismo. E tão pouco uma réstia de senso comum prevalece. A preguiça intelectual é hoje cultivada olimpicamente e, recorrendo à gíria futebolística, ganha de goleada à mínima razoabilidade e plausibilidade. Deve ser o tal estoicismo de que fala Henrique Monteiro na sua verborreia semanal. Chamar-lhe-ia antes epicurismo desajeitado. Doses homeopáticas de Sportinguismo, moderação em tudo o que seja desejo de conquista e fuga para frente num convite ao miserabilismo.

Um exemplo bem concreto? A exploração ad nauseam da possibilidade de uma claque orquestrar protestos à actual direcção apenas por empatia com Bruno de Carvalho. Ora bem, afigura-se evidente que este conselho directivo não necessita de quaisquer interferências exteriores para promover o descontentamento entre adeptos que tenham um pingo de discernimento. O trabalho mostrado fala por ele mesmo. Por outro lado, seria bom relembrar que o processo destitutivo começou, de forma pública e no sentido figurado, precisamente com a invasão de Alcochete por alguns elementos de uma claque. E convém ainda memorar uma das medidas tomadas pelo CD de Bruno de Carvalho na sequência dessa invasão, que foi a suspensão dos apoios à Juventude Leonina. Apoios estes que foram retomados com aquela inenarrável conferência de imprensa da Comissão de Gestão, onde foram inclusive comunicadas novas regras…

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Poucos procuram pensar sobre o que ouvem e leem, o que conta é o imediatismo das respostas e a facilidade de formar opinião, mesmo a que se não tem. Até se pode conceder que o normal sócio tenha mais assuntos para se preocupar e que “a bola” seja de somenos importância, resumindo-se por isso a participação clubista ao visionamento de jogos, seja no estádio ou no conforto do sofá. Estão no seu direito. Já extravasam um pouco essa liberdade, quando bloqueiam constantemente quaisquer tentativas de acção por quem se interessa e despende o seu dinheiro, mas sobretudo o seu tempo, com o clube. Andar ao sabor da bola que bate na trave ou do jogador que tropeçou e falhou a baliza nunca foi boa estratégia. O canto do cisne desta nouvelle vague requentada é fingir que não percebeu o meritório trabalho feito, e, ao invés de prosseguir com as suas virtudes, teimar em realçar os defeitos.

Não se confunda, no entanto, estas observações com intolerância. Todas as opiniões são obviamente válidas, desde que fundamentadas. E cada um decidirá como fundamentar a sua opinião. Agora que não se discuta Física a partir das observações empíricas feitas por dois bêbados à mesa de uma taberna.

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