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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Porque não é José Maria Ricciardi um bom candidato à presidência do Sporting

Os meus últimos textos aqui no Rugido têm sido invariavelmente sobre o nosso querido presidente Frederico “Calimero” Varandas. Em minha opinião começa a ser demais. Está na altura de virar a agulha e discorrer sobre outros temas, até porque o nosso Fred agoniza rapidamente para o fim do seu mandato.

Importa, portanto, nesta altura do campeonato começar a pensar na sua sucessão. E analisar os possíveis candidatos ao futuro acto eleitoral. E um desses possíveis candidatos é José Maria Ricciardi.

Na opinião de muitos de nós, Ricciardi é o expoente máximo da chamada linhagem croquete. O próprio assume-se como tal, reconhecendo sem rodeios estar-se nas tintas para isso. Em entrevista à CMTV por alturas em que se anunciou como candidato às eleições de setembro de 2018, José Maria Ricciardi disse o seguinte:

“Estou-me nas tintas para que me achem um croquete, não dou para essa missa dos croquetes. Os dois últimos campeões nacionais foram dois croquetes: foi o meu primo José Roquette e a seguir foi o Dr. António Dias da Cunha. Também são considerados socialmente croquetes. Portanto, veja lá, os últimos dois campeões nacionais pelo Sporting eram croquetes. E o fundador do Sporting, que por acaso era meu tio-avô, José Alvalade, também era um croquete. Se ele não fosse um croquete, se calhar não havia Sporting. O Sporting é um clube interclassista. Sempre teve todas as classes sociais, não entro nesse jogo da pastelarias e dos croquetes e das empadas e não sei quê. Acho ridículo”.

Ricciardi faz, assim, questão de se auto apresentar. E aqui tenho de confessar que o respeito por isso. Posso não concordar com as suas ideias para o clube, mas respeito-o por não ser hipócrita, como o é por exemplo o nosso actual presidente. José Maria, como faz questão de se apresentar nas redes sociais (onde tem andado bastante activo nos últimos tempos diga-se), assume sem rodeios o que é e ao que vem.

Se bem que não acredito muito neste candidato quando vem dizer que é contra a venda da SAD. A venda da SAD sempre foi o grande objectivo do chamado Projecto Roquette. Soares Franco, por exemplo, sempre o assumiu de forma clara: “Sou do Sporting por causa do futebol e não tenho empatia pelo ecletismo. Quero um clube só de futebol, sem sócios mas com adeptos que não se intrometam na gestão nem tenham voto nas eleições dos corpos sociais. Porque o futebol é um negócio que precisa de investidores e porque para se ser bom há que ser especialista”.

Aqui é preciso relembrar que José Maria Ricciardi exerceu cargos relevantes na administração do Sporting em todos os mandatos croquetes. Foi membro do Conselho Fiscal nos mandatos de Pedro Santana Lopes (1995-1996), José Roquette (1996-2002), Dias da Cunha (2002-2006), Filipe Soares Franco (2006-2009), José Eduardo Bettencourt (2009-2011) e Godinho Lopes (2011-2013).

Certamente não estaria tão desalinhado assim com o programa de governo dos seus camaradas presidentes ao ponto de não ser também ele apologista da venda da SAD.

Este é o segundo ponto essencial para eu não o considerar um bom candidato. Depois do ponto número um, ser croquete, o ponto número dois: acredito que é mesmo apologista da venda da SAD e não deixará de prosseguir esse desígnio caso seja eleito. Isto, claro, se o seu antecessor e presidente actual não o fizer antes de si. Temo que seja já sob a liderança de Frederico Varandas que a SAD será entregue a terceiros. Aliás, o fundo Apollo tem-se colocado em bastante boa posição para receber essa alienação.

Pessoalmente devo confessar que, por vezes, dou comigo algo dividido relativamente a essa questão. Por um lado ambiciono um Sporting eclético, pujante quer no futebol quer nas suas principais modalidades e independente, dono de si em vez de ser representado por uma SAD controlada por um qualquer mafioso seja ele Americano, Africano, Árabe, Russo ou Chinês.

Por outro lado, não desdenharia completamente um Sporting endinheirado que pusesse de joelhos os nossos eternos rivais corruptos. Obviamente que aqui teríamos também um clube corrupto, tão ou mais até que os rivais que tanto criticamos nos dias que correm. Seríamos provavelmente um entreposto de lavagem de capital, tráfico de jogadores e sabe-se lá mais o quê.

E se realmente sorrio perante a perspectiva de ver os nossos rivais vergados a um domínio nosso, tudo o resto me parece mau demais. Não é isso que eu quero para o meu Sporting, o nosso Sporting. Não me identifico com tal forma de estar no desporto e na vida.

Finalmente há um terceiro ponto pelo qual considero que Ricciardi não é um bom candidato à presidência do Sporting: o seu currículo na banca.

Como é de conhecimento geral, José Maria Ricciardi foi alto quadro do Banco Espírito Santo (e Comercial de Lisboa para quem ainda se lembra da sua designação mais arcaica). Foi Vice-Presidente do Conselho de Administração do Banco Espírito Santo de Investimento SA (BESI), membro da Comissão Executiva do Banco Espírito Santo (BES), Presidente do Conselho de Administração do BES Investimento do Brasil S.A. (BESI Brasil), e membro do Conselho de Administração da Espírito Santo Financial Group SA.

Na realidade, toda esta colecção de cargos pouco ou nada é relevante para aqui, eu não tenho dúvidas que Ricciardi percebe bastante mais de gestão e finanças do que eu, no entanto não nos esqueçamos que se o ex Novo Banco faliu, ele terá tido a sua quota-parte de responsabilidade. Estava lá, fazia parte, não se pode simplesmente desresponsabilizar e dizer que a culpa foi toda do primo.

E se há coisa que eu realmente abomino é pessoas que se descartam, que não assumem, portanto a questão que deixo para reflexão é: será um bom candidato à presidência do Sporting alguém com este currículo? Croquete, apologista da venda da SAD e ex gestor e administrador dum banco que faliu? Têm a palavra os Sportinguistas.

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Comments

  1. Boa Tarde

    Acho que deveremos todos juntos analisar estes dois LInks e acho que dizem tudo sobre esse senhor.

    https://www.rtp.pt/noticias/economia/irma-de-jose-maria-ricciardi-suspeita-de-branqueamento-de-capitais_n781114

    https://sol.sapo.pt/artigo/414368/jose-maria-ricciardi-a-familia-culpa-me-pelo-colapso

    Está ligado ao colapso da banca, branqueamento de capital e o Sporting não precisa de pessoas que para terem acesso as suas contas congeladas precisem de ser presidentes de uma instituição publica para fazerem tudo o que querem e ficarem impunes das suas responsabilidades como o exemplo do nosso rival do panelas, que mandam vir pneus com pó e dividas à banca que ninguém fala ou já se esqueceram ( https://observador.pt/2019/08/01/empresa-de-luis-filipe-vieira-tem-divida-de-54-milhoes-de-euros-ao-novo-banco/ ).

  2. GreenMarquis

    Temos de acabar com esse mito que a venda da SAD seja sinónimo de “clube endinheirado”
    Os unicos que lucraram com o caroussel do mendes foi o mendes. Mesmo com o Monaco a ser campeão, basta olhar para onde está hoje.

    Lavagem de dinheiro é isso mesmo, comprar e vender jogadores, mas quem lucra é quem faz a negociata, não o clube.

    O clube acabou, terminou. Agora resta saber se conseguimos salvar alguma coisa quando a SAD for vendida.

    1. Paulo Vieira

      Você agora tocou com o dedo na ferida, a venda da SAD não significa um clube endinheirado. Com a venda da SAD só podemos ter a certeza duma coisa, vamos ser um entreposto de negócios escuros e toda a escumalha andará, de uma maneira ou de outra ligada à Sporting SAD. Seremos falados na imprensa estrangeira, de tempos a tempos, pelas piores razões, por alguns jornalistas de investigação estrangeiros, porque os jornalista cá do burgo deixarão a SAD em paz pois estarão todos (ou quase todos) a receber uma avença.
      A outra vertente tem a ver com o Clube que, ao perder a SAD, nem sequer fica com os símbolos do Clube pois estes, inexplicavelmente pertencem também à SAD.
      SL