RUGIDO VERDE

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Quinta-feira, Março 28, 2024

Jordão, ídolos e amor-próprio

É normal, quando crescemos, ganharmos a perceção de que as pessoas que idolatramos e temos em alta consideração são pessoas normais, com virtudes, claro, mas também com defeitos. É normal deixarmos de ver os nossos pais como super-heróis, é normal percebermos que não há ninguém invencível, nem perfeito. Isso não quer dizer que deixemos de gostar das pessoas, simplesmente quer dizer que crescemos, faz parte da vida.

O que é, realmente, uma pena, é quando percebemos que o melhor é mesmo não ter ninguém no pedestal de “ídolo”, por isso trazer mais desilusões que alegrias. Esta é a realidade do Universo Sportinguista e, pelo menos eu, descobri isso desde cedo.

A morte recente da nossa antiga glória, Rui Jordão, deixou-me a pensar nisto. Já nasci bem depois de Jordão ter acabado a carreira e tudo o que sei sobre ele me chegou através de arquivos videográficos, ou de histórias contadas pelos mais velhos. A sua partida deixou-me a pensar que talvez tenha partido um dos últimos ícones do Sporting que conseguiu deixar este mundo sem ter manchado a sua relação com o Sporting Clube de Portugal.

Claro que isto é relativo. A partir do momento em que vejo indivíduos como Bruno Fernandes serem endeusados por adeptos do Sporting, percebo que é um tema que funciona com base na relatividade. Na minha maneira de viver o Sporting, jamais se enquadraria um endeusamento a um jogador que rescindiu com o Clube, aproveitando-se das circunstâncias e agravando o episódio mais negro da história leonina.

Só posso escrever através da minha ótica, mas naturalmente alguém que leia isto e discorde, poderá contrapor. Mas, a meu ver, Bruno Fernandes é só um exemplo, entre muitos, de alguém que tinha tudo para ser uma lenda do Sporting, mas que pela falta de valores, e pela falta de carinho pela instituição, nunca o será para mim.

Comprei a minha primeira camisola do Sporting algures entre o final da última década e o início desta. Se a memória não me falha, foi no dia em que vi o primeiro jogo europeu em Alvalade (0-5 frente ao Bayern de Munique). Se não foi, foi por essa altura. Era eu um miúdo e pus a hipótese de estampar a minha mais recente aquisição com o nome de um jogador, mas que jogador seria digno de tal coisa – Moutinho, Liedson?

Na altura, o meu pai recomendou-me que deixasse em branco, porque “Epa, eles depois vão jogar para o benfica, ou qualquer coisa assim, e ficas com uma camisola com o nome deles”. Lembro-me disso como se fosse ontem, e nunca estampei uma camisola do Sporting com nome nenhum. E não é que era verdade? Tanto, por exemplo, Moutinho como Liedson, acabaram por jogar num rival.

Moutinho, Liedson, Patrício, Gelson, William… A lista de desilusões continua. Jogadores formados no Sporting, com bom desempenho desportivo, que tinham tudo para ser imortais, mas trocam tudo isso por cinco tostões. Depois temos os ex-atletas que, assim que podem, se servem do Sporting na forma de tachinhos aqui e acolá. Quantas ex-personalidades do Sporting não sobrevivem de comentar o estado do Clube na televisão, muitas vezes com cartilha personalizada?

O que é que tem o Jordão a ver com isto tudo? Basta olhar para o seu parceiro de ataque na altura. Cresci a ouvir falar maravilhas do Manuel Fernandes, em como era um grande Leão, em como marcava tantos golos pelo Sporting… o homem era o ídolo do meu pai. E agora? Agora sobrevive de falsos choros em direto num canal perto de si, sobrevive de se colar ao Sporting Clube de Portugal, como tantos outros mistos de lapa e sanguessuga.

Gostava tanto que TODOS os Sportinguistas entendessem que, por muito que alguém dê ao Clube enquanto jogador, treinador, ou presidente, o Clube já cá estava antes dele. Todos nós vamos sempre dever mais ao Sporting, do que o Sporting a nós. Deixem de idolatrar quem, depois de dar uns pontapés na bola, assim que pode trai o Clube. Deixem-se disso, não podemos idolatrar qualquer um. O Sportinguista tem de ter mais amor-próprio, tem de ter mais dignidade.

Eu sei que é bom ter alguém para quem olhar como modelo. Olhemos uns para os outros. Olhemos para quem faz esforços e sacrifícios. Olhemos para quem não é pago para representar o Sporting. Nós somos o Sporting, eu e tu que estás a ler isto agora. Nós que vamos à bola, que vibramos, que gritamos, que pulamos e que choramos com isto. Nós é que devíamos ser os ídolos uns dos outros.

Quanto a mim, guardo os endeusamentos para o final, para quando se chega ao fim do serviço ao Clube, para quando se chega ao fim da vida e se pode olhar para a figura e dizer “F***-**, que Leão”. São poucos, mas existem.

Um deles partiu a semana passada. Vê lá tu, Jordão, que nunca te vi jogar e chorei quando soube da notícia. Quando aí chegar, se calhar até é o teu nome que estampo na minha camisola. E quero um autógrafo, se não for muito incómodo!

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Comments

  1. GreenMarquis

    Bom texto.
    Concordo ctg. Com as rescisões deixei de ter “idolos”. O unico jogador que seguia no FB era o patricio, porque sempre o considerei “um dos nossos”, alguem que nunca sairia porque sentia o clube.
    Sabemos o resultado. Não só saiu como liderou a revolta que levou o clube à pior crise da sua história.

    Para mim deixaram de existir idolos. Mas respeito os jogadores. Não respeito quem rescindiu, mesmo que afirme que se “arrependeu”, porque quem traiu uma vez trairá dois e três. Acabou, finito, são escumalha e sempre o serão.

    Quanto a jogadores sairem e representarem outro clube, nada contra, basta relembrar o Jardel que nos deu grandes alegrias, o João Pinto, o Coentrão. Todos eles honraram a nossa camisola.
    E Liedson foi reformar-se para o porco, não foi nada como o maca podre que traiu o clube.

    Neste momento apenas tenho um idolo e o seu nome é Ronaldo…. todos os outros não me importam.

    A seguir a Alcochete, o plantel deveria ter-se unido, e todos os nomes deveriam ter sido retirados das camisolas. Apenas um nome restaria SPORTING. Isso é que deveria ter sido feito.

  2. HULK VERDE

    Grande texto, muito lúcido e ao mesmo tempo com muito sentimento. Parabéns!