RUGIDO VERDE

Um dos adjetivos com que carinhosamente o anterior presidente do Sporting, Bruno Miguel de Carvalho, foi presenteado foi “ditador” ou “coreano”. Os seus detratores foram incansáveis no bater desta tecla, criticavam recorrentemente o ego de Bruno de Carvalho, que o ex-presidente se achava dono do Sporting, e o seu ego para aqui, e o seu ego para ali, acha-se dono do clube, blá blá blá e o catano e o camandro pardais ao ninho.

Daquilo que me lembro Bruno de Carvalho, foi eleito por uma esmagadora maioria de sócios, inclusivamente foi fortalecido numa assembleia geral uns meses antes da destituição por quase 90% dos sócios presentes na mesma.

Nada comparado por exemplo com a atual direção, que viu o seu mais recente relatório e contas ser aprovado à tangente, tendo tido inclusivamente mais sócios a votar contra. No entanto, o outro é que era “ditador” e “coreano”.

Ainda em relação a esta última assembleia geral, recordemos um episódio engraçado: como foi largamente noticiado, o presidente Frederico Varandas foi fortemente contestado. E qual foi a sua reação à contestação? Atirar beijinhos para as bancadas! Quando questionado pelos jornalistas sobre se consideraria demitir-se, Varandas ainda se riu na cara deles, mas o outro é que era “ditador” e “coreano”.

Para Frederico Varandas os contestatários são uma minoria ruidosa que deve ser censurada. Frederico coloca mesmo a hipótese de levantar processos disciplinares aos sócios que o insultaram na AG em questão. Citando o jornal ABOLA de 16/10/2019 “Além das muitas críticas ao presidente do clube, Frederico Varandas – que respondeu enviando beijinhos para a bancada -, e sua Direção, dentro e fora do Pavilhão João Rocha, o que mais saltou à vista foram os insultos ao líder leonino, que foram dirigidos também aos restantes órgãos sociais. Essas injúrias não se verificaram apenas das bancadas, onde os grupos mais exaltados assistiam à reunião magna, mas também por parte de alguns dos 28 sócios que se inscreveram para usar da palavra. Segundo apurou A BOLA, é precisamente sobre alguns desses associados que recaem agora processos disciplinares, que foram abertos e seguirão os trâmites legais definidos.” Mas o outro é que era “ditador” e “coreano”.

Frederico Varandas, se tivesse um pingo de vergonha na cara, teria apresentado a demissão após a vergonha que foi esta última AG, isto depois da AG de acionistas também não ter corrido particularmente bem para os seus lados.

Se o outro era “ditador” e “coreano”, Varandas é seguramente “autista”. Relembro que estamos aqui a falar dum presidente que foi eleito mesmo tendo havido cerca de mais mil sócios a votar noutro candidato, mais concretamente João Benedito – cerca de 43% dos sócios votaram em Benedito contra apenas 39% em Varandas. É a estes que o nosso grande presidente considera minoria? Serão os 756 sócios que votaram contra o seu relatório e contas uma minoria? Serão os 1977 sócios que votaram contra a expulsão do ex-presidente uma minoria?

Olhando para estes números, não me parece de todo que sejam uma minoria. E se fossem? Mereciam ser tratados com o desprezo e a arrogância de Frederico Varandas? Não só desvalorizando a contestação, mas também pretendendo censurá-la? E o outro é que era “ditador” e “coreano”.

E chegados a este ponto, pergunto eu: mas que raio de democracia é esta afinal? Onde uma minoria de sócios é que decide, em que uma minoria de sócios é que tem o poder de decidir os destinos do clube? Os defensores desta realidade vêm recorrentemente com o tema da antiguidade. Porque os sócios mais antigos pagam quotas há mais tempo. Devem por isso ter mais direitos. Ok, sim senhor, nada contra. Podem ter direito a bilhetes mais baratos para os jogos, ou quotas mais baratas. Ou descontos na Loja Verde.

Por esta ordem de ideias, os cidadãos mais velhos também deviam ter direito a ter mais votos quando é para eleger presidentes, governos ou autarcas. Afinal, descontam há mais tempo e pagam impostos há mais tempo. Mas isso não acontece, pois não? Tenhamos 18 ou 81 anos, temos todos direito a um voto apenas.

Caminhamos, portanto, a passos largos para a “coreanização” do Sporting, encenada pelo grande líder supremo Frederico “autista e calimero” Varandas e secundada pelo seu PMAG, Rogério “já está já está” Alves, que faz questão de anunciar à boca cheia que não cumpre os estatutos com os quais não concorda numa política de quero, posso e mando.

Mas o outro é que era “ditador” e “coreano”. Está certo.