RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Março 29, 2024

A importância das coisas

Não devem ser muitos os conceitos mais relativos que o da “importância”. Sou da opinião que qualquer coisa, qualquer tema ou assunto tem, somente, a importância que lhe quisermos dar, e o exemplo disso é a sociedade em que vivemos hoje – uma sociedade em que os valores a que a generalidade das pessoas atribui, de facto, importância, chegam a ser os que deviam ter menos.

A uma sociedade em crise crescente de valores, não escapa, infelizmente, o Sporting Clube de Portugal, que se encontra também ele numa crise imensa dos valores a que se propôs quando foi fundado há 113 anos. O título desta crónica é, a meu ver, a chave para entender a grande cisão existente no seio dos associados do clube.

Sendo que me encontro (muito) descontente com a actual situação que é vivida no Sporting, consigo atribuir isso à importância que certas coisas têm para mim e que, aparentemente, não têm importância para quem está à frente do clube e para os apoiantes das novas pseudo-filosofias que comandam o reino do Leão.

Exemplificando, eu dou importância à independência do clube em certos aspectos. Sempre fui a favor de um Sporting governado pelos sócios (embora isso me tenha vindo a trazer alguns dissabores, coisas para outra crónica), e que não se afiliasse aos carrosséis de clubes que vemos interagir quase exclusivamente entre si nos mercados de transferências e a negócios ruinosos que beneficiam toda a gente menos o clube.

Ora, quem ajudou a actual Direcção a chegar ao poder, certamente não pensa da mesma maneira, ou não víssemos a anterior reestruturação financeira a ser deitada fora e determinado tipo de negócios, que pensei que tivessem ficado num passado que esperava ver regressar, a acontecer novamente.

Temos aqui a questão da importância, tal como há pessoas (como eu) que dão importância à independência financeira do clube, há outras que não se importam de ter um clube que sirva de entreposto para jogadores chegarem, valorizarem e saírem quando certas entidades o entenderem, entrando outros para o seu lugar, sem que o clube consiga fazer grande coisa em relação a isso. Talvez se fosse sócio de um clube como o Famalicão (sem desprimor para quem é), desse menos importância a este tema.

Outro aspecto em que, na minha opinião, esta questão se nota é na tão aclamada “elegância”, que é apregoada por muitos sportinguistas que, por coincidência ou não, estão associadas ao elitismo e ao bonito mundo das aparências.

Eu, por exemplo, dou mais importância ao valor da ambição do que ao valor da elegância. Alguns, dirão que é mais importante ser elegante que ambicioso. Até admitia poder estar errado, mas é impossível quando, na comunicação social, temos pessoas que se dizem Sportinguistas dizerem que o Sporting perde determinado jogo porque quis ser elegante para com o adversário.

Outro valor a que eu dou importância e a que não se parece estar a dar nenhuma é à transparência para com os sócios.

Talvez por me ter habituado a saber o que realmente se passava nos meandros do clube, agora tenha expectativas demasiado elevadas em relação a isso, mas a verdade é que a forma misteriosa como tantos negócios e atitudes se têm dado no Sporting, me faz pensar que o valor da transparência não tem assim tanta importância no Sporting actual.

É inevitável que discussões como esta não acabem por remeter para a luta de classes que existe entre o Sporting popular, a que tivemos acesso no mandato de Bruno de Carvalho, e o Sporting das elites que está a voltar a florescer para gáudio de quem preza mais a aparência e o “parecer bem”, mesmo que isso implique alguma subserviência e, inevitavelmente, uma cultura de derrotismo.

Enquanto as prioridades e a importância devida aos factores que fazem, ou podem fazer, do Sporting um clube realmente grande, não forem atribuídas, vai ser difícil para o clube sair da situação em que se encontra.

O Sporting Clube de Portugal, à presente data, voltou a colocar-se, por opção, no lugar mais baixo do pódio das três grandes instituições desportivas em Portugal. Voltou a assumir-se como o mais pequeno que os rivais, a assumir uma falta de ambição e de competência que tinha vindo a readquirir. Voltou a vergar-se perante os interesses dos outros e a não zelar pelos seus. Voltou a era em que o Sporting serve e não é servido.

Chegamos então a uma encruzilhada, onde a tal atribuição de importância se revela como um factor de separação irreversível entre as denominadas duas facções existentes no clube. E é tão simples, que por vezes passa despercebida:

Tudo se resume à importância que damos, ou não, a ter uma coluna vertebral.

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Comments

  1. Paulo Vieira

    Não me parece que façamos parte do carrossel do mendes pois isso implicaria compras inflacionadas compensadas por vendas também inflacionadas a outro clube do carrossel, ora, nós somos só um outsider, um dos depósitos de entulho que permite que o carrossel continue a girar, daqui não sai nenhum jogador acima do seu valor de mercado, bem pelo contrário, todos os negócios feitos com o proxeneta são maus para o Sporting.
    Rogério Alves é o master mind da golpada, esta direcção fantoche apenas serve para ir levando o clube até ao ponto de rotura em que os sócios se verão confrontados com duas hipóteses: a venda da SAD, muito provavelmente ao Fundo Apollo, ou a falência. por isso não pode haver transparência. Mas tudo isto é camuflado por uma comunicação social que tem ordens para apoiar este sporting manso.

  2. jorge mendes

    importante é ter glamour nos negócios…… e estar em 1º lugar, o resto não interessa.

  3. Rei Leão

    Muito bem. Excelente texto. Também me parece que um dos factores que nos levou a chegar a essa encruzilhada foi o facto de que quem se propôs “unir o Sporting” nunca ter tido essa intenção, ou pelo menos não a pôs em prática. Eu prefiro ficar do seu lado. Tenho coluna vertebral. Obrigado pelo texto.