RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Domingo, Maio 05, 2024

Neste dia… entrevista a Roger Spry em 2012: «Os jogadores são tratados com um cuidado exagerado»

Roger Spry em 1993

É com gargalhadas que atende o telefone, percebendo que o número é português. E é com saudade que fala de Portugal e do Sporting. Com vontade de voltar um dia. Roger Spry, um dos melhores especialistas em condição física que passou por Portugal. Numa época em que o plantel do Sporting tem sido fustigado por inúmeras lesões, o preparador físico que esteve em Alvalade na época de 1994/95 ficou na memória dos jogadores e adeptos pelos inovadores métodos de trabalho da componente física.

Quisemos perceber um pouco daquilo que pode ser feito para contornar e minimizar esta situação que tem colocado os adeptos à beira de constantes ataques de nervos, pois em momento algum da época o departamento clínico de Alvalade esteve completamente vazio.

O plantel do Sporting este ano sofreu um claro acréscimo de qualidade e potencial, no entanto grande parte das contratações chegaram a Alvalade com um historial clínico nada abonatório. Que se pode fazer numa situação destas?

Não conheço por inteiro as diversas situações clínicas do Sporting, no entanto o grande problema é que se trabalha com os jogadores com um cuidado exagerado e que depois em situações limite – durante o jogo propriamente dito – eles não estão fisicamente e psicologicamente preparados. Claro que estão sempre muito mais propícios a lesões e o seu historial clínico só por si acaba por atrapalhar o trabalho diário.

Os jogadores só podem jogar a 100% contra o Benfica ou Porto se fizerem treinos sempre no limite

Mas numa situação destas a pré-época é factor determinante para este tipo de jogadores propícios a lesões?

Não! Claro que não! É muito perigoso para o aspecto físico pensar que a pré-época resolve tudo e que a partir daí só é necessário trabalhar os aspectos técnicos e tácticos. O trabalho físico tem de ser diário, e um treino de pré-época tem de ser encarado como um treino normal, só mais um dia de trabalho. A virtude da perspectiva de treino está no seu aspecto global. Há que conciliar por inteiro o treino físico com o treino técnico-táctico, só assim é possível existir complemento perfeito entre todos eles. Quando se fala de treino físico, tem de se pensar no jogo em si, no futebol como único objectivo.

O treino tem de ser sempre encarado com o mesmo ritmo de um jogo. Os jogadores só podem jogar a 100% contra o Benfica ou Porto se fizerem treinos sempre no limite ao nível físico, o que também os prepara ao máximo no aspecto psicológico. É das coisas mais importantes no futebol treinar-se com intensidade e qualidade. Se treinam a 50%, vão para jogo e não conseguem transportar ao máximo o ritmo competitivo, isto é óbvio.

Mas há casos individuais a ter em conta…

Sim, cada caso é um caso, mas o treino deve ser entendido como um todo, no entanto se for necessário, no fim de cada treino, faz-se trabalho específico com os jogadores que necessitem de outro tipo de treino especial. Por exemplo, quando estive aí em Lisboa, o Figo tinha problemas ao nível da força, da explosão e da resistência, por isso chegava ao fim do treino de conjunto e eu ficava com ele a trabalhar esses índices. Mas que fique claro: Treino físico nunca pode ser dissociado do treino táctico.

Figo tinha problemas ao nível da força, da explosão e da resistência


Uma das situações que mais preocupa os adeptos leoninos chama-se Jeffren. Nos últimos 2 anos teve 7 lesões musculares, é normal?

Um jogador ter uma lesão muscular é perfeitamente normal. Acontece porque nada nem ninguém tem uma fórmula perfeita para controlar esse tipo de situações. Ter duas lesões dentro do mesmo género? É menos normal mas aceitável. Ter sete lesões em dois anos?! É problema de treino. Não se pode aceitar que um jogador se lesione sete vezes num curto espaço de tempo com o mesmo tipo de lesão muscular. É mau sinal e sinal de que o treino específico não está a ser feito com a exactidão que esta situação exige.

Pode-se falar de incompetência por parte da equipa técnica ao nível de treino físico, e/ou do departamento médico?

Não tenho elementos para avaliar as diversas situações, mas apesar de vários jogadores terem um historial de lesões negativo, com a filosofia de treino correcta, isso terá de ser ultrapassável ou então não fazia sentido contratarem-se esses jogadores. Faz-se trabalho específico, dá-se tempo ao tempo, mas os jogadores estão ali é para jogar e tudo tem de ser feito para que estejam sempre prontos a 100% para ir a jogo.

Espera um dia regressar a Portugal?

Tenho ainda 5 ou 6 anos de trabalho nesta área, estou a colaborar com a Selecção da Áustria, mas das coisas que mais gostava era voltar a trabalhar no Sporting. Toda a gente sabe disso. É um clube que nunca esqueço e que me traz as melhores recordações. Um forte abraço para todos os adeptos do Sporting.

Fonte: Sporting Apoio

Data: 31/01/2012
Local: Sporting Apoio
Evento: Entrevista a Roger Spry

Artigos relacionados

Comments

Leave a Reply

XHTML: You can use these tags: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>