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Sexta-feira, Abril 19, 2024

Neste dia… em 2004 – Entrevista ao administrador do recinto leonino: «A solução das cadeiras multicolores que o arquitecto Tomás Taveira apresentou foi excelente»

Armando Santos: «Estádio José Alvalade é o mais completo»

RECORD – Quando é que soube que o Estádio José Alvalade ia receber a final da Taça UEFA?

ARMANDO SANTOS – Na véspera recebemos indicações fortes nesse sentido. Na manhã do dia em que foi tornada pública a notícia chegou a confirmação oficial após muitos rumores oficiosos. Foi para todos nós que aqui trabalhamos uma enorme alegria.

R – Porque ganhou Alvalade, em detrimento de outros estádios, como o Dragão ou a Luz (além St.James’s, Stadium of Light e Ibrox)?
AS – A UEFA sempre deu a entender, por sugestões que nos dava e que nós seguíamos, que isto poderia suceder. Em segundo lugar, Alvalade é o mais acolhedor dos recintos em competição, impecável a nível de segurança e com acessibilidades mais avançadas do que os outros estádios do Euro’2004.

R – Serão necessárias melhorias entretanto?
AS – Não. O que a Taça UEFA nos exige, basicamente, é a manutenção dos estádios.

R – Por acasos do sorteio, o jogo até agora mais esperado do Euro’2004, o Portugal-Espanha, é em Alvalade. Esse encontro é mais importante que a final da UEFA?
AS – Antes de mais que fique registado que o estádio do Sporting tem tantos jogos como os do Dragão e da Luz, apesar de não ter a inauguração nem a final da prova. E esse é de certeza jogo de casa cheia.

R – Das suas palavras subentende-se que considera o Estádio José Alvalade o melhor do País. É verdade?
AS – Tentando ser o mais imparcial possível, parece-me óbvio que este é o mais completo. O mais acolhedor, o que tem mais espaços de convívio – tem um centro comercial, alberga 16 salas de cinema, tem pavilhão multidesportivo, tem piscinas, ginásios, clínicas…

R – Mas uma das lacunas apontadas ao estádio é o pavilhão sem bancadas.
AS – Tivemos de optar: passar de 40 mil para 52 mil lugares no estádio ou ter bancadas no pavilhão. Decidimo-nos pela primeira hipótese. Não há lugar para público mas treina-se lá o andebol, o futsal, outras modalidades. Há piscinas, ginásios, salas de ténis de mesa para competição e para o utente comum. E temos protocolos com entidades para usar os respectivos pavilhões.

R – Há muita gente que não gosta dos acabamentos do estádio. Isso não o preocupa?
AS – A solução das cadeiras multicolores que o arquitecto Tomás Taveira apresentou foi excelente. Quanto aos tão criticados azulejos exteriores devo dizer que é preferível esta solução à solução fria do betão, pela qual outros estádios optaram. Além disso tem mais qualidade e com o hábito deixará de chocar. Mas admito, obviamente, que haja pessoas que não gostem da solução.

R – A controversa decisão de colocar cegos nos lugares atrás dos painéis foi a primeira dor de cabeça que teve.
AS – Não! Houve uma confusão. O Sporting admitiu colocar os painéis na cobertura mas dado o peso tornou-se numa solução complicada. Preferiu-se colocar onde estão hoje, perdendo alguns lugares nas bancadas. Em conversa com adeptos invisuais do clube, eles, reforço eles, propuseram a solução de ficarem situados naqueles lugares. Uma outra associação indignou-se e começou a dizer-se que o Sporting queria ganhar dinheiro com a questão. Falso. Entretanto, assunto encerrado.

R – Outra crítica: João Pinto lesionou-se ao embater num painel publicitário n o jogo com o FC Porto: eles estão ou não à distância regulamentar? Os fossos e as escadas de acesso aos balneários são ou não seguros?
AS – A distância entre a linha lateral e o painel em que o João Pinto chocou é superior a quatro metros, como a UEFA regulamenta. Mas, dentro do espírito de melhoria que nos rege, vamos colocar uma vedação à volta da escada de acesso aos balneários.

«A RED devolveu-nos o dinheiro»

R – O estado do relvado de Alvalade marcou os primeiros meses de existência do recinto. O que se passou?
AS – A RED era uma empresa que nos oferecia garantias. Demos sempre o benefício da dúvida, até que, três jogos depois, resolvemos actuar. Quando tivemos um período de três semanas sem jogos, optámos por outra solução que tem sido um sucesso faça chuva ou faça sol, mas que nos obrigou a trabalhar, na altura, 16 a 24 horas por dia.

R – O processo saiu muito caro ao Sporting?
AS – Fizemos um acordo com a RED e os custos não foram tão elevados assim. O Sporting foi ganhando e ninguém se lesionou, o que evitou problemas complicados.

R – Quanto pagou a RED?
AS – Na prática, deixámos de investir numa solução e investimos noutra.

R – A RED devolveu o dinheiro que tinha recebido e o Sporting não chegou a pagar o que faltava . É isso?
AS – No fundo, é exactamente isso. Houve dinheiro devolvido e outro que não chegou a ser cobrado.

R – Na altura, o presidente do FC Porto referiu-se, com sarcasmo, à relva do Sporting. O que lhe apetece dizer agora?
AS – A solução pela qual o FC Porto optou foi uma das que nós consultámos, embora tenhamos escolhido uma outra. Compreendemos que eles não tenham querido escolher exactamente a mesma solução que nós…

«Mário Dias tem sido inexcedível»

R – Tem tido relações com os seus homólogos do FC Porto e do Benfica?
AS – Prefiro não responder, em relação ao FC Porto. Em relação ao Benfica devo dizer que tenho excelente relação com Mário Dias [administrador da Benfica Estádio], pessoa que considero bastante e que foi extremamente prestável na fase do problema da relva que tivemos. Tem sido inexcedível.

R – Mas a organização da Benfica Estádio é diferente da solução leonina. Por que razão?
AS – Optámos por uma organização distinta da do Benfica, de facto. Eles entregaram tudo à Somague, nós preferimos fazer adjudicações uma a uma. Deu mais trabalho mas acreditamos que os custos serão significativamente melhores.

«Há câmaras, há imagens, há provas»

R – Há câmaras de vídeo junto aos balneários?
AS – Há câmaras de vídeo nessa zona e em muitas outras.

R – A NEJA [sociedade que gere o Estádio José Alvalade] foi ouvida e participou no processo?
AS – Como entidade que gere o estádio foi obviamente ouvida e participou no processo.

R – Há imagens da situação que originou o conflito entre Sporting e FC Porto?
AS – Temos câmaras, temos imagens, temos provas mais do que suficientes para sustentar o que o Sporting tem dito e defendido.

«O novo museu é uma obra extraordinária»

R – Para quando está prevista a inauguração do “Mundo Sporting”, o novo museu do clube?
AS – Não há data definida, no mês de Março vai saber-se. Mas 90 por cento da obra já está feita. É uma obra extraordinária que se pode considerar inédita em Portugal com filmes, exposições e recordações históricas de alto valor.

Um dirigente que começou na oposição

Armando Santos surgiu no Sporting pela via mais improvável: como crítico feroz da gestão de José Roquette. Em 1999, na sequência da crise que levou à saída do italiano Materazzi, à demissão de Roquette e à convocação de eleições antecipadas, um grupo conspirativo liderado por Subtil de Sousa quis ser alternativa à direcção mas acabou apenas a concorrer ao consultivo Conselho Leonino. Cinco membros da facção Subtil foram eleitos.

Armando Santos, engenheiro mecânico de profissão, lisboeta de Arroios e sócio há 48 anos, era o quarto da lista. No Conselho Leonino interveio “construtivamente”, como prefere dizer, e foi sondado para integrar a equipa dirigente dos leões. “Uma alegria enorme” para um homem que se tornou sportinguista por influência de um tio e que idolatrou Damas (vizinho de Arroios), Carlos Gomes, Fernando Mendes, Carlos Lopes e Fernando Mamede. Hoje é um executivo do Sporting: o “José Eduardo Bettencourt” do estádio.

Fonte: record.pt

Data: 27/02/2004
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Entrevista a Armando Santos

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