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Sexta-feira, Dezembro 05, 2025

Neste dia… em 1961, Sporting vence Fluminense em Alvalade por 2-0

O «keeper» do Fluminense, Castilho vai apoderar-se da bola.

À boa exibição do vencedor não ficariam mal mais golos

Por FERNANDO SOROMENHO

O Fluminense mal teve tempo para respirar quando o Sporting – como um ciclone – varreu o campo, provocando uma sequência de lances perigosos que levaram ao rubro o entusiasmo dos espectadores. Futebol vertiginoso, intencional, alegre, acutilante e que, regra geral, foi coroado com um «bombardeio, de categoria – como se fosse um fogo de artifício culminado com uma vistosa girandola.

No primeiro quarto de hora, o ritmo dos «leões» esmagou o adversário que, incapaz de ordenar um lance, se limitou a defender, por vezes, reflectindo o embaraço pelas surpreendentes situações que os avançados lisboetas criavam. A sorte, na maioria dos casos, acompanhou os visitantes, não obstante a classe de Castilho transparecer.

Após uma ligeira quebra de velocidade, que durou cinco minutos, o Sporting voltou ao primeiro plano e, aos 19 minutos, deparou com o justo prémio – o 1.º golo. Lance electrizante, «córner» de Morais e Diego, entrando de cabeça, como um bólide, iludiu o guardião contrário. Nessa altura, havia um débito de golos na magnífica exibição do Sporting e que o decorrer do desafio definiria porventura como a de melhor quilate técnico de quantas vimos aos «leões» esta temporada em Alvalade.

Os brasileiros, subordinados ao querer dos lisboetas, figuravam um estatismo comprometedor, o que parecia ser consequência de perturbação, ingenuidade ou de cansaço, ou então «embrulhavam-se» nas tentativas de desarme, enquanto o quinteto dianteiro «leonino», aliás todo o «team», parecia um «fórmula 1», numa pista de corridas de automóveis…

Num enlace rápido, de recorte simplista, os donos da casa aumentaram para 2-0, aos 29 minutos. A recarga de Seminário como um foguete, foi desviada por Diego com um ligeiro toque e Castilho estava batido.

A vantagem era merecidamente, visto que, praticamente, só o Sporting exemplificava um futebol digno de apreço – como o ouro de lei com o devido contraste…

O segundo tempo valeu menos que o primeiro. Nem o Sporting pôde desenvolver e manter a anterior velocidade nem o Fluminense se mostrou tão passivo. Por isso o embate revestiu-se de certo equilíbrio para o que devem ter contribuído também as substituições feitas no «quadro» visitante. Todavia, pertenceram ainda aos «leões» as jogadas de melhor estrutura, sendo de assinalar a impressionante série de «tiros» à baliza de Castilho, aos 12 minutos exactos, e que só não resultaram em golo porque, no meio da caótica confusão, alguns avançados «leoninos» substituíram os defesas contrários, impedindo a progressão da bola…

Nessa altura, já o publico, infelizmente em reduzida quantidade, empolgado com a dinâmica actuação manifestava, amiúde, o seu agrado com aplausos de forte ressonância.

De salientar também a correcção evidenciada por todos os jogadores e o propósito de prestigiarem o futebol. Uma bela demonstração de desportivismo.

Os últimos minutos da segunda parte voaram enquanto as insistências do Sporting, sempre ameaçadoras mas menos clarividentes que no primeiro tempo, prosseguiam. Mas o 3.º golo negou-se, sistematicamente, pelo que a marca final (2-0) ficou a perdurar com um acento lisonjeiro para os sul-americanos. Se no futebol, a par dos golos se aplicasse uma tabela classificativa, em valores, o Sporting justificaria um 16. Em contrapartida, o Fluminense dificilmente atingiria os 10 valores. Só com uma dose de forte benevolência…

Se a «goleada» não se registou, pelo menos motivos não escassearam para que ela fosse uma realidade. Mas a pontaria defeituosa, a sorte a proteger o Fluminense e as intervenções de Castilho foram óbices que afloraram com maior cu menor intensidade, inibindo os «leões» de obterem a compensação devida. Diga-se, a propósito, que o «onze» realmente agiu como um conjunto, sendo de anotar o nível semelhante em que os seus peões se situaram, em trabalho francamente positivo, com uma leve excepção para Fernando, que actuou como interior recuado (a produção todavia foi mais satisfatória que a médio) e Morais, especialmente no segundo tempo.

Os cariocas tiveram de conformar-se com a sua inferioridade, senho definido juntou-se a velocidade, não obstante as suas unidades, quando o frenesim «leonino» foi menos vivo, terem provado que são oriundas de um país onde a habilidade, com a bola nos pés, é um dom invulgar. Contudo, o Fluminense, cuja cotação é importante no conceito internacional, decepcionou, apesar do espírito de luta revelado pelos seus integrantes o que só engrandece o feito dos sportinguistas.

Arbitragem de boa craveira técnica, facilitada, de resto, pelo aprumo dos adversários.

As duas equipas alinharam:

SPORTING – Carvalho; Lino e Hilário; Mendes, Morato e Lúcio; Morais, Figueiredo, Diego, Fernando e Seminário.

FLUMINENSE – Castilho; Jair Marinho e Altair; Edil, Pinheiro e Clóvis; Calazães, Paulinho (Odair), Valdo, Matos (Jair Francisco e Edmilsson) e Escurinho.

Golos: Diego 18′ e Seminário 29′ (Sporting)

Fonte: Diário de Lisboa

Data: 24/05/1961
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (2-0) Fluminense, Particular

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