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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Entrevista a Manaca em 2010: «Fico lixado sempre que o Sporting perde»


Sportinguista desde os primeiros pontapés na bola, Manaca pouco retira de positivo da época que agora termina. Com moral para falar do assunto, aponta defeitos e exige mais do conjunto leonino para 2010/2011. “O Sporting precisa de mudar muita coisa, especialmente em termos defensivos, creio eu. Senti muito isso no último jogo com o Benfica. A equipa nunca foi consistente esta época. Alternava boas e más alturas no mesmo jogo com demasiada frequência e, a meu crer, precisa de reforçar-se com 5 a 6 bons jogadores”, recomendou.

A distância não apagou a chama leonina dentro de Manaca, que continua a “rugir” perante alegrias e tristezas. “Eu continuo a ficar lixado sempre que o Sporting perde. Irrito-me quando não vejo a equipa funcionar, o que aconteceu muita vez nesta temporada”, admitiu.

Houve melhores que eu que não quiseram vir para Portugal

A vinda do moçambicano para o Sporting em 1968 decorreu da grande força de vontade do então jogador. Manaca deixou para trás a sua Beira natal à conquista da metrópole, um trajecto feito por muitas figuras históricas do nosso futebol, mas nem tanto. “Eu era ambicioso, queria tentar a minha sorte num clube, que tinha de ser o Sporting. Rejeitei um primeiro convite do FC Porto e depois nem quis ouvir o Benfica, que também se interessou em mim, até que finalmente apareceu o meu clube. Mas atenção que nem todos os jogadores da minha terra aceitavam vir para Portugal”, lembrou. Os exemplos de grandes jogadores que a nossa Liga nunca viu vieram de seguida. “Jogadores incríveis como Fernando Lage, José Plácido, Caíto e Natalino, entre outros, só não foram nomes ainda maiores porque as suas vidas em Moçambique chegavam para que rejeitassem convites dos ‘grandes’ do nosso futebol. Não lhes compensava a mudança. Foi pena. Foram grandes craques, muito melhores do que eu”, concretizou o ex-defesa.

Autogolo serviu para criar futebol de mentira

Carlos Manaca é um nome que diz muito aos adeptos do Sporting… e não só. O antigo defesa, formado como médio, vestiu a camisola leonina em três períodos distintos entre os anos 1960 e 1970 e está radicado no Canadá desde 1984, tendo feito questão de estar ao lado da comitiva leonina de visita àquele país. Sem papas na língua, qualidade própria de alguém que por esse mesmo traço viveu dissabores mas manteve convicções, o ex-atleta apresentou com contundência a sua defesa do tal autogolo que marcou contra os leões pelo Guimarães em 1980, que tirou o “tri” ao FC Porto.

“Aquele autogolo? Já sabia que me iam perguntar isso”, disparou Manaca, que logo de seguida se defendeu sem nunca mencionar o nome do emblema portista, mas deixando explícita a dura mensagem: “Esse lance foi aproveitado como um pretexto para que outros pudessem a partir de então gerar e dominar um futebol de vergonha, de mentira e negócios obscuros! Foi criado para distrair o futebol português e garantir espaço de manobra. Provou que em Portugal tudo é possível, razão por que o país continua a ter a justiça no cemitério. A mentira tornou-se tão grande que se tornou uma verdade insofismável. Depois dessa altura não houve mais paz no nosso futebol.”

Marcado pelo episódio, mas mantendo a cabeça erguida, o moçambicano de origem, naturalizado português, rejeita a ideia de que tenha fugido para o Canadá em busca de recato e paz, fugindo ao passado. “Isso não tem cabimento, até porque depois de Guimarães, continuei a jogar em Portugal. Vim viver para aqui em 1984 de livre vontade e planeio em breve voltar a estabelecer-me em Lisboa”, promete.

Aos 62 anos, Manaca reencontrou-se com o seu antigo colega e treinador Mário Lino e deu um forte abraço a José Eduardo Bettencourt, que lembrou a sua adoração pela equipa campeã de 1973/74. Lembrando os velhos tempos, o homem que saiu da Beira para conquistar Lisboa rematou: “Acreditem, aquela equipa de que o presidente fala foi a melhor do Sporting! Foi uma alegria ter reencontrado esta gente e podem crer que em Setembro lá estarei em Alvalade a apoiar a equipa.”

Fonte: Jornal o jogo

Data: 27/04/2010
Local: Jornal o jogo
Evento: Entrevista a Manaca

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