RUGIDO VERDE

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Domingo, Maio 05, 2024

Entrevista a Litos em 1985

Litos: «Não sou assim tão importante…»

Desta vez, os convidados da “Foot”” reuniram-se no restaurante de um “leão” ferrenho, homónimo do ‘capitão’ Manuel Fernandes, num clima absolutamente madeirense, onde não podiam faltar as espetadas, os bifes de atum ou as saladas com maracujá. Convidado de honra, o Litos, na véspera do arranque para a nova época, e a jovem Teresa Araújo, a quem a “Foot” tornou simples algo que lhe parecia impossível.

Porque é que é tão difícil pessoas simples como eu conhecerem pessoas tão importantes como tu?” – esta a grande dúvida não só da Teresa, mas de muitos adeptos que veem no jogador de futebol alguém inatingível. Litos respondeu com naturalidade:

Não é tão difícil como as pessoas pensam e, desde já gostaria de frisar que não sou tão importante como me querem tornar. Essa ideia surge porque são as próprias pessoas que criam a barreira entre elas e nós, precisamente por não serem objectivas e terem receio de nos encarar frontalmente. Isto não se justifica!”

A maioria dos craques são autómatos, não têm vontade própria – como escreveram no número 1 de “Foot'”? (Paula Botelho, Setúbal)

“isso é um conceito errado. Eu e os restantes jogadores mentalizámo-nos de que queríamos jogar futebol e conseguimo-lo por vontade própria. Logo não podemos ser autómatos…”

Como te sentistes ao seres considerado na “Foot” a Revelação do ano e “Platini português”? (Júlio Ferreira, Vila Nova, Viseu)

“Senti-me bastante bem. É um prémio para uma carreira marcada pelo sacrifício e, a partir de agora, constitui um estímulo para o futuro”.

Qual é o melhor centro-campista português? (Maria José Coelho, Régua)

“Jaime Pacheco!”

Qual a maior decepção e a maior alegria que tiveste até hoje, na tua carreira? (Lisete Fernandes, Portimão)

“A maior decepção foi o célebre ‘penalty’ que desperdicei na Luz num jogo com o Benfica e que custou o título nacional de juniores. A maior alegria foi uma vitória há dois anos nas Antas, frente ao Porto, noutro jogo que igualmente valeu o título de campeão nacional de juniores”.

Os teus colegas encararam bem a forma como te impuseste na equipa ou notas alguma aversão? (Anabela Silva, Odivelas)

“Penso que eles devem ter uma grande satisfação por me terem apadrinhado, da mesma forma que eu me sinto feliz por fazer parte daquela equipa”.

Toshack não era um treinador à altura do Sporting? (Luís Moreira, Mafra)

“Sempre disse que Toshack é um excelente treinador. No entanto, teve azar na época passada, Diversos factores contribuíram para que não tivesse conseguido vingar no futebol leonino”.

Que pensa de não ter sido ainda chamado à selecção A? (Pedro Monteiro, Lisboa)

“Nada tenho a comentar em relação ao seleccionador. Respeito as suas ideias e, além do mais, parece-me que ainda sou novo para ser chamado à selecção nacional”.

Apesar do carinho e estimação com que és tratado pela massa associativa do Sporting serás capaz de repetir a atitude do Futre no início da época passada? (Júlio Antunes, P Serra)

“Não, não teria a mesma atitude. Aliás, podê-la-ia ter tomado também há um ano. Mas, tinha um contrato e, claro, era imperioso cumpri-lo. Por outro lado, sou muito novo para sujar o meu nome”.

Achas que o Futre agiu bem? (Armanda Torres. Lagos)

“Não sei. Perguntem-lhe a ele”.

Gostarias de vir a representar algum grande clube europeu? Qual? (Luís Alegria, Monção)

“Não vivo obcecado com essa ideia. De qualquer forma, há duas equipas – isto sem falar do Sporting, que é um grande clube europeu – que eu gostaria de representar: Liverpool e Bayern de Munique”.

Como te sentes num ambiente familiar todo portista, inclusive com um cunhado jogador do F. C. Porto? (Isabel Oliveira, Riba d/Ave)

“Sinto-me muito mal quando o Sporting não alcança resultados positivos. Caiem-me todos em cima…”

Quando te sentiste mais nervoso e inseguro na tua carreira? (Óscar Mendes, Águeda)

“No jogo da final do Torneio Infantil Inter-Associações, entre Aveiro e Évora”

Ser-se Sporting é ser-se diferente? (Anna Kaltz, V F Xira)

“Sim, pois o clube tem uma mística especial e há um ‘leão’ em cada canto do Mundo identificado com o mesmo espírito”.

Ser futebolista profissional tira-te tempo de gozares a tua juventude? (Marina Martinho, Lisboa)

“Sem dúvida nenhuma, Comecei a privar-me bastante cedo da maioria das coisas que os jovens da minha idade fazem”

Sentes-te um privilegiado em relação aos outros jovens? (António Patrício, Estarreja)

“Não, de modo algum. Somos todos feitos da mesma matéria”.

Como recebeu a oferta de um carro pelo presidente João Rocha por não ter aceite o convite do F. C. Porto? (Ana Paula Narciso, Amadora)

“Foi um ‘bonus’ por ter rejeitado um convite tão tentador. A verba oferecida era grande, mas eu não me deixei seduzir. Talvez por ter revelado honestidade, João Rocha decidiu contemplar-me com esse prémio.”

És da opinião que as roupas fazem o homem? (Lurdes Viegas, Olhão)

“Julgo que a moda tem influência psicológica, mas nada tem a ver com o facto de as pessoas se imporem ou não com verticalidade”.

Soube que não gostas de dar autógrafos. Porquê? (Teresa Alexandra, Lisboa)

“Não compreendo porque me pedem tantos autógrafos, não consigo perceber. Sinceramente, julgo que era melhor dar beijinhos do que autógrafos. É cansativo estar a assinar o nome a toda a hora”.

A tua personalidade é igual em S. João da Madeira e em Lisboa ou a diferença de ambiente influi no teu comportamento? (M. Martinho, Lisboa)

“Sim, sem dúvida. Em São João da Madeira a vida é muito diferente, apesar de já ser uma cidade. Na capital não me sinto tão bloqueado, posso fazer as coisas com mais à vontade, pois as outras pessoas não notam tanto”.

Entre uma bola de futebol e a Brooke Shields, o que é que escolhidas? (Cláudia Pereira, Fátima)

“Escolhia uma noite com a Brooke. Para toda a vida, prefiro uma bola!”

Tenho 11 anos e jeito para o futebol. Que conselho me dás para atingir o teu nível? (Luís Lameiras, Azambuja)

“Se já meteste na cabeça a ideia de seres jogador de futebol, segue em frente e prepara-te para enfrentar muitas dificuldades e grandes privações”.

Fonte: Revista Foot, Agosto de 1985

Data: 01/08/1985
Local: Revista Foot
Evento: Entrevista

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Comments

  1. Rei Leão

    Mais uma bela memória. Foi uma pena o Litos não ter atingido o nível que o seu potencial fazia prever. Não deixou no entanto de ser um bom jogador.

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