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Sexta-feira, Maio 03, 2024

Adolfo Mourão. Exceptional jogador, desportista e clubista

Na efeméride do falecimento de Adolfo Mourão (14 de Julho de 1981), recordamos um excerto de um artigo escrito na revista “Stadium”, sobre Mourão, poucos meses antes da sua despedida de jogador de futebol.

A não há dúvida. O grande internacional português em futebol Adolfo Mourão abandona o desporto. Em 27 de Junho, em desafio entre o seu clube de sempre – uma virtude! – e um onze cuja constituição ainda está em segredo, o extraordinário «leão» fará sua despedida. Dois meses mais e deixa de deliciar os adeptos do «associoation», um dos mais curiosos tipos de Jogador do futebol nacional.

Mas Mourão está em plena forma, é frequentemente artífice de vitórias do seu clube, não está tocado, segue a vida do desportista, joga como ninguém no seu posto de extremo-direito – poderia muito bem continuar na lida! É verdade evidente. Mas quer terminar com beleza uma vida belíssima de praticante – e sai. Faz bem, faz mal, não vem ao caso; só há que anotar a sua decisão. O mais que se pode acrescentar é que é pena, Tanta pena que será pena se ele não vier a sentir a nostalgia dos campos…

Este Adolfo Mourão, realmente, deixa saudades. Desde logo porque é dos melhores executantes portugueses de todos os tempos.

A «STADIUM» publica hoje algumas «poses» em que se revela o primor da sua execução, do seu excepcional domínio de bola. Dizer, porém, que essas «poses», captados pela objectiva apurada de Nunes de Almeida,  correspondem ao que o jogador é capacíssimo de fazer em plena correria, na máxima velocidade, e – quantas vezes! – com a oposição forte de adversários nem sempre a entrar lisamente, basta para provar que não é exagero falar em primores e em excepções a respeito do que Mourão sabe fazer com a bola à sua guarda.


Estas atitudes de Mourão e outras tantas já ele teve ocasião de apresentar, em pleno movimento, quando do Curso de Treinadores promovido pelo jornal «O Século» há dois anos, de iniciativa e direcção de Cândido de Oliveira. Merece atenção de principiantes e reflexão de jogadores já experimentados.

Tendo ingressado no Sporting Clube de Portugal, ido de um vago clube de Algés onde o futebol era mais de rapaziada que de representação, o grande internacional de agora, nunca mais deixou o solar dos «leões» e desfruta no seu único clube, praticamente, a mais completa estima, inúmeras amizades, animadores incondicionais e um sentimento de saudade que começa a formar-se com antecedência em relação ao dia que Mourão escolheu para se despedir.

O Sporting Clube de Portugal, que possui bem a noção dos serviços prestados pelo Adolfo Mourão durante quinze anos, a Federação Portuguesa de Futebol, que teve em Mourão um dos seus mais categorizados internacionais, a Associação de Futebol da Lisboa, que o escolheu bastas vezes para o seu “team” representativo, todos os clubes e todos os Jogadores que tiveram em Mourão um adversário leal e, ainda, o público desportivo, tantas vezes deliciado com as exibições do famoso jogador, vão por certo aproveitar o ensejo de 27 de Junho para assegurarem a Mourão a “jornada de consagração” que ele indiscutivelmente merece.


Excepcional como jogador, exemplar como desportista e como clubista, Mourão vai deixar, além da saudade da sua passagem pelo futebol nacional, a admiração pela atitude que sabe tomar de se despedir em plena pujança de qualidades e de atributos de “player” e de “sportsman”, duas situações que se completam mas que muitas vezes não aparecem reunidas no mesmo indivíduo.

In «Revista Stadium» de 21 Abril 1943

Adolfo Mourão jogou no Sporting durante 16 temporadas, com um rendimento sempre constante, tornando-se numa grande figura da época, integrando a poderosa linha avançada que antecedeu os Cinco Violinos, em conjunto com Pireza, Peyroteo, Soeiro e João Cruz, e contribuindo para a conquista de dez Campeonatos de Lisboa, quatro títulos Nacionais e duas Taças de Portugal.

Ao longo da sua carreira mostrou uma especial apetência para marcar golos ao Benfica, que conseguiu fazer por 19 vezes, o que também contribuiu para que se tornasse num dos jogadores mais queridos dos adeptos. Foi 15 vezes internacional A, estreando-se a 11 de Março de 1934, com apenas 21 anos, e despedindo-se em grande, ao marcar os seus dois únicos golos pela Selecção Nacional, num jogo em que Portugal derrotou a Suíça por 3-0, no dia 1 de Janeiro de 1942.

Data: 21/04/1943
Local: Lisboa
Evento: Revista Stadium

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Comments

  1. Babalu, um leão como tu.

    Mais uma relíquia que nos é deixada pelo grande Albano. É um prazer ler neste canto de recordações. Isto é Sporting.

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