RUGIDO VERDE

PALMAS AOS CAMPEÕES

Por Carlos Soares

A serenidade intencional dos estudantes não bastou para conter a torrente ofensiva dos novos campeões. No final dos noventa minutos, a alegria do triunfo no jogo juntou-se à da vitória no «Nacional». Em Braga, o Belenenses não foi feliz – e os bracarenses deram um grande passo em frente. O Porto foi a Matosinhos, pensava-se que perderia – e perdeu. Em Tomar, Eusébio «virou» carrasco das aspirações dos unionistas, agora mais últimos. O Varzim de Meirim foi ao Barreiro ouvir o que a turma de Manuel de Oliveira disse, na sequência do que já havia registada na Póvoa. Em Setúbal, com dois Vitórias em busca da vitória, esta pendeu para o melhor «onze», a despeito da forte oposição dos vimaranenses. Finalmente, anteontem, no Bessa, o Boavista cedeu um ponto e terá complicado a sua tarefa final. Muitos interrogações se mantêm ainda… e o tempo para as esclarecer é já escasso.

Que acontece nas romarias, quando as gentes se juntam, pletóricas, buliçosas, alegres… e cai de repente um aguaceiro? Sabem, não é?… Pois bem, a festa que se esperava (e aconteceu) em Alvalade, quase ia sendo estragada pelos estudantes – que entenderam, bem à sua maneira irreverente, «colaborar» nas comemorações «leoninas» com uma manifestação de brio, de força anímica, até de futebol.

Efectivamente, logo que o sr. Francisco Lobo abriu as hostilidades e o Sporting muito naturalmente, disse pelo jogo, do seu desejo de acertar contas pendentes desde o encontro de Coimbra, a Académica, como se nada fosse com ela, começou uma tarefa de duas faces: neutralizar as ofensivas do adversário e ir lá à frente mostrar que também sabia como elas (as avançadas) se fazem.

E o público vibrou e tremeu. Vibrou ante a cavalgada «leonina» no sentido das redes contrárias – cavalgada constante, codiciosa, entusiástica; tremeu com os golpes de contra-ataque dos estudantes – golpes repentinos, fulgurantes, paradoxalmente serenos.

O jogo foi isto. Ataque e contra-ataque. Um «onze» a querer e o outro a tentar. Impressionante a frieza com que os homens de Coimbra se opunham à agressividade dos lisboetas. Mais impressionante ainda a forma como num repente, passavam da situação de invadidos e oprimidos à de invasores. Um remate de Serafim ao poste, prometeu; um outro de Nene para o fundo das malhas, cumpriu; um terceiro de Manuel António, de modo contra o poste, quase ia cimentando a grande surpresa…

Mas o Sporting não queria – nunca quis, diga-se em abono da verdade. A equipa estava mentalizada para a vitória e fazia quanto podia por ela. Ataque neutralizado era ataque renovado – agora, logo, depois, depois ainda. Inconformismo operante. Recusa em aceitar um resultado negativo. As forças, de um lado e do outro, eram já mais anímicas que físicas – mas os «leões» continuavam a rugir, varrendo o campo numa avalanche de ofensivas.

Finalmente, o prémio surgiu. Após quarenta e oito minutos na situação de vencidos, os homens de Alvalade livraram-se desse peso com um remate imparável de Pedras. Dinis estivera na base do lance; o mesmo Dinis resolveu o problema cinco minutos depois, num toque frio, desconvisto, mas certeiro para as malhas de Cardoso..

O Carnaval de Alvalade reavivou-se. O delírio aconteceu. Dentro e fora do rectangulo sucederam-se as manifestações eufóricas de alegria intensa, A oito minutos do fim, a equipa verde-e-branca sentiu que o triunfo já não poderia fugir-lhe. Depois, fez por isso.

Fonte: Diário de Lisboa

Ficha do Jogo:

Sporting: Vítor Damas; Pedro Gomes, José Carlos, Francisco Caló e Hilário; Gonçalves (Pedras 45′) e Fernando Peres; Marinho, Nélson Fernandes, Chico Faria (Lourenço 59′) e Dinis.

Treinador: Fernando Vaz

Académica: Cardoso; Carlos Alhinho, Marques, Rui Rodrigues, Artur, Vítor Campos, Nene, Vítor Gomes, Serafim, Manuel António e Rocha (Gervásio 74′).

Treinador: Juca

Golos: Pedras (77′) e Dinis (82′) (Sporting) ; Nene (30′) (Académica)