Virgilio Lopes: «Temos de fazer melhor com menos dinheiro»
Membro da lista de Bruno de Carvalho
Baixar custos, aproveitar a formação e apresentar uma equipa competitiva são as propostas da Lista B para refundar a ambição leonina…
RECORD – Sente-se preparado para dirigir o futebol do Sporting?
VIRGÍLIO LOPES – Posso dar ao Sporting competência e experiência. Se achasse que não tinha essa capacidade não teria aceitado este convite. Temos uma equipa de três pessoas. Cada um terá a sua área própria de atuação. Considero que tenho determinado tipo de competências que serão importantes para o Sporting.
R – Já planeia a próxima época?
VL – Estamos em eleições [sorri]. A definição da política desportiva terá de ser feita em conjunto com os treinadores e demais departamentos, nomeadamente o financeiro, fundamental na atual situação. Só depois de termos um treinador definido – e esperamos que seja o professor Jesualdo Ferreira – começaremos a analisar esse tipo de questões.
R – Mas já terá um esboço sobre aquilo que entende que a equipa precisa.
VL – Tenho. Será um plantel com 20 jogadores e continuará a existir a equipa B. A partir daqui, muito trabalho.
R – Além de Augusto Inácio, existirá uma terceira pessoa na estrutura do futebol. Manuel Fernandes?
VL – O Manuel Fernandes é um amigo de há muitos anos. Mas a amizade não é razão para que as pessoas trabalhem connosco. Privilegiamos a competência, o profissionalismo e a generosidade. O Manuel Fernandes é um símbolo do Sporting. Terá o seu papel, no desenho que esboçarmos.
R – Têm o apoio de Pedro Gomes, Venâncio, Cadete ou Carlos Xavier. Farão parte da estrutura?
VL – Não! Se há coisa que caracteriza esta candidatura, e que me agrada ao ponto de ser condição sine qua non para fazer parte dela, é que não trocamos apoios por lugares. Aliás, a ideia de que vamos limpar e mudar tudo não pode estar mais longe da realidade. Ninguém entrará no Sporting só por nos ter apoiado. Não distinguimos apoiantes do Bruno de Carvalho, José Couceiro ou Godinho Lopes.
R – O orçamento do futebol é de 40 milhões de euros. Tem uma projeção do corte que será necessário fazer?
VL – Temos uma ideia dos problemas que vamos enfrentar nesse aspeto. Mas parece-me prematuro e pouco sensato, com a informação disponível, quantificar esse corte. Seria mostrar conhecimento e certeza que provavelmente ninguém neste momento terá.
R – Certo é que será insustentável manter os 40 milhões de euros.
VL – É perfeitamente insustentável o Sporting ter o orçamento que tem neste momento. O aumento de custos com o futebol foi completamente desmesurado e sabemos que temos de baixar esses custos. Temos de viver com menos. Temos de fazer melhor com menos dinheiro. Não me parece que isso seja impossível. Estamos dispostos a fazê-lo.
R – O programa da lista B propõe que a preparação física seja independente da equipa principal…
VL – Não é isso exatamente isso. Aquilo que nós vamos recriar é um departamento de metodologia de treino. Será maioritariamente destinado ao trabalho na formação mas terá contactos com o futebol profissional.
R – Portanto, a futura equipa técnica terá à mesma um preparador físico?
VL – Obviamente. Aliás, há dois anos apresentámos o nome de um preparador físico [Raymond Verheijen] que tinha sido escolhido de acordo com o técnico que apontávamos para treinar o Sporting [Marco van Basten]. É público também que convidámos Oceano para um determinado papel, que é o que ele desempenha na atual equipa técnica. Portanto, manteremos isso.
R – Que outras propostas têm?
VL – As nossas propostas são conhecidas. Sempre achámos que o Sporting deverá ter na sua equipa jogadores com alguma experiência, ‘batidos’, e à sua volta um conjunto de jovens da formação com qualidade.
R – Parece-lhe que essa fórmula será suficiente para o Sporting voltar a ser campeão a curto prazo?
VL – Se conseguirmos esse equilíbrio, não tenho a mínima dúvida de que o Sporting começará a reconstruir uma equipa competitiva. Os problemas do Sporting a nível económico, financeiro e desportivo não vão resolver-se no dia 24. Vão começar a ser resolvidos no dia 24. Em primeiro lugar temos de criar condições para que a atual situação nunca mais se repita. Depois, teremos de pouco a pouco construir uma equipa competitiva. E é isso que vamos fazer.
R – Diz pouco a pouco, mas tempo é algo que tem faltado no clube.
VL – Não concordo. Não creio que tenha faltado tempo nem dinheiro ao Sporting. O Sporting tem gasto muito dinheiro e tem desbaratado muito tempo com soluções que não são eficazes nem estão certas.
R – Que tipo de jogador encaixará no Sporting que pretendem?
VL – O perfil que defendemos exige competência, profissionalismo e generosidade. Um bom profissional de futebol tem de ter também as características de um amador. Não vivo no futebol que eu praticava. Mas esses jogadores ainda existem.
R – O que pensa que será necessário fazer para acabar com o estigma do “triturador de profissionais” de que falava o antigo técnico Paulo Sérgio?
VL – Eu não gosto muito desse tipo de expressões, porque limitam demasiado o entendimento das coisas. Aquilo que temos de fazer é [pausa] dar importância a uma coisa que aparentemente nesta casa ninguém deu nos últimos anos, que é a estabilidade. É um aspeto básico numa equipa de futebol. Uma equipa que muda permanentemente de treinadores, jogadores ou estrutura pode ter sucesso mas é muito menos provável que o tenha.
R – Mas quem não tem respeitado esse valor da estabilidade?
VL – Eu creio que são os dirigentes. São eles que têm de ter a capacidade e a responsabilidade de dirigir o clube, explicar aos sócios por que é que tomam determinadas decisões, porque é que elas são mais favoráveis do que outras e não ceder a pressões. Caso contrário, andaremos eternamente a mudar de treinador e jogadores. De há uns anos a esta parte criou-se no Sporting a ideia de que a solução do futebol do Sporting seria sempre essa. Pensa-se que se encontrarmos um ou dois culpados das derrotas temos o problema resolvido, mas não, só o complicamos. A solução é termos a coragem de trabalhar todos em conjunto para que uma equipa e um treinador consigam ter sucesso.
Fonte: record.pt
Data: 13/03/2013
Local: Record
Evento: Entrevista a Virgílio Lopes
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