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Sexta-feira, Abril 19, 2024

Neste dia… em 1951 – Sporting vence Porto por 4-2 e apura-se para a final da Taça Maia de Loureiro

Duas faces diferentes do Sporting e do F. C. Porto

Sporting e F. C. Porto era jogo de certa sensação. Os «leões» já tinham feito uma apresentação ao publico de Lisboa, na festa do seu ex-companheiro Canário. E haviam ganho. Lá para as bandas do Norte o F. C. Porto derrotara com estrondo o misto madeirense. E por muito que se considere a insuficiência deste – manta de retalhos sem ligação nem espírito de equipa – o resultado de 12-0 podia ser tomado como uma indicação. Até porque no ataque dos «azuis e brancos» estava Araújo!

Azevedo executa uma defesa.

O F. C. Porto apresentou a equipa que deve ser a definitiva. Lá está, Diamantino a extremo-direito e Araújo a interior do mesmo lado. E Barrigana, e Virgílio, e Carvalho, e Joaquim. Todos. No Sporting houve, porém, uma surpresa: Canário não alinhou. Lemos que abandonou o futebol depois da festa. Coisas internas que não temos que discutir.

Os lisboetas tiveram um grande susto. A marca começou por 1-0 para o Porto, passou a 1-1 e terminou a primeira parte com 2-1 para os visitantes. Estava certo o resultado? Estava. Os portuenses tinham dominado. O seu ataque penetrara facilmente numa defesa oscilante. Cada avançada dos nortenhos era uma lançada funda do «corpo» da defesa leonina. E se a linha atacante do F. C. Porto se mostrasse mais expedita a rematar (os 12-0, afinal, reflectiam apenas a incapacidade dos contrários…) os «leões» talvez não tivessem ânimo, ante o «score», para reagir.

Mas na segunda parte o panorama modificou-se. O Sporting cresceu, impôs a sua lei, agora com o ataque mexido (Travassos derivou para interior-direito e Albano passou a interior-esquerdo, e os interiores do Sporting apareceram então!) e o F. C. Porto perturbou-se claramente. As rédeas do jogo mudaram de mão 2-2, 3-2 para o Sporting. E estava encontrado o vencedor, até porque tendo o árbitro expulso Alfredo os ares carregaram-se, pairou sobre o Estádio a ameaça de uma tempestade e os «azuis e brancos» ficaram liquidados.

Note-se, porém, uma coisa muito certa: quando o F. C. Porto perdeu o concurso do seu capitão, já o adversário estava senhor do jogo. Já os «leões» tinham a meada nas suas mãos.

O aspecto geral do encontro pode resumir-se facilmente. O Porto não aproveitou devidamente a maré para construir um resultado; o Sporting, com a saída de Vasques, reparou a sua linha da frente, acabou por fazer jus ao triunfo. E uma vez mais se verificou quanto pode um «team» cujo ataque saiba jogar e marcar.

Cada equipa teve duas faces, como o papel químico.

O F. C. Porto teve a face carregada antes do intervalo. Até então movimentou-se bem, com algumas pedras em evidência: Vieira, um extremo veloz, perigoso; José Maria, criador de jogo; Joaquim e Carvalho, tal como Alfredo, dominaram o ataque «leão». Depois do descanso tudo se modificou. Falta de fôlego? Se assim foi continua a observar-se que o Sporting, melhor da primeira para a segunda parte, não acusando os esforços de Itália e do Brasil. Porque é curiosa a modificação sportinguista. Antes do período de folga esteve longe da movimentação que deve ter um «team» campeão nacional. Os «interiores, hoje unidades básicas numa equipa de futebol, não se encontraram. Deram todas as «chances» aos médios alas contrários e estes puderam gizar o seu jogo na base da liberdade dada pelos adversários. Com outros interiores, melhor dito com Albano a interior, a avançada «leonina» subiu muito. Tanto que veio a justificar a vitória, Jesus Correia, que já no domingo anterior deixara boa nota de presença física apreciável, teve momentos felizes. Em dois deles operou uma reviravolta. De 2-2 pôs a marca no 4-2 final para os campeões. Dois golinhos preciosos.

Libertino Domingues arbitrou razoavelmente. O «caso Alfredo» é certamente dos tais que não se ouvem cá de fora.

Ficha do jogo:

Estádio: Nacional

Árbitro: Libertino Domingues

Sporting: Azevedo; Caldeira, Mário Gonçalves, Juvenal, Armando Barros, Veríssimo, Jesus Correia, Vasques (Galileu, 46′), Joaquim Pacheco (Martins, 46′), Travassos e Albano.

Porto: Barrigana; Virgílio, Carvalho, Joaquim, Alfredo, Romão, Diamantino, Araújo, Monteiro da Costa, José Maria, Vieira.

Golos: Travassos (30′), Albano (54′) e Jesus Correia (57′ e 78′) (Sporting) ; Monteiro da Costa (3′) e Vieira (37′) (Porto)

No próximo domingo, pois, teremos o Sporting na final da taça «Maia de Loureiro». E com essa presença mais uma edição do «derby» do futebol, aquele Benfica-Sporting na base do muito que o futebol tem progredido em todos os sentidos.

Fonte: Diário de Lisboa

Data: 09/09/1951
Local: Estádio Nacional
Evento: Sporting (4-2) Porto, 1/2 Final da Taça Maia de Loureiro

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