RUGIDO VERDE

O jogo contava para as meias-finais da Taça de Portugal e prometia salvar a época. No fim oito golos, emoção, incerteza, lágrimas.

16 de Abril de 2008. O dia em que o Sporting marcou cinco golos ao Benfica em menos de meia-hora: 22 minutos, para ser mais exacto. Começou num golo de Yannick Djaló aos 68 minutos, terminou com um golo de Vukcevic já em cima dos 90. Os leões tinham batido no fundo pouco antes, mas subiram cada centímetro a pulso.

A história deste jogo começou muito antes, porém. Muito antes até do pontapé inicial. Numa época desastrada a todos os níveis para os rivais de Lisboa, há muito que o F.C. Porto era o campeão anunciado. Com uma superioridade embaraçosa para os clubes de Lisboa. Ora por isso, sobrava a Taça de Portugal para Sporting e Benfica salvar a honra.

Os dois rivais encontravam-se nas meias-finais, em Alvalade, e dispostos a jogar tudo. O Benfica entrou melhor e marcou dois golos em meia-hora. Rui Costa e Nuno Gomes aproveitaram os remendos da defesa leonina, provocados pela ausência de Polga e pela aposta falhada em Adrien Silva, para garantir uma vantagem tranquila.

O dez encarnado marcava o primeiro golo ao Sporting naquele que seria o seu último derby. Um golo que soube a pouco. Paulo Bento mexeu na equipa logo depois e lançou Izmailov no lugar de Adrien. O Sporting mudou. Mudou sobretudo na segunda-parte, uma segunda parte louca: seis golos, emoção, incerteza, lágrimas de tristeza e alegria.

Yannick e Liedson empataram o jogo a quinze minutos do fim, antes de Derlei colocar o Sporting em vantagem. Cristián Rodriguez empatou o jogo aos 82 minutos, mas nos últimos cinco minutos Yannick e Vukcevic (este quando Paulo Bento já colocara Gladstone para segurar a vantagem mínima) tornaram a história mágica para o Sporting.

O Sporting seguia em festa para a final do Jamor, onde haveria de conquistar a Taça de Portugal frente ao F.C. Porto. Na tarde em que Tiuí vestiu a pele de herói improvável. Já o Benfica continuava a cair a pique: uma temporada com três treinadores, zero títulos e um quarto lugar na Liga, atrás do V. Guimarães e fora da Liga dos Campeões.

Sporting – 5 Benfica – 3, Taça de Portugal

(Ficha)

Estádio José Alvalade, 16 de Abril de 2008 (20:30h)

Árbitro: Jorge de Sousa (Porto)

Sporting: Rui Patrício; Abel, Tonel, Miguel Veloso e Grimi; Adrien (Izmailov, 33 m); João Moutinho, Romagnoli (Derlei, 62 m) e Vukcevic; Liedson e Yannick (Gladstone, 86 m).

Benfica: Quim; Nélson, Luisão, Katsouranis e Léo; Petit (Cardozo, 85 m); Maxi Pereira, Rui Costa e Cristian Rodriguez; Di Maria (Sepsi, 65 m) e Nuno Gomes.

Ao intervalo: 0-2

Marcadores: 0-1, Rui Costa (19 m); 0-2, Nuno Gomes (30 m); 1-2, Yannick (67 m); 2-2, Liedson (75 m); 3-2, Derlei (79 m); 3-3, Cristian Rodriguez (82 m); 4-3, Yannick (83 m); 5-3, Vukcevic (90 m).

Disciplina: Cartões Amarelos para Di María (9m), Luisão (56m), Critistian Rodriguez (57m), João Moutinho (71m), Nuno Gomes (77m), Maxi Pereira (89m)

Resultado final: 5-3

Derlei: «Mais importante que o golo foi a conversa ao intervalo»

Derlei, avançado do Sporting, em declarações à Sic, após a meia-final da taça de Portugal com o Benfica, que os leões venceram por 5-3. O brasileiro marcou o terceiro golo leonino, depois de ter estado sete meses e meio ausente por lesão:

«Foi importante o golo, mas mais importante foi a conversa que tivemos no balneário. Todo o trabalho que fizemos estava a ser posto em causa. O Benfica dominou e estava a merecer ao intervalo, falámos e dissemos que época não podia acabar assim, com tudo o que tínhamos feito até aqui.»

Como viveu este regresso?

«No início ficamos um pouco ansiosos porque sabemos da responsabilidade do jogo. Um derby é um jogo que toda a cidade vive e este fica para a história.»

É uma final especial por ser com o F.C. Porto?

«Especial por estar a voltar a trabalhar da forma como gosto. Quanto ao F.C. porto chegou à final com todo mérito e esperamos que seja um bom espectáculo como hoje.»

Simon Vukcevic: «Foi o melhor jogo da minha vida»

Simon Vukcevic marcou um dos cinco golos com que o Sporting derrotou o Benfica. No final do triunfo dos leões por 5-3, o camisola 10 comentou da seguinte forma o emocionante derby de Alvalade:

«Vamos lembrar-nos deste jogo por muito tempo. Foi um jogo fenomenal e 45 minutos excelentes, onde marcámos cinco golos ao Benfica. Foi o melhor jogo da minha vida. Estou feliz, mas ainda não acabou. Agora vamos preparar-nos para Liga.»

Recuperação de Derlei vai aumentar a concorrência na frente: «Eu sou jogador. Não me perguntem a mim. Jogo no ataque ou médio, ele é um grande jogador e vai ajudar nestes últimos jogos.»

Paulo Bento explicou no final do jogo

Era a pergunta óbvia: o Sporting foi para o intervalo a perder por 2-0, marcou cinco golos ao Benfica na segunda parte. Que se passou no balneário do Sporting durante o descanso?

Paulo Bento optou por fazer antes uma introdução, para deixar claro quer considerava «justa» a vitória no «derby», muito por causa de uma segunda parte «melhor do que a primeira e melhor do que o adversário».

Depois então o balneário. «Ao intervalo fizemos algumas correcções, passei aos jogadores o que me ia na alma. Transmiti sentimentos, falámos sobre a responsabilidade que não tínhamos tido na primeira parte e que era fundamental ter na segunda. Disse-lhes que apesar de estar a perder sentia que tínhamos oportunidade de fazer algo importante, algo que merecemos e que a massa associativa tanto desejava».

A vitória surgiu mesmo, de uma forma inesperada. Paulo Bento acha que o Sporting até já terá feito jogos mais consistentes, mas este fica marcado «pelo grande carácter dos jogadores».

Como lembrou o treinador do Sporting, o futebol também se joga com o coração e esta quarta-feira «os jogadores demonstraram possuir um coração enorme».

Só assim, disse, foi possível ultrapassar «as dificuldades, sobretudo no período em que o Benfica marcou os dois golos». O Sporting «deu algum espaço» e os «bons jogadores do adversário aproveitaram-no, embora sem criar grandes oportunidades de golo», concluiu Paulo Bento.

João Moutinho: «É um enorme orgulho ser capitão desta grande equipa»

O capitão do Sporting falou com orgulho da passagem para a final da Taça de Portugal. João Moutinho fez a seguinte análise da goleada ao Benfica por 5-3:

«Toda a gente viu. Depois de uma primeira parte menos conseguida, acho que demonstrámos toda a união do grupo e com o apoio dos adeptos merecemos esta vitória, principalmente pelo que fizemos na segunda parte.

O que disse Paulo Bento ao intervalo para provocar uma mudança de atitude? «Disse o que precisávamos de ouvir. Foi essencial o que disse, mas isso fica para nós. Mudou tudo¿ A nossa atitude e forma de jogar. Esteve muito bem.»

Este foi o melhor jogo que se lembra de ter jogado? «Foi um dos melhores jogos que fiz, mas já tive vários em que joguei bem. Do Sporting foi dos melhores desta época e temos que continuar este trabalho.»

Vai ser complicado manter esta atitude nos próximos jogos? «Já sabemos o que temos de fazer. Não queremos ter mais a experiência desta primeira parte. Queremos entrar nos jogos como fizemos na segunda parte. Jogando assim não temos de ter medo de ninguém.»

É fácil não se lembrarem da final no Jamor nos próximos jogos da Liga? «Claro que é. Estamos em mais uma final, mas agora vamos concertar-nos noutro grande objectivo que é o segundo lugar. Vamos trabalhar para isso e depois logo pensamos na final.»

Tem consciência que vai ficar na história que o Sporting venceu 5-3 ao Benfica com o João Moutinho como capitão? «Para mim é um enorme orgulho ser capitão desta grande equipa. Demonstrámos isso hoje e agora queremos dar continuidade. Vai ficar na história sim senhor, mas na história também fica a final se conseguirmos ganhar.»

Fonte: maisfutebol.iol.pt