RUGIDO VERDE

Três de Maio de 1994, o Campeonato Nacional estava completamente ao rubro. Benfica e Sporting lutavam palmo a palmo pela liderança, com o FC Porto praticamente fora da luta pelo título. Na jornada anterior o Benfica havia perdido frente ao Salgueiros, o que possibilitou a colagem do Sporting em termos pontuais, depois de uma soberba exibição defronte do Boavista e que culminou com uma vitória por 3-1.

Mas este clássico das Antas a contar para a 27.ª Jornada era muito especial e tinha tudo para ser explosivo (como veio a ser): Bobby Robson, despedido por Sousa Cintra em Dezembro de 93, depois de uma goleada sofrida em Salzburgo, orientava agora o FC Porto, que também havia prescindido dos serviços de Tomislav Ivic a abrir o ano civil. Portanto, era notório todo um clima de desforra por parte dos dragões em defesa do seu técnico, bastante carismático. Já os leões, orientados por Carlos Queiroz, viam nesta temporada a hipótese soberana de recuperarem um título nacional que já lhes fugia desde 1982.

Com uma equipa onde pontificavam os internacionais estrangeiros, Balakov, Valckx, Vujacic e Juskowiak, e os nacionais, Figo, Peixe, Paulo Sousa, Nelson, Capucho, Paulo Torres, Amaral e Filipe, todos Campeões do Mundo de Sub – 20 em 1989 e 1991, o Sporting, comandado por Carlos Queiroz, praticava o melhor futebol e apresentava-se na recta final do campeonato como o grande favorito.

O FC Porto estava arredado do título, mas venceu por 2-0, com o Sporting a acabar o encontro com 8 jogadores. A arbitragem de Carlos Valente foi determinante para o resultado do jogo e do campeonato. O juiz conotado com simpatias benfiquistas, no seu último ano de actividade, expulsa 3 jogadores do Sporting (Juskowiak, Vujacic e Peixe), dois deles por vermelho directo (Juskowiak e Peixe).


Neste jogo o FC Porto beneficiou da complacência do árbitro do Barreiro, que permitiu uma excessiva agressividade por parte dos jogadores da casa, com várias entradas para expulsão. Quando os jogadores leoninos já fartos de ser massacrados, responderam da mesma forma, foram logo sancionados.

O jogo com o Benfica era dali a 2 jornadas. Peixe e Juskowiak ficariam de fora por terem apanhado 2 jogos de castigo. A ausência de Peixe –  em teoria seria o marcador de João Pinto – foi determinante para a liberdade que o criativo jogador do clube rival dispôs para decidir o jogo. Na época seguinte, Peixe mostrou como poderia ter sido a exibição de João Pinto no fatídico jogo dos 3-6. Secou-o completamente.

Não há provas concretas de que tenha havido tráfico de influências ou de outra natureza, na decisão do Título. Ao certo, apenas se sabe que não foi normal aquela arbitragem de Carlos Valente nas Antas, que ditou a derrota do Sporting e retirou a possibilidade de Peixe e Juskowiak jogarem contra o Benfica. A assumpção de Manuel Damásio (à data Presidente do Benfica), como Presidente da Liga em substituição de Valentim Loureiro e antecedendo Pinto da Costa, após o término da época 93/94, foi também algo fora do comum.

Ficha do jogo:

Estádio das Antas. Púbico: 45000 espectadores

Arbitro: Carlos Valente

FC Porto: Vítor Baía; João Pinto, Fernando Couto, Aloísio e Rui Jorge; Secretário, Paulinho Santos, André (Folha 66′) e Semedo; Ljubinko Drulovic e Emil Kostadinov (Vinha 76′).

Disciplina: Cartão amarelo para André, Paulinho Santos, Secretário, Aloísio e Rui Jorge.

Marcadores: Drulovic (52′) e Vinha (86′)

Sporting: Lemajic; Nelson Aves, Valckx, Vujacic e Paulo Torres (Amaral 53′); Paulo Sousa (Marinho 45′), Peixe, Figo e Capucho; Balakov e Juskowiak.

Disciplina: Cartão amarelo para Vujacic, Paulo Torres e Figo. Cartão vermelho a Juskowiak (35′) e Peixe (62′). Cartão vermelho a Vujacic (60′) por acumulação de amarelos.