Neste dia…. em 1961, vitória por 2-0 na Taça de Portugal frente ao Atlético, na estreia de Alexandre Baptista a titular
Em Alvalade, golo de Figueiredo única nota de cor… num jogo descolorido
Por Henrique Parreirão
Ao regressarmos, ontem, de Alvalade, depois de termos assistido ao encontro Sporting-Atlético, trazíamos no pensamento a seguinte pergunta: «Ainda há quem se admire de que o publico se ausente, cada vez mais, dos campos de futebol?…». O desafio de ontem, triste espectáculo de futebol pessimamente jogado, parece ter sido bastante elucidativo para não haver dúvidas na resposta à pergunta formulada… Não se pode deixar de dizer que o Sporting jogou mal – e o Atlético foi, ainda, mais modesto na réplica que procurou dar.
Num Jogo descolorido, pobre de técnica e quase sem interesse algum, a única nota de cor foi o golo de Figueiredo, à sombra do qual o Sporting viveu longo período na situação de vencedor pela margem mínima. Apesar de serem mais empreendedores e insistentes nos lances ofensivos, os «leões» quase não mereciam a vantagem de 1-0, que conservaram do minuto n.º 11 ao n.º 84 da partida.
Sem o menor esforço (excepção feita a Figueiredo) os atacantes do Sporting passearam, ontem, em Alvalade como qualquer cidadão que mete «feriado» em dia de trabalho.
O publico, que ainda vai ao futebol, compra bilhete ou paga as suas quotas, não pode continuar a ser tratado com tanta indiferença por parte daqueles que vivem do seu dinheiro.
Nos clubes de aparente disciplina férrea, normalmente castiga-se ou multa-se em função da derrota… Pelo que fizeram, ontem, alguns jogadores em Alvalade… não haveria razão para alguns serem punidos ou chamados à ordem? Parece também haver duvidas para a resposta aquela pergunta…
A única nota de cor…
Dizíamos que o golo de Figueiredo, no 11.º minuto, constituiu a única nota de cor… no descolorido desafio… Foi, realmente, precioso de execução aquele tento. Lançado pelo centro do terreno, com a bola atirada para a sua frente, Figueiredo chegou a ela primeiro do que todos, e com um hábil toque, fez passar o esférico por cima de Bastos (o guarda-redes que saíra a tentar a intercepção) e introduziu-o nas redes.
Foi a grande jogada do desafio, Talvez a única – pois ao longo da partida pouco ou nada mais se viu de jeito… Cada um a puxar para seu lado… foi a característica dominante na toada e estilo do jogo do Sporting. Por sua vez o Atlético limitou-se a uma aplicação mais atenta na defesa – e a uns contra-ataques, quase sempre estragados por deslocação dos seus dianteiros.
Do embate de duas equipas de jogo muito solto e pouco eficiente – resultou um encontro insípido, monótono e sem interesse. Daqueles em que os espectadores têm razão em proferirem o seguinte lamento «há dias em que uma pessoa não deveria sair de casa»…
Efectivamente, perdermos uma hora e meia (fora o tempo gasto nos transportes) para assistirmos a um bom golo de Figueiredo e a meia dúzia de intervenções, aparatosas e meritórias de Bastos, teremos de concordar que é muito pouco para compensar o sacrifício…
Falta de conjunto – o defeito de sempre
Resume-se sempre no mesmo a apreciação da equipa «leonina». Muitos valores individuais – mas o defeito de sempre: falta de conjunto. Ontem, a acrescentar a isso, houve mais a falta de brio, a negaça descarada de aplicação dos jogadores pagos… a peso de oiro.
Talvez porque os 2-0 do desafio da primeira «mão» não causavam apreensões, alguns jogadores do Sporting resolveram descansar. Estiveram no campo por estar. Quando a bola lhes foi parar aos pés, correram com ela, procuraram driblar este e aquele mundo e… mais nada. Nem conjunto – nem brio. Um futebol jogado a passo de boi… sem interesse nem emoção.
O Atlético, que fez na sua equipa umas mexidas bastante estranhas, não ganhou nada com isso… Faltou-lhe, em relação ao domingo anterior, a unidade do jogo a meio campo, que o trio Fonseca (ontem ausente), Orlando e Vieira Dias, costuma dar à equipa.
No sector defensivo a falta de Gonzalez tornou-se notada, não parecendo também Fernando Ferreira superior a Vítor Lopes no meio do terreno. Se um é mais hábil, o outro é mais rijo. Tem mais autoridade.
Boa arbitragem de Manuel Fortunato. Muito acima do nível do jogo…
Em Avalade, sob arbitragem de Manuel Fortunato (Évora), o Sporting alinhou com: Aníbal Saraiva; Mário Lino, Alexandre Baptista e Morais; Fernando Mendes (Capitão), David júlio; Hugo, Fernando Puglia, Figueiredo, Géo e Seminário.
Golos: Figueiredo (11′) e Fernando Puglia (84′) (Sporting)
Fonte: Jornal Diário de Lisboa
Data: 26/02/1961
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporitng (2-0) Atlético, TP - 1ªEliminatória - 2ªMão
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