Neste dia… em 1960, O Sporting venceu o Barreirense em Alvalade, por 4-0, com hat-trick do brasileiro Fernando Puglia
Entre os sonhos sportinguistas e os pesadelos barreirenses
Por Francisco Camilo
O Sporting abriu o jogo de ontem, em Alvalade, com uma «chave de ouro» do melhor quilate. Frente à turma do Barreirense, incapaz de se opor à sua verdadeira torrente de futebol de gala, os «leões» preencheram vinte minutos do espectáculo com os mais escolhidos números do seu reportório.
É verdade que diferentes estados de espírito comandavam as equipas; uma, a dona do campo. embalada por sonhos de conquista dos postos cimeiros. justificava as suas aspirações e manifestava-se por intermédio de um «association» fluente, estonteador, brilhante. A outra, porém, atormentada por tenebrosos pesadelos, a magicar no solitário ponto que anima a sua tabela classificativa, era uma formação minada pela descrença, ainda avolumada por se ver incapaz de suster a enxurrada.
Os «leões» começaram, portanto, o «ensaio geral» da grande representação da Luz, com uma demonstração clara de que todos os actores sabiam, de cor e sem hesitações, os seus papéis. Acrescente-se, no entanto, que conheciam os cantos ao palco e as dimensões do mesmo favoreciam os seus movimentos.
Ao contrário, os barreirenses, afeitos a terrenos onde o adversário directo nunca pode andar longe, perdiam-se na imensidade do Alvalade. Chamados a colmatar as brechas constantemente originadas pelos avanços dos visitados, eles deparavam com problemas insolúveis, criados pelos lances de primeiro toque e estupenda visão dos dianteiros «verdes».
Quando havia 20 minutos de jogo, já Fernando fizera 3 golos. O Sporting pensou então, ou já o tinha pensado antes, que estava cumprida a sua missão. A maneira como transformou o seu modo de actuar, deixou, claramente, a impressão de que forçara o andamento inicial para adquirir vantagem e, depois, viver dos rendimentos.
Com a vantagem de três golos “Os «leões» passaram a viver dos rendimentos
Deu-se, então, início ao segundo. «andamento» da partida, que podemos enunciar deste modo, segundo as divisões que a caracterizaram: «alegro vivace», «alegro non troppo» e «moderato».
O Sporting que, praticamente, despachara em menos de meia hora, o «expediente» de hora e meia, deixou-se de golos e remates e enveredou pelo caminho da exibição. Foi o período dos toques e passes a mais e dos «bonitos» para as bancadas.
Aproveitou o Barreirense a pausa para refazer forças e cuidar de tapar os «buracos» que os «leões» anteriormente haviam causado na sua cortina defensiva. Com os visitados menos empenhados e acutilantes, o labor dos «encarnados» da outra margem passou a conhecer uma utilidade que não tivera anteriormente, isto é, valeu-lhes um longo período sem sofrerem mais golos.
Nos 45 minutos da segunda metade, o desafio perdeu muito do agrado da primeira e entrou no ultimo acto: «moderato». O desprendimento «leonino» acentuara-se na medida em que subira a segurança da extrema defesa do Barreiro. Os flancos do ataque deixaram de ter a utilização frequente do princípio e, no eixo da linha avançada, Figueiredo, que é todo intuição e espontaneidade, e assim actuara nos primórdios da contenda, deu em «pensar duas vezes» o que, desde logo, fez baixar o seu rendimento.
Assim, o jogo passou a ser «outro». Onde tinham estado a inspiração e a rapidez passaram a figurar a hesitação e a morosidade. Depois de exemplificar como se avança pelos extremos, o Sporting passou a «ir» pelo meio, onde é muito mais difícil passar. A retaguarda barreirense, com um futebol mais a seu jeito, tornou-se então menos vulnerável e, por isso, aos 3 golos relâmpago do início, apenas foi acrescentado um, assinado por Seminário.
No Sporting, que serviu um excelente «hors d’euvre», para acabar por pôr na mesa um prato trivial, impressionou o «alto nível» da fase em que se empregou a valer.
Embora sem grande tarefa a seu Cargo, a defesa dos «leões» mantém-se certa em todo o jogo que pisou o seu reduto. Nos médios, Ferreira Pinto, chamado a substituir o «capitão» Mendes, foi menos feliz de começo, mas convincente depois.
A avançada esteve toda bem enquanto quis e Fernando salientou-se como goleador.
No correcto «onze» do Barreirense, onde há desanimo demasiado, o que influi deprimentemente no rendimento dos seus elementos, a defesa, praticamente sempre em acção, esteve em evidência.
Isidoro, isento de culpas nos golos, e a sua cortina defensiva revelaram-se de princípio impotentes perante os atacantes adversários, mas melhoraram bastante com o decorrer do encontro.
Na frente, houve pouco poder de penetração nos contra-ataques. O grupo revelou, porém, boa condição física e soube ser correcto, O que é sempre de elogiar.
O sr. Renato Santos, de Coimbra, terá perdoado um «penalty» aos visitantes. Nos outros erros do seu trabalho, não encontrou auxílio conveniente nos seus «auxiliares».
Fonte: Jornal Diário de Lisboa
Ficha do jogo:
Estádio José Alvalade. Árbitro: Renato Santos.
Sporting: Anibal Saraiva; Hilário, Morato e Mário Lino; José Ferreira Pinto e David Júlio; Figueiredo, Géo Carvalho, Hugo Sarmento, Juan Seminário e Fernando Puglia.
Treinador: Alfredo Gonzalez
Barreirense: João Isidoro; Faneca, Pimenta e Silvino; Amílcar e Lança; Madeira, Mendes, Pataca, Júlio Freire e Pedro Quaresma.
Treinador: José João Soares
Golos: Fernando Puglia 8′, 12′ e 20′ e Seminário 77′ (Sporting)
Data: 20/11/1960
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (4-0) Barreirense, CN - 8ª Jornada
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