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Quinta-feira, Março 28, 2024

Neste dia… em 2010: Bettencourt garante que não se sente refém da frase “Paulo Bento forever”

O 31 do Sporting não é apenas Liedson. É também, em milhões de euros, aquilo que o clube gasta por ano, entre futebol e modalidades amadoras. Neste momento, o equilíbrio entre as duas áreas leva a que seis desses milhões sigam para as modalidades e a que os 25 que restam deixem o futebol num limbo. “É pouco para sermos campeões, porque fica muito longe dos 40 que gastam os outros candidatos, mas muito para ficarmos em terceiro lugar, porque quem vem abaixo de nós gasta apenas seis ou sete”, diz José Eduardo Bettencourt, na véspera da Assembleia Geral destinada a aprovar o plano de restruturação financeira que pode deixar a SAD um pouco mais desafogada. “A partição do que podemos gastar é a opção de gestão que se nos coloca”, reforça.

Desenganem-se os que pensam que, uma vez aprovada a restruturação, reduzido o passivo (e os encargos com a banca) em 55 milhões de euros, o futebol do Sporting passará a viver confortavelmente e se aproximará dos 40 milhões gastos anualmente pelos rivais. “Uma coisa é aumentarmos um cheirinho, tornarmo-nos um pouco mais competitivos, outra é passar para os 40 milhões. Talvez possamos gastar mais, mas não podemos afectar ao futebol meios que fazem falta à nossa sobrevivência”, diz o líder leonino, esperançado em que sejam “os outros a gastar menos”, porque “no futebol, nestes últimos anos, todos têm perdido”.

Certo é que, se o plano não passar, em algum lado o Sporting terá de apertar o cinto. “Temos de viver com aquilo que podemos, mas é utópico pensar gastar menos com o futebol. Porque mesmo aqueles que, como eu, se fizeram do Sporting também pelo sucesso das modalidades estão hoje dependentes de vitórias no futebol. O futebol tem de ter condições para viver”, esclarece o presidente leonino, sem querer “fazer demagogia”. Por isso, não embarca em promessas de reforços. Pelo contrário, admite que será sempre preciso vender. “Um clube como o Sporting precisará sempre de vender. Até em Inglaterra já há quem venda e não compre, porque isto não pode viver só dos ‘sheiks’. O negócio do futebol começa a cheirar a barril de pólvora e estamos a queimar os últimos cartuxos”, adverte.

“Paulo Bento não sai pela porta pequena”

José Bettencourt garante que não se sente refém da frase que está a marcar-lhe o mandato, o “Paulo Bento forever” que está “cansado” de ouvir de volta sob a forma de pergunta. “Os interesses do Sporting têm de estar acima do que eu diga”, afirma, mas apenas para assegurar que a mudança de treinador não os defenderia. A confiança no treinador vai ao ponto de o levar a afirmar que “Bento não sairá do Sporting pela porta pequena”.

“Mudar de treinador seria uma solução demagógica, populista e ineficaz. Era um paliativo, quando há questões estruturais na origem desta tensão”, considera o presidente leonino, para em seguida elencar os méritos do já longo consulado de Bento. “É o segundo treinador com mais longevidade no Sporting, só suplantado por Szabo. Já atingiu várias metas e recordes. E tem uma participação directa no facto de o Sporting ter a cabeça fora de água. São três Ligas dos Campeões seguidas, com a primeira participação nos oitavos-de-final. É a venda do Nani. Não ganhando um campeonato, teve prestações honrosas, fez melhor que muitos, com muito menos gastos”.

Tudo no passado? Não. Bettencourt serve-se também do presente para suportar o seu treinador. Fala no que os sportinguistas, que encontra pelo país, lhe dizem do técnico e ainda do trabalho que vê. “Há bom ambiente no grupo, boa relação entre jogadores e treinador”.

Reunião de crise após Belenenses

O presidente do Sporting nega que alguma vez tenha tido uma reunião para avaliar a continuidade ou a saída da equipa técnica, embora admita que falou com a estrutura do futebol após o jogo com o Belenenses. “Houve um resultado negativo importante, porque tínhamos acabado de inverter uma má série, tínhamos feito um conjunto de bons resultados, até melhores do que as exibições. Não havia razão para voltarmos aos maus resultados. Falámos porque temos a preocupação de fazer um trabalho integrado, que vise melhorar competências e rendimentos”, assegura Bettencourt.

“Talvez veja em mim certeza de equilíbrio”

O ex-presidente Dias da Cunha, um dos principais opositores ao plano de restruturação financeira apresentado originalmente por Filipe Soares Franco, já veio apoiar a solução protagonizada por Bettencourt. Este, recusando-se a justificar o volte-face com o nome de quem apresenta o plano, encontra no passado comum uma razão. “Talvez a minha vivência, a noção da minha cultura sportinguista tenha tornado os consensos mais fáceis. E eu e Dias da Cunha sempre nos demos bem, acompanhei-o num período muito difícil do Sporting… Há um respeito mútuo que o leva a olhar para mim como tendo um certificado de bom-senso e de equilíbrio”, opina José Eduardo Bettencourt.

Em nome de um clima de “pacificação”

As palavras de José Eduardo Bettencourt não deixam transparecer qualquer censura às críticas de Paulo Bento à arbitragem. Pelo contrário, o presidente diz que o treinador “já disse 40 vezes que está respaldado e está-o de facto”. Mas a última investida de Bento não teve eco no gabinete da presidência. Porquê? “O futebol português precisa de pacificação. Há aqui um pouco de embirração com o Paulo Bento, mas cada um tem a sua forma de lidar com isso. Eu tenho de acreditar em quem exerce os cargos, ainda que ache que há coisas que deviam ser mais bem explicadas.” Que coisas? “Por exemplo, se a final da Taça da Liga corre mal aos árbitros, alguém devia explicar o que correu mal.”

“Problema tem sido o rendimento colectivo”

O Sporting só contratou três jogadores esta época, nenhum dos quais se impôs ainda de forma categórica. Mas para Bettencourt o problema não está nos novos: é o colectivo que os trava. “São jogadores internacionais, que têm estado em bom plano nas selecções. O Matías já se apurou para o Mundial, é o craque da selecção do Chile. O Caicedo é titularíssimo no Equador e entrou de forma fantástica, fez treinos fabulosos, foi aplaudido de pé, só que depois teve duas lesões. E o Angulo só foi assobiado porque saiu em momentos em que os resultados eram negativos”, explica. “O problema não é dos reforços mas do colectivo, cujos problemas lhes têm atrasado a integração.”

Passar receitas da TV para a SAD

A assembleia geral que hoje vai ter lugar no Pavilhão Multiusos, no Estádio José Alvalade, terá apenas dois pontos na sua ordem de trabalhos e é o segundo aquele com potencial para gerar maior discussão, uma vez que reporta a uma proposta da Direcção, relacionada com a transferência da posição detida pelo clube na Sporting Comércio e Serviços para a Sporting, SAD. Caso a proposta seja aprovada – necessita de uma maioria qualificada de dois terços dos votos e dos sócios presentes -, a SAD passa a beneficiar directamente das receitas provenientes da alienação dos direitos de transmissão televisiva dos jogos do clube, medida fundamental para o projecto de reestruturação financeira de Bettencourt. No primeiro ponto serão discutidas as contas do clube.

Fonte: Jornal o jogo

Data: 13/10/2009
Local: Jornal O jogo
Evento: Entrevista

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