RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Março 29, 2024

A CASA DOS ESPELHOS

Frederico Varandas olha-se constantemente ao espelho. Fala com ele. Julga-se implacável. Poderoso e corajoso. Ele tenta convencer-se disso. Tudo o resto, deve-se a toda uma máquina propagandista que trabalha como nunca – abraçada por outros poderosos – disseminado-se rapidamente por todo o reino.

Será ele um bruxo enviado por uma força maior para envenenar o seu alvo de forma irremediável e com isso ganhar ainda mais poder? Ou, o seu objectivo principal é apenas avançar em nome da vingança, porque o mundo que o rodeia o repudia e o enoja?

O espelho quando está sozinho, sussurra para si mesmo. Por entre quatro paredes confidencia a si próprio que, Frederico não é o ser ideal para fazer acontecer, mas era o que estava disponível naquele momento e sujeito a fazer o jogo sujo.

Ele não possui toda a magia, arte e conhecimentos necessários para caminhar sozinho, por isso o espelho apoia-o e dá-lhe força, mentindo constantemente sobre as suas reais capacidades.

Mas existia algo que ambos e os outros temiam profundamente, as tropas da libertação.

Aquele grupo de homens e mulheres revoltados, que só lutavam pela justiça, liberdade e democracia no reino. Uma força contrária, contra-revolucionária, feita de gente rija, íntegra, humilde e guerreira, que não se deixava convencer com falsas promessas de união e prosperidade. Não se esqueceram que, a história é um ciclo e em situações de outrora como esta de encantos mil, os levou à fome, à ruína e ao desespero. Eles sabiam que, promessas de abundância e de sucesso proferidas por um bruxo profeta corriam sempre mal.

Frederico carrega nos seus sacos diversas poções e segredos de feitiçaria, que levarão o povo numa primeira fase à alegria, fascínio e celebração. Depois à inveja e loucura. Por último à sua inevitável destruição. Essa era a sua principal ambição.

Ele faz de tudo para convencer os habitantes daquelas terras longínquas, justificando que o mais fácil é o mais rentável a curto prazo. Os seus encantamentos deixavam os mais frágeis e desinformados completamente atraídos e maravilhados. Algumas vozes de desconfiança e de discordância são abafadas por falsas narrativas de riqueza e fartura, criadas pela escumalha da plebe subornada pelo bruxo Frederico.

Os seus olhos ardem e destilam ódio sobre as gentes honestas e trabalhadoras, que não se deixam levar.

Frederico é financiado através do apoio de vários senhores ricos, sendo um deles um nobre aristocrata maquiavélico de um lugar bastante sinistro. Sempre esteve próximo deste tipo de esquemas e artimanhas, mas soube sempre manter-se discreto, seu nome D. Rogério.

O tempo vai passando e o povo vai vivendo enganado, enquanto Frederico vai continuado o seu caminho utilizando sem limites a sua magia.

Frederico é vaidoso. Leva o seu espelho para todo o lugar e regozija-se dos seus feitos, feitos esses que se irão reverter e transformar aquelas terras férteis em desertos e o luxo em miséria. Será inevitável se a libertação não chegar.

Avança impiedoso, não sem antes questionar aquele que julga ser seu fiel amigo, se existe algum ser mais magnificente do que ele.

O espelho apesar de não concordar responde uma vez mais ao seu amo positivamente, para que este não perca a sua arrogância e prepotência que o faz respirar e viver. Ele queria sempre mais, muito mais.

Numa das suas incursões, ele segue destemido pelo meio da floresta com a sua guarda pretoriana até que, encontra uma velha casa feita de madeira, escondida entre arbustos e de onde saiam pequenos murmúrios. Frederico vai sozinho e abre a porta com bastante cautela. A casa encontra-se cheia de espelhos que falam entre eles. O bruxo Frederico fica empolgado, pois nada melhor que uma casa de espelhos para lhe darem ainda mais soberba.

Ele questiona-lhes quem é o senhor que chegará ao máximo esplendor do domínio do reino. Os espelhos riem-se, riem-se como loucos, riem-se que nem perdidos e subitamente ficam em silêncio. Frederico ri também, mas fica a rir-se sozinho.

Um dos espelhos daquela casa responde e diz-lhe: “Meu caro bruxo Frederico tu és um tonto. Tu não és ninguém, tu não passas de um mero boneco, um fantoche ao serviço de um enorme poder e o teu nome não será recordado pelos melhores motivos na história. Mais tarde ou mais cedo vais ser abandonado. És mais um, e tu e os teus, aqueles que compras e enfeitiças virar-se-ão contra ti. És mentiroso, demasiado orgulhoso e arrogante e prova disso são aqueles que lutas contra e a quem chamas de minoria, que não o são…”

Frederico grita bem alto e um por um, os espelhos partem-se. Os pequenos vidros transformam-se em ratazanas, que passam entre as suas pernas em direcção à porta de saída.

Quando sai da casa, este vê um cenário que não estava à espera. A sua guarda de honra tinha sido derrotada por milhares, derrotada pelos mesmos que o confrontavam por cada aldeia que passava.

O bruxo não tinha outra hipótese senão fugir, fugir para bem longe dali para nunca mais voltar, pois o povo ensinou-lhe que a aldrabice tem perna curta e não estão dispostos a vender a sua alma a troco de farsas.

O seu espelho, esse seu fiel amigo, foi guardado pelo povo para que, aqueles que apoiaram o bruxo Frederico na sua caminhada sombria, fossem obrigados a ver as suas caras todos os dias para sentir vergonha do que viam e do que fizeram aos seus.

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Comments

  1. Rui Barbosa

    Não li nada de ilusório. Só factos, contados de outra forma, mas factos. Triste fim, por muito que queiramos evitar. Felizmente ainda há gente com cabeça. Viva o verdadeiro Sporting.