RUGIDO VERDE

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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Um Plantel Muito Curto para uma Época tão Comprida

Quem me conhece ou me lê sabe, nem que seja por alto, as minhas opiniões sobre a real qualidade do nosso plantel e treinador. Apesar de, naturalmente, reconhecer mérito à equipa, principalmente pela conquista do Campeonato, continuo a ser da opinião de que a sorte esteve do nosso lado. O que, diga-se, é essencial para se conquistar seja o que for e não entra no espetro da batota. Temo é que, em quantidades tão industriais como na época transata, seja difícil essa sorte estar tão presente na época que iniciou em agosto.

Aceito que discordem de mim, quanto ao papel que a sorte teve na conquista do título de campeão na época passada. Em momento nenhum digo que fomos inferiores aos outros dois crónicos candidatos, limito-me a dizer que se nos 19 de anos de jejum, todas as equipas tivessem tido metade da sorte que esta teve (e, convenhamos, não tivessem sido roubadas a dobrar ou a triplicar), certamente o jejum teria sido mais curto.

Feita esta ressalva, que gosto sempre de fazer porque sou casmurro e faço questão de dizer quando não estou a bordo dos comboios de entusiasmo, vamos ao que me preocupa em relação a esta época. Afinal de contas, depois de uma temporada em que se recupera o estatuto de campeão nacional tantos anos depois, sinto que me devia sentir com mais alento.

Há várias razões pelas quais o entusiasmo não é maior:

  • Primeiro, sinto que o nosso principal rival precisa, desesperadamente, de revalidar o título – sabem o que isso significa, certo?
  • Segundo, o título da época passada garantirá, salvo catástrofe, a reeleição de Frederico Varandas. Isto, aliado à nossa aproximação a certas figuras que são conhecidas por rolar os dados e mexer os peões do tabuleiro do futebol português, faz-me crer que o título desta época não é tão “necessário” como o da época passada;
  • Terceiro, e a razão sobre a qual me vou debruçar no texto, falando puramente do plano desportivo, é visível que o nosso plantel é curto para a quantidade de jogos que esperamos ter esta época.

Note-se que estas constatações em nada têm a ver com resultados desta temporada, são coisas que já penso há algum tempo, sendo que a última vi confirmada com o fechar do mercado de transferências.

Felizmente, ao contrário do sucedido na época passada, o Sporting esta época irá disputar, além das competições internas, a Liga dos Campeões. Ora, no cenário mais negro, o Sporting irá disputar seis jogos europeus (até dezembro). Seis jogos a meio da semana a que o plantel não está habituado (a estadia na Taça de Portugal também foi curta o ano passado). A isto, somam-se as inúmeras paragens para jogos de seleções, nas quais, por comparação com o ano transato, os nossos jogadores vão ser bem mais participativos. Face a isto tudo, é nítido que o plantel não tem profundidade suficiente para o treinador rodar a equipa entre as várias competições com garantia de qualidade.

As posições onde as lacunas são mais óbvias são as de defesa-central e ponta-de-lança. Tendo em conta a preferência de Rúben Amorim pelo sistema de três centrais, parece-me que ter apenas Coates, Inácio, Feddal e Neto é muito escasso, e não só relativamente à quantidade. Estamos a uma lesão de ter de recorrer aos escalões mais novos para ter um central de raiz no banco. Matheus Reis tem sido utilizado por Amorim como alternativa, mas é nítido para todos que não chega. Mesmo Neto, e até Feddal, deixam a desejar para uma equipa que enfrentará desafios de elevada dificuldade nesta época.

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A lesão de Inácio bastou para fazer soar os alarmes. No Clássico contra o Porto, Neto assumiu a titulatidade.

Na frente, é muito triste constatar que, mesmo com a presença da contratação mais cara da História do Sporting Clube de Portugal, estamos completamente necessitados de um ponta-de-lança. Paulinho pode ter algumas qualidades, mas nunca irá justificar o investimento que nele foi feito. Em vinte jogos pelo Sporting, leva apenas quatro golos. Muitos, para tentar defender o negócio, esgrimam argumentos sobre o que Paulinho acrescenta à equipa, mas é inútil tentar defender o indefensável. Um avançado tem de marcar golos. Um avançado que é a contratação recorde, por valores pornográficos, de um clube português, tem de marcar muitos golos.

Paulinho, o único ponta-de-lança do plantel.
Paulinho terá de melhorar substancialmente, para que o Sporting não chore a falta de mais pontas-de-lança.

O trio de ataque, no sistema em que o Sporting joga, pode ser composto por três jogadores móveis, sem realmente necessitar de um ponta-de-lança de raiz. Jovane pode jogar no centro, principalmente com a vinda de Sarabia, mas ainda me parece curtíssimo. Há também Tiago Tomás, sobre o qual é injusto colocar a pressão de dezenas de golos de que vamos necessitar ao longo da época. Mais, não parece que seja sequer grande aposta do treinador, pelos escassos minutos a que tem vindo a ter direito.

Estas são as duas lacunas imperdoáveis na construção do plantel para esta época. Infelizmente, do meu ponto de vista, não são as únicas. Com a venda de Maximiano, a alternativa a Adán será Virgínia, que me parece verde demais para assumir o lugar em caso de necessidade.

Já com a venda de Nuno Mendes, ficámos com Esgaio como a alternativa aos dois laterais titulares, o que, com uma lesão azarada também se revelará curto. Matheus Reis, como já disse, não tem qualidade suficiente para assumir a titularidade se for preciso e Nuno Santos, apesar de já ter sido utilizado nessa posição, acrescenta muito mais lá à frente, do que a fazer a lateral.

Claro que seria irrealista exigir um onze titular de excelência, complementado por onze alternativas de igual nível, isso nunca acontece. No entanto, para uma época em que se tem como objetivo defender um título que os rivais farão (mesmo) tudo para conquistar, ao mesmo tempo que se tem de dar boa conta de nós próprios na maior competição de clubes do mundo, acho que o plantel não chega.

Acredito numa época competente, mas não consigo ter grandes esperanças numa história de superação como a que sucedeu no ano passado. Acho que serão muitos jogos, inevitáveis lesões e castigos esporádicos, e a massa só estica até certo ponto.

Feita esta análise, é importante ressalvar que, já com uma ida a Braga e uma receção ao Porto, seguimos a quatro pontos da liderança e com uma Supertaça “no bolso”.

Ainda é muito cedo para fazer apreciações aos resultados. Vem aí a Liga dos Campeões. Esperemos que, por enquanto, a massa ainda dê para esticar à vontade.

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