RUGIDO VERDE

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Quinta-feira, Abril 25, 2024

A Pandemia do Título

Chegados a este ponto da época importa dar início ao balanço da mesma, que apesar de ainda não ter chegado ao fim em termos absolutos já chegou ao fim no que à maioria dos adeptos diz respeito: o futebol. Sim, não tenho ilusões, a esmagadora maioria dos adeptos só quer saber do futebol, se a bola entra na baliza ou não, se o futebol ganha ou perde. E todos sabemos já bem o que a casa gasta: quando o futebol perde é um primeiro de maio diário, quando ganha sobe o arco iris nos céus e é tudo um mar de rosas.

Para mim esta é uma visão das coisas demasiado simplista, para mim a avaliação geral do clube tem de ser feita muito para além disso, é fundamental para mim uma boa prestação nas modalidades e uma boa situação financeira, daí ainda considerar 2017/2018 como uma das melhores épocas de sempre.

Nesta fomos campeões no futebol é certo, e campeões da Europa em Futsal e Hóquei, mas já perdemos os campeonatos de Andebol e Voleibol. Ainda estamos posicionados para ganhar Hóquei, Basquetebol, Futsal e Futebol Feminino. Podemos ganhar todos ou podemos não ganhar nenhum.

Em termos financeiros estamos à beira do abismo, aguardo com curiosidade o anuncio do ponto de situação das finanças do clube (e SAD naturalmente) que normalmente é feito em finais de maio. Depois do all in financeiro feito em Paulinho temo o pior.

E devo confessar que foi com alguma surpresa que li há uns dias que só íamos receber cerca de 30 milhões pela entrada direta na Champions League. Sempre ouvi falar em 40. Mas agora de repente parece que é bem menos afinal. E porquê? Porque não é igual para todos. O valor atribuído é calculado pelo ranking dos clubes, ou seja, os mais ricos recebem mais e os mais pobres recebem menos. Isto independentemente de se terem classificado no campeonato nacional em primeiro, segundo ou terceiro. As toupeiras se conseguirem qualificar-se via eliminatórias que vão ter de disputar recebem mais dinheiro do que nós. E ainda criticavam a Superliga porque era só para os ricos. E não é assim agora?

Estou bastante curioso relativamente ao defeso que aí vem. Com os recursos humanos do futebol entregues a Jorge Mendes não é difícil adivinhar que muitos mendilhões irão ser movimentados por estes lados. Há jogadores que eu não tenho dúvidas nenhumas que já estão marcados para serem vendidos para o carrocel, como Nuno Mendes por exemplo.

Nuno Mendes vai ser o nosso João Félix. Mas alguém acredita que efetivamente o toupeirense recebeu 120 milhões pelo jogador? Mas a areia vai ser atirada para os olhos e os felacios à gestão magistral de Varandas e Hugo Viana vai ser cartilha diária na comunicação social.

Será que vão voltar a colocar João Palhinha a treinar à parte a ver se o conseguem despachar? Pois é, se calhar já não se lembram mas eu lembro-me bem que no início desta época que agora termina aquele que foi o melhor médio defensivo da liga foi colocado a treinar à parte no sentido de ser despachado.

E certamente que teremos de incluir no nosso plantel da próxima época o tradicional entulho. Eu não considero o atual plantel dos melhores de sempre no Sporting. Nem lá perto. Acho que é uma equipa equilibrada, coesa, humilde e bem orientada mas que beneficiou dum alinhamento de planetas raro mas eficaz. O que nos permitiu ganhar. Ainda assim não batemos o nosso recorde de pontos numa época: 86 na época do título roubado pelas malas (2015/2016).

Beneficiámos de vários planetas alinhados: uma estrela monumental que nos permitiu ganhar vários jogos nos últimos minutos; em que alguns deles beneficiámos de erros básicos dos nossos adversários; época muito abaixo do esperado dos rivais, sobretudo do rival encarnado; complacência das arbitragens que não nos puxaram para baixo como no passado.

Merecíamos mais ser campeões em 2015/2016 do que agora. Essa sim foi uma das equipas do Sporting que mais vi jogar à bola. Mas enquanto nessa época fomos puxados para baixo em fatores extra futebol, jogos de bastidores, desta vez os nossos dirigentes conseguiram virar os jogos de bastidores a seu favor. Têm mérito nisso? Têm, mas méritos desses dispenso no meu clube.

Não, não reconheço qualquer mérito desportivo a esta direção. Após uma época desastrosa onde se bateu o recorde de derrotas sofridas não consigo deixar de encarar esta vitória como sorte, um alinhamento raro de planetas, um acontecimento isolado. Mas não será preciso esperar muito tempo para tirar as dúvidas, em breve se dará início a uma nova época e veremos quem tem razão. Porque tal como diz o povo, até um relógio parado acerta nas horas duas vezes por dia.

O passado recente deste clube diz que eu tenho razão. Em 2000 fomos campeões e na época a seguir foi a hecatombe que todos nos lembramos. Em 2002 com uma equipa recheada de nomes sonantes começámos a perder em casa contra o Alverca e tudo se alinhavava para Boloni ser despedido e continuarmos a cair no abismo. Felizmente chegou o joker Jardel e foi esse basicamente sozinho que mudou tudo.

Depois disso fomos andando de má época em má época até culminarmos nas épocas deprimentes de Bettencout e Godinho Lopes. Onde estivemos à beira de fechar portas. Mas as pessoas têm memória curta. E agora eu pergunto: se as pessoas que estão à frente do clube são as mesmas dessas épocas, se a gestão quer financeira quer desportiva é a mesma dessas épocas, como raio é que o resultado pode vir a ser diferente?

Mas segundo alguns cartilheiros não se pode criticar. Mas não se pode criticar porquê? Pode-se sempre criticar, a critica é fundamental para não se relaxar e para se melhorar, a acomodação mata a ambição, o querer, a garra, a raça.

Segundo esses cartilheiros não se pode criticar porque é preciso união à volta dos nossos. Ok, muito bem, então não se pode criticar o governo, são os nossos governantes, por muito mal que governem ou por muita merda que façam não se podem criticar. Tal como não se pode criticar a TAP, afinal é a nossa companhia aérea, temos de nos unir à volta dela. E do Novo Banco. Temos de nos unir à volta dos nossos bancos. E pagar uma vida inteira, mas sempre unidos.

Em tempos já houve regimes em que não se podia criticar. Não se podia criticar Hitler, Mussulini, Salazar, Franco, ainda hoje em dia não se pode criticar na Coreia do Norte, na China ou na Venezuela. Quererá o Sporting ser assim? Um regime ditatorial onde não se pode criticar? Assembleias Gerais já não há, os adeptos são constantemente colocados de lado e pressionados a manterem-se longe, os festejos do título no futebol foram feitos em privado com a estrutura, staff e atletas a celebrarem sozinhos num estádio vazio.

Isto para mim foi simplesmente inenarrável. Eu não consigo conceber futebol sem adeptos, para mim é inconcebível festa sem adeptos. Mas aquelas criaturas fizeram questão de ficar quase meia dúzia de horas num estádio vazio a festejar sozinhos enquanto a massa adepta aguardava lá fora, horas a fio, que os meninos se dignassem a aparecer.

E isto em plena pandemia! Em plena crise sanitária! O nosso presidente consta que é médico. E militar. Ou seja, se há pessoa que devia nesta altura estar mais sensibilizada para a crise de saúde pública em que vivemos seria ele. Mas já se percebeu que Frederico Varandas não quer saber disso para nada. Sempre que aparece publicamente nem máscara usa. Se calhar é um desses acéfalos negacionistas que para aí andam.

E nesta situação foi uma atitude completamente irresponsável da sua parte, nunca se devia ter mantido a multidão tantas horas à espera, era mesmo estar a pedir para as coisas correrem mal. Eu percebo, ele pretendia que as pessoas se cansassem de esperar e se fossem embora. Frederico Varandas não gosta do povo, da multidão, prefere estar sossegado no seu rooftop privado.

Poiares Maduro afirmou no seu comentário televisivo semanal que estava programado desde o início ser assim. Estava programado que a equipa saísse do estádio para o desfile no camião (sim, porque aquilo era um camião, não era um autocarro) às duas da manhã. Às duas da manhã! Isto depois do jogo ter acabado pouco depois das dez!

Se calhar tinha sido boa ideia informar previamente as pessoas disto. E até quem sabe não fazer o desfile nessa noite mas organizar um desfile posteriormente em data devidamente e previamente anunciada. Se calhar a Liga impôs que a entrega do troféu tinha de ser no estádio naquela noite. Mas não poderia o clube ter recusado esta abordagem e ter sugerido que as coisas fossem feitas de maneira diferente?

É como a receção à equipa que vai acontecer na Câmara Municipal de Lisboa ser sem a presença de adeptos. Lá estão eles novamente a fecharem-se na sua bolha. E mesmo que tenha sido imposição de Fernando Medina a receção ser feita assim eu se fosse presidente do Sporting Clube de Portugal recusaria participar numa cerimónia nesses termos, meus amigos, ou é com a presença dos adeptos ou não é!

Aproxima-se junho, mês em que teoricamente tem de acontecer uma Assembleia Geral. Eu digo teoricamente porque está nos estatutos do clube, mas já todos sabemos que Rogério Alves liga tanto aos estatutos do Sporting como os muçulmanos ligam à bíblia. Mas como o momento é favorável ele até é capaz de marcar. Agora resta saber se com ou sem partipação oral dos sócios.

E vamos ver que contas vão ser apresentadas. As últimas foram chumbadas por larga maioria. Espero que estas sigam o mesmo caminho. Porque há que separar as contas financeiras dos resultados desportivos. Não se podem misturar as coisas. E se as contas forem más pois então há que as chumbar. Varandas já fez saber por intermédio do seu veículo oficial de comunicação, a Cofina, que se pretende recandidatar. Contudo pretende evitar o cenário de eleições antecipadas que lhe tem sido proposto. Capitalizar o bom momento para se legitimar. Da parte que me toca ainda bem que não o quer fazer. Isto porque quando chegarmos a março do próximo ano o seu estado de graça já terá passado há muito.

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Comments

  1. Rui Barbosa

    E porque é que o Jardel veio para o Sporting? Primeiro foi para o Porto, porém foi recusado pois o Porto tinha acabado de receber umas massas e não as ia devolver. Isso é que era bom. O Galatasaray estava nas lonas, e não pagava aos jogadores. Havia necessidade de uma saída rápida. O treinador do Gala era Mircea Lucesco. Querem que vos faça um desenho?