RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Quinta-feira, Abril 25, 2024

De Olhos Bem Fechados

Um dos preços a pagar por se ter valores não negociáveis, é o de andar (quase) sempre chateado com qualquer coisa.

Tenho chegado a esta conclusão ao longo dos últimos três anos. Desde 2018, no âmbito do Sporting, tenho visto de tudo, tanto por parte de figuras que representam a instituição como de quem vive o Sporting na condição de adepto.

Vi quem não tenha tido força ou vontade de se sujeitar a mais anos de luta pela recuperação de um Clube que voltou a cair nas mãos de uma linhagem que o deixou à beira de um precipício e, como tal, se tenha desligado completamente.

Vi quem, por ingenuidade ou puro desinteresse, não tenha sido afetado de qualquer forma pelos acontecimentos concertados da altura, nem pelos mais variados desenvolvimentos até agora.

Vi, por vezes com surpresa, mas outras nem tanto, quem se tenha revelado mestre na arte da adaptação, dobrando a coluna conforme conveniente e conseguindo nunca tomar qualquer tipo de posição que pusesse em causa o seu nível de pureza.

E, por fim, vi alguns que se mantiveram sempre do mesmo lado dos acontecimentos. Tanto do lado da feroz oposição à anterior Direção, como do lado de quem não se consegue conformar com as injustiças e sacanices perpetradas por uma assustadoramente grande quantidade de indivíduos para com o anterior Presidente do Sporting e, continuamente, à maioria dos associados do Sporting Clube de Portugal.

Qualquer um que me conheça pessoalmente, ou que acompanhe com alguma regularidade as minhas posições online, sabe que em nenhum momento defendi algo que não defenda agora. É sobre esta não-negociação dos princípios que regem o meu Sportinguismo, e a minha maneira de encarar tudo na vida, que vou dissertar.

Desde sempre, para sempre, do mesmo lado.

Há uma luta que tem vindo a ser travada no Sporting, a qual vai muito além de uma luta de egos ou uma batalha de antipatias. O que se passa atualmente no Clube é um conflito ideológico entre visões totalmente incompatíveis para a instituição. Há ainda uma faixa de adeptos que não se revê nem no anterior presidente, nem no atual. Apesar disso, a questão de princípios que vou tratar neste artigo vai além de identificações com este ou aquele.

A meu ver, a problemática-chave é muito simples de compreender. O facto que deu origem à clivagem enorme e irreparável entre Sportinguistas não foi a saída de Bruno de Carvalho da presidência do Sporting Clube de Portugal. Foi sim, a campanha vergonhosa de desinformação (mentira, mesmo) e perseguição de que o presidente e cidadão Bruno de Carvalho foi alvo, e que levou a uma destituição ilegal e a eleições de moralidade muito dúbia para a sua substituição decretada nos mais profundos bastidores de poder em Alvalade.

Alguns dos maiores beneficiários com os acontecimentos de Alcochete

Ou seja, se o afastamento do anterior presidente se tivesse dado por vontade própria, através de eleições normais, ou até de eleições antecipadas (por qualquer razão) mas em que tivesse o direito de se candidatar caso quisesse, não estaríamos aqui a falar de cisões profundas. Haveria, certamente, uma faixa de sócios e adeptos descontentes, mas que teriam de aceitar o curso natural da democracia – coisa essa que tanta falta faz ao Sporting, aos dias de hoje.

Tendo em conta que, na realidade, o que aconteceu não foi nada que se assemelhe a qualquer tipo de cenário democrático, é natural (e bom sinal) que exista uma larga faixa e associados e apoiantes do Clube que não aceitam o atual estado das coisas. Afastou-se, com base em factos que não o eram, um presidente legítimo e, mais do que isso, perseguiu-se injustamente e com uma força inédita um cidadão que podia ser eu, ou o leitor.

Há princípios dos quais não se pode abdicar. Não se pode apelar a uma falsa paz, em pretenso benefício do Clube, quando os principais alicerces dessa paz-podre são a aceitação de perseguições bárbaras, injustiças e insultos constantes e um retrocesso enorme em várias lutas que o Sporting vinha a travar.

É impensável, e de uma escandalosa hipocrisia, pedir-se isto. Não podem ser aqueles que, direta ou indiretamente, têm sido insultados e segregados a subjugar-se perante quem põe a militância Sportinguista no mesmo patamar que umas férias em Palma de Maiorca: uma experiência relaxada e sem qualquer tipo de preocupação de maior.

Talvez em vez de se pedir aos inconformados que amansem, fosse mais produtivo juntar os pontos e analisar as ligações manhosas que o Clube tem feito desde o assalto que teve lugar em 2018, e direcionar energias nesse sentido.

Desde que esta Direção tomou posse, que vejo o Clube tomar, literalmente, rumos opostos àquilo em que acredito convictamente em todas as vertentes.

Vejo quem gere os destinos do Clube a amarrá-lo a um dos maiores cancros do futebol moderno: Jorge Mendes. Vejo uma Direção, que brada aos céus sobre o estado miserável em que os antecessores deixaram as finanças do Clube, a gastar dezenas de milhões em treinadores inexperientes e jogadores (ou percentagens deles) medíocres e muitas outras dezenas a esfumarem-se de forma opaca.

Vejo órgãos de comunicação social, que destilavam ódio em campanhas de pura desinformação, a fazer capas constantes de bajulação a atletas, treinador e dirigentes do Sporting.

Capas, capas e mais capas…

Vejo vigorarem políticas de revisionismo histórico, em que se tenta apagar e adulterar o trabalho de outros. Vejo dirigentes a mentir de forma desavergonhada na antiga televisão do Clube, agora à imagem do Jornal, tornada num veículo de propaganda barata.

Vejo o elitismo apoderar-se novamente do Clube e várias múmias que nunca fizeram nada em benefício do Clube em mais décadas de intrusão no Sporting que eu tenho de vida, a palpitar sobre isto e aquilo.

E por fim, vejo sócios que são privados de democracia, obrigados a tirar os sapatos à porta do Estádio, chamados de tudo e mais alguma coisa, mas que… cedem a conversas bacocas sobre união e à censura, com um título nacional de futebol à vista.

Costuma-se dizer que só se conhece realmente alguém vendo como age nas situações más. Nos últimos tempos, tenho visto que a anterior frase não se aplica aos sócios e adeptos do Sporting. Agora, num aparente momento bom, é que eu estou a aprender muito sobre os meus consócios.

Antes de passar para esta parte, há que reconhecer uma coisa: os adeptos do Sporting estão famintos. São muitos anos sem festejar a maior conquista do futebol nacional, tendo em muitos deles sido privados disso por sistemas manhosos implementados pelos rivais.

Contudo, não contem comigo para alinhar em certas hipocrisias. Não tenho receio de as enumerar.

Não sei se por terem medo de ficar fora da festa, de ouvir um “Então, mas tu não eras contra? Agora deixa-te estar quieto!”, se por outra razão qualquer, realmente há muito boa gente que sempre se manifestou contra a Direção a apelar à “paz” (muito ênfase nas aspas) enquanto o título de futebol se estiver a disputar.

Isto não tem grande sentido. Indiretamente, quer queiram quer não, isto é dizer que só é válido contestar caso uma modalidade do Clube esteja a perder regularmente. Significa o quê? Que se o futebol do Sporting perder o resto dos jogos, é válido outra vez contestar a Direção? Que se o futebol do Sporting na época passada tivesse ganho mais, a vossa posição era diferente?

Terão sido estas manifestações massivas apenas fruto dos maus resultados do futebol?

É importante clarificar uma coisa. A minha oposição a esta Direção não tem por base resultados desportivos, tem como base questões de honra e valores profundos aos quais os resultados desportivos de uma modalidade são completamente indiferentes.

Muitas vezes se quer passar que quem é contra a Direção, torce por derrotas do Clube. Volto a frisar, os resultados desportivos do Clube em nada afetam a minha posição em relação à Direção, quando em todas as questões de fundo (gestão, ligações, relação com os sócios) estamos em polos completamente opostos.

Há outro aspeto que é preciso realçar. Não só as pessoas se estão a conformar com esta falsa obrigação de cessar qualquer tipo de contestação perante resultados positivos, como estão a fazer de tudo para entrar numa festa da qual são, literalmente, afugentadas à pancada.

Como já foi abordado no Rugido Verde, neste texto, por muita infelicidade que traga à maioria dos sócios, qualquer sucesso da equipa de futebol masculino está completamente alheado da influência dos associados. Os adeptos são corridos de cada vez que tentam mostrar apoio.

Por irónico que seja, e que não implica que se tenha de torcer para que não aconteça, o eventual título de campeão esta época vai transformar a teoria de que os sócios só atrapalham numa verdade pouco contestável para quem a defende.

O sonho de Soares Franco com um Sporting sem sócios a atrapalhar está cada vez mais próximo de se realizar.

Percebo cada vez mais que as diferenças entre os adeptos dos três grandes são muito menos do que eu pensava. Também deste lado há uma boa fatia de pessoas que não se importa de vender parte, ou a totalidade, da alma ao Diabo – coisa que traz sempre contrapartidas insustentáveis.

Com tanta gente de olhos fechados, esta época tem-me servido como um importante abre-olhos.

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