A Mim Que…
A mim, Sportinguista de mais de meio século, ultimamente querem impingir-me um Sporting Football Club… um clube só de futebol.
A mim que… vibrei com a conquista da medalha de prata de Carlos Lopes, nos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976.
A mim que… cresci a ver o Maior de todos Mário Moniz Pereira fazer campeões. Carlos Lopes, Fernando Mamede, Aniceto Simões, Rafael Marques, Domingos e Dionísio, Ezequiel Canário e a conquista de todas as Taças dos Clubes Campeões Europeus de Corta-Mato e as inúmeras vitórias e medalhas por eles conquistadas. A mim que… fiquei acordado até às tantas em ’84 para ver a grande vitória do Lopes, mas também para ver o Mamede. Que vi a Conceição Alves, a Adilia Silvério, o José Carvalho, o Obikwelu, o Rui Silva, a Naide, o Nelson Évora, a Patrícia Mamona e a Taça dos Campeões de Atletismo em Pista. Que vi os inúmeros títulos e recordes desses campeões todos.
A mim que… despertei para o Sporting a ouvir relatos de hóquei em patins.
A mim que… vi, a preto e branco, a saga dos cinco magníficos que conquistaram a primeira Taça dos Campeões Europeus em 1977 pela mão do mestre Torcato.
A mim que… cresci com o Ramalhete, Rendeiro, Sobrinho, Livramento e Chana. Que vi Fernandes, Fernando Pereira, José Carlos, Picas e Piruças. Que vi Carlos Alves, José Rosado, Vítor Rosado, Salema e Carvalho.
Que vi aparecer o Trindade, o Realista, o Luís Nunes, o Chambel e o Serginho. Que vi os meninos Paulo Alves, o Paulo Almeida, o Vítor Fortunato, o Pedro Alves e o Pedro Teles serem campeões pelas mãos do mago Livramento. Que tenho o prazer de ver o Girão e o Romero… querem impingir-me um clube só de futebol.
A mim que… levava uns calduços da minha mãe porque em 1978 ficava até à meia noite à espera do resumo da etapa do dia da Volta a França porque estava lá o Joaquim Agostinho. Não corria pelo Sporting, mas para mim era como se corresse.
A mim que… estava em Alvalade quando apareceu o Agostinho com o Marco Chagas a dar uma volta à pista no intervalo de um jogo de futebol e apercebemo-nos de que o grande campeão e o ciclismo iam voltar ao clube.
A mim que chorei a morte do Agostinho… querem impingir-me um clube só de futebol.
A mim que… vi Augusto Baganha, Rui Pinheiro, Carlos Lisboa, Tomané, Manuel Sobreiro e Israel serem os últimos campeões nacionais de basquetebol pelo Sporting.
A mim que… Vi jogar o campioníssimo Manuel Brito, o Franco, o Miranda, o Fernando Jorge, o Jorge Rodrigues, o Carlos Silva, o João Gonçalves e os irmãos Vasconcelos. Que vi o José Luzia, o Carlos Ferreira e o Ricardo Andorinho. Que vi o Pedro Portela, o Frankis, o Ruesga, o Valdes, o Nikcevic e que quero ver o Manuel Gaspar e o Salvador Salvador… querem impingir-me um clube só de futebol.
A mim que… vi o José Alvoeiro, a Anabela Fernandes, o Pedro Miguel, o João Portela, o Chen, o Nuno Dias e o Aruna e um sem fim de títulos de campeões de ténis de mesa.
A mim que… vi o Miguel Maia ser campeão pelo Sporting com duas décadas de intervalo. Primeiro com o Vitó, o Wagner e o Florov e depois com o Angel e o Luke Smith.
A mim que vi o Ricardo Ferraz “fabricar” campeões de boxe. O Paquito, o Vítor Carvalho… o Fernando Fernandes no kickboxing… querem impingir-me um clube só de futebol.
A mim que… sou do tempo em que o futsal se chamava futebol de salão, imaginem. Eu e muitos, que assistimos desde o início ao crescimento daquela que é uma das modalidades mais tituladas do clube. Onde atingimos patamares de excelência e estamos há muitos anos no top mundial.
Que vi aparecer o Seninho e o Pireza. O Zé Belo e o Lhé . O João Benedito e o Gonçalo Alves. O Zezito e o Bibi. O Evandro e o Café. O João Matos, o Divanei, o Alex, o Deo, o Merlim e o Cardinal. O Nuno Dias… querem impingir-me um clube só de futebol.
Que me desculpem todos os atletas e treinadores que não mencionei. Não é por isso que não estão no meu coração.
A mim que… vi desaparecer o Pavilhão de Alvalade. Que vi os atletas do Sporting conquistarem vitórias épicas na mítica Nave de Alvalade. Que vi os nossos atletas sacrificados durante década e meia a andar de casa às costas porque não existia casa para as modalidades.
Que vi desaparecer a Nave de Alvalade junto com o estádio que levou também a pista de atletismo.
Foi preciso aparecer o único presidente com tomates nos últimos 25 anos para voltar a dar uma casa às modalidades. O que é actualmente o maior bastião do Sportinguismo. O magnifico Pavilhão com o nome do não menos magnífico presidente João Rocha e mandado construir pelo enorme Bruno de Carvalho.
Querem impingir-me um clube só de futebol. A mim que… é a modalidade de que gosto mais – o futebol. É que eu também tive grandes ídolos no futebol, e foi a modalidade a que assisti mais vezes ao vivo.
Cresci com o Damas. Com o Laranjeira e o Fraguito. O Manuel Fernandes, o Keita e o Jordão. Vi o Oliveira o Luisinho e o Douglas. Vi o Figo, o Balakov e o Cherbakov. Vi o Liedson e o Slimani. Vi muitos e bons futebolistas que admirei e adorei ver com a nossa camisola vestida.
Vou ao estádio desde 1976. Já passei o meio século de vida e tenho memória do Sporting ser campeão nacional de futebol 4 vezes. Eu não sou do Sporting só pelo futebol. Sou do Sporting porque o Sporting é grande em todas as modalidades.
É o ecletismo do Sporting que lhe traz a grandeza e o encanto que nele vejo e que desde criança me atraiu. Foi o facto de ser um clube de campeões e de valores e virtudes que me manteve agarrado durante estes cinquenta anos.
Portanto… não queiram impingir-me um clube só de futebol.
Texto escrito em parceria com www.brunodecarvalho.com
Subscrevo na íntegra este excelente texto, muito bem conseguido. Bem haja ao autor.